A comunidade indígena do povo Akwẽ Xerente, de Tocantínia recebeu, neste mês de Maio, oficinas inovadoras de produção audiovisual utilizando celulares. A iniciativa foi organizada pela Associação dos Brigadistas Akwẽ Xerente (Abix) como parte do projeto Cine Xerente: Olhares Indígenas na Grande Tela”, via patrocínio da Lei Paulo Gustavo (LPG) da Secretaria Estadual de Cultura do Tocantins.
A primeira etapa aconteceu nos dias 18 e 19 de Maio e a segunda no sábado último, 25. Cerca de 20 pessoas da comunidade receberam capacitação de técnicas de produção de vídeo com o celular. De acordo com a presidente da Associação, Ana Shelley Xerente, o objetivo é de empoderar jovens e adultos da comunidade com habilidades essenciais para narrar suas próprias histórias e fortalecer sua presença nas redes sociais. “A intenção é dar espaço para que as vozes dos nossos parentes, dos nossos ancestrais, possam contar a nossa própria história”, alegou a presidente.
A metodologia da primeira etapa de oficina incluiu roda de conversa sobre Comunicação Vinculativa e Não Violenta com a produtora executiva e Mestre em Comunicação Andrea Lopes e também de técnicas para produção de vídeos sobre captação de imagem e som, edição de vídeos, criação de roteiros e estratégias de divulgação nas redes sociais com o produtor audiovisual Ramon Dias.
Moradora da Aldeia Salto, a professora Carmelita Krtidi Xerente declarou que a oficina marca uma nova etapa de oportunidades para os moradores locais. “Com esse trabalho a gente vai ter novas oportunidades de divulgar o nosso trabalho. Estou amando aprender, criar um vídeo para movimentar as nossas redes sociais e divulgar as riquezas do nosso povo”, disse.
Já na segunda etapa a mestre em cinema indígena Mariah Soares apresentou referências de filmes e uma linha do tempo de da produção cinematográfica tendo indígenas na frente e atrás das câmeras. Na parte práticas os participantes aprenderam a editar e finalizar os vídeos com celulares. “Essa oficina veio na hora certa para gente. A gente não tinha esse costume de fazer vídeos, postar nas redes sociais. E é muito bom mostrar para o mundo o nosso trabalho através desses vídeos“, afirmou o brigadista João Wellington da Silva Xerente.
De acordo com o instrutor Ramon, a oficina de produção audiovisual é uma iniciativa pioneira que busca proporcionar aos participantes conhecimentos práticos sobre filmagem, edição e publicação de vídeos utilizando apenas celulares. “Está sendo uma experiência incrível de troca de saberes onde eu estou aprendendo muito mais que ensinando. Estimo que todas essas dicas possam ser bem úteis para que eles possam utilizar a tecnologia para preservar e divulgar suas tradições, costumes e desafios”, declarou.
Oficina
A produtora cultural Andrea Lopes, responsável pela produção executiva do projeto, ressalta que aprender a usar o celular para produzir vídeos é essencial para que os projetos dos próprios Xerente possam ganhar mais visibilidade na voz deles. “A Abix tem projetos incríveis, seja do trabalho da brigada no combate e prevenção do fogo, de proteção do meio ambiente ou da agroecologia; mas que ainda necessita de mais projeção para que outras pessoas também de fora da comunidade possam conhecê-los e também à grandiosidade desse projeto”, afirma.
Projeto
A Oficina integra o projeto Cine Xerente: Olhares Indígenas na Grande Tela” que vai levar mostra de cinema aos povos Akwẽ Xerente, de Tocantínia. A mostra acontecerá no mês de Junho, nas aldeias Kripe (Salto), Sakrepra (Funil) e Kâkakarê (Cahoeirinha), acolhendo ainda os povos das aldeias vizinhas Nrõzawi (Porteira), Kâwrakurerê (Brejo Cumprido), Kakumhu (Riozinho), Ktêkaká (Rio do Sono), Brupre e Krite ( Recanto).
Todos os filmes exibidos incluem temática indígena, produzidos por produtores indígenas e não indígenas, que expressam e celebram aspectos da diversa cultura por meio da grande tela. A proposta é amplificar a voz das comunidades, oferecendo um espaço de compartilhamento de suas histórias, visões de mundo e desafios, inspirando diálogo, entendimento mútuo e respeito a sua cultura, através da Sétima Arte.
Além de produções audiovisuais renomadas do Tocantins e pelo País afora, a mostra vai contar ainda com vídeos produzidos pelos próprios alunos do Projeto, criados e roteirizados durante a oficina de produção audiovisual. A cineasta Mariah Soares aponta que, ao longo das últimas décadas, a produção audiovisual indígena vem ganhando espaço com obras que abordam
questões relevantes para a articulação política e cultural dos povos originários, num produto híbrido que mistura a estética indígena e não indígena e a comunicação para dentro e para fora da comunidade. “É um projeto que visa promover a valorização e preservação da cultura indígena, proporcionando um espaço de expressão e visibilidade para as comunidades indígenas”, declara.
Patrocínio
O projeto Cine Xerente: Olhares Indígenas na Grande Tela é uma realização da Abix com patrocínio do edital 023/ Audiovisual Tocantins, da Lei Paulo Gustavo, via Secretaria Estadual de Cultura do Tocantins.
Sobre a ABIX
A Abix é uma associação de Brigadistas indígenas da Terra Indígena Xerente e Funil, composta atualmente por 74 brigadistas, homens e mulheres do povo Xerente. A entidade foi criada em 2014 e atua desde então em parceria com o IBAMA, a Funai e outras entidades estaduais e municipais. Desde sua criação a ABIX tem empreendido esforços para o combate ostensivo das queimadas que são muito frequentes na região. Neste sentido, os brigadistas indígenas xerente são referência nacional, pois adaptaram as práticas tradicionais de manejo e uso do fogo com educação ambiental e preservação da cultura e das tradições do povo.
Ficha técnica:
– Direção-geral: Pedro Paulo Gomes da Silva Xerente e Ana Shelley Xerente
– Direção Técnica: Mariah Soares
– Produção Executiva: Andréa Lopes
– Oficineiros (as): Mariah Soares, Andréa Lopes e Ramon Dias
– Curadoria filmes da Mostra: Mariah Soares
– Assessoria de Imprensa: Cinthia Abreu/ Companhia A Barraca
– Design Gráfico: Cristiano Viana
– Prestação de Contas: Andréa Lopes e Cinthia Abreu
– Assistentes de Produção: Ana Cláudia Batista Cardoso, Cris Lopes Viana e Fernanda Veloso
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