A Organização Mundial da Saúde passou a definir em 2019 a síndrome de burnout como uma condição associada ao emprego.
A síndrome é descrita como “resultante de um estresse crônico no trabalho que não foi administrado com êxito”.
Só no Brasil, cerca de 72% dos profissionais que estão no mercado de trabalho sofrem com alguma condição associada ao estresse agudo.
Estima-se que 32% estejam sofrendo com o burnout, e, destes, mais de 90% continuam trabalhando, mesmo com todos os sintomas da síndrome.
Os dados acima são referentes a pesquisa realizada pela Isma Brasil, representante da International Stress Management Association, e revelam um cenário bastante comum.
Mas os profissionais deveriam ter medo de falar sobre a sua condição para não perder o emprego?
Em ambientes cada vez mais competitivos, os profissionais – principalmente os mais jovens – tendem a ultrapassar seus limites e não reconhecem que precisam de ajuda.
E as consequências para a saúde do profissional e da empresa são diversas. Um profissional estressado, por exemplo, tende a cometer erros mais graves do que aquele que está em seu equilíbrio emocional.
Para Rodrigo Leite, responsável pelos ambulatórios do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas em São Paulo, o reconhecimento do esgotamento profissional como um problema que precisa ser discutido por parte da OMS deve transformar a cultura das empresas e dos profissionais.
“Há 12 anos, tentei fazer uma pós-graduação em burnout, mas não pude porque a psiquiatria ainda não aceitava esses diagnósticos. Isso mudou”, explica.
Por que o burnout tem se tornado realidade na rotina de tantos millennials
Para a psicóloga Márcia Merquior, os profissionais jovens estão enfrentando muitos desafios no mercado de trabalho e sentem a necessidade de provar rapidamente do que são capazes.
“Estão sempre correndo contra o tempo, sob pressão por resultados cada vez melhores, com a sensação de que o trabalho nunca acabou – e estar em dívida gera ansiedade, depressão e sentimento de incapacidade, impotência e insuficiência”, explica a especialista.
Em geral, esses profissionais são mais imediatistas, competitivos, impulsivos e acham que não podem errar nunca.
“O desafio deles é extremamente complexo. Há uma pretensão de controlar o incontrolável e isso contribui para a ansiedade, que acaba levando ao estresse”, diz a psicóloga.
Eu posso relatar a minha condição aos meus gestores ou ao RH? Quem pode me ajudar nesse processo?
Se você acha que está enfrentando uma crise de estresse aguda, é preciso procurar ajuda.
Cada empresa tem um perfil de gestão, mas é importante ter uma equipe de recursos humanos preocupada e disponível para que o funcionário se sinta acolhido e valorizado.
“Lideranças hostis e abusivas são consideradas uma das principais circunstâncias ‘estressoras’ e causadoras da síndrome de burnout. É importante dar o alerta, e pedir ajuda não é sinal de fraqueza, apenas de humanidade”, explica Merquior.
O mercado profissional precisa discutir o burnout
Tendo em vista as altas taxas de estresse que acometem os profissionais, é urgente que o mercado profissional discuta o assunto.
No entanto, quando o mercado está estressado, passando por uma crise profunda e não vê luz no fim do túnel, fica mais difícil atingir as boas práticas de liderança e acolhimento.
“O próprio mercado entra em síndrome de burnout, perpetuando as tensões e transmitindo o clima de que não há saída”, avalia a psicóloga.
Fonte: Huffpost Brasil