Pode comemorar: a sua conexão está prestes a ficar mais rápida e mais segura. Isso porque, após uma década, um pequeno aspecto da internet acaba de mudar, e ele garante melhor criptografia e mais velocidade ao abrir páginas.
A mudança é bem técnica e acontece na chamada TLS, sigla para Transport Layer Security (na tradução literal, algo como “Segurança na Camada de Transporte”). Esse sistema é o que torna segura a comunicação entre você e servidores de sites na internet, um ponto vital em páginas de login e de transações financeiras.
Atualmente, inclusive, as companhias de navegadores forçam todos os sites a terem páginas seguras, não apenas as com conteúdo sensível.
“Imagina que você vai mandar uma carta para mim e não quer que o agente do correio leia a carta. Então, você embrulha em uma caixa com cadeado, e a única coisa que o funcionário consegue fazer é me entregar. É isso que o TLS faz na internet”, explicou Flávio Mello, professor de Engenharia Eletrônica e Computação da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Esse protocolo é, na prática, uma das diversas comunicações que ocorrem sem que nós saibamos quando estamos navegando online. Enquanto achamos que estamos só abrindo sites, há uma série de operações em plano de fundo que dão segurança e mais – o TLS, por sinal, é um dos elementos que garante o “S” do HTTPS de páginas seguras da internet no endereço lá em cima do seu navegador.
As conexões ficarão realmente mais rápidas?
Na prática, o que mudará com o surgimento do TLS 1.3 na comparação com a versão anterior é que o tempo do transporte dessa operação vai diminuir sensivelmente. Atualmente, esse transporte tem de fazer três “viagens” de ida e volta entre o usuário e a página que ele está acessando. Tudo isso pode ser reduzido a apenas uma viagem – uma queda de 66% no tempo, segundo Flávio Mello.
“Com a chegada do TLS 1.3, uma dessas ‘ida e volta’ foi suprimida. O mecanismo de segurança continua o mesmo, mas ele foi otimizado. Ainda tem a possibilidade de suprimir mais um, que é quando você acessa um site novamente. Ele guarda na memória que a comunicação entre você e o servidor já ocorreu antes, então mais um transporte seria suprimido”, explica.
O especialista disse que não é possível precisar o quão mais rápidas as conexões vão ficar para os usuários, pois isso depende muito da banda de internet que cada um utiliza. Contudo, ele afirma que as páginas ficam “aceleradas de fato” e que o usuário poderá sentir a diferença, já que dois terços da comunicação pode ser suprimida.
A melhor parte é que você não precisará fazer nada para contar com a novidade
Quem tem que lidar com isso são os fabricantes de hardware e de programas para dar suporte ao novo protocolo – os navegadores Chrome e Mozilla, por exemplo, já suportam o TLS 1.3. O especialista consultado pelo UOL Tecnologia estima que 70% das pessoas já podem usufruir do novo protocolo.
“Essas normas demoraram muito tempo para serem implementadas. O TLS 1.3 está há quatro anos em finalização, então os fabricantes já começam a fazer equipamentos compatíveis com isso antes dele sair oficialmente. Praticamente todos os equipamentos de hoje já devem ter suporte”, aponta o professor da UFRJ.
O novo TLS ainda vai deixar a navegação mais segura, com conteúdos mais recentes de criptografia online.
Por que demorou tanto?
A última mudança do TLS foi feita em agosto de 2008. Ou seja: foram exatamente dez anos até que a nova atualização saísse. Por que tanta demora? Simples: o processo da modificação não é tão fácil assim – um erro e toda a comunicação da internet pode vir abaixo.
Os responsáveis por essa atualização são a IETF (Internet Engineering Task Force, ou algo como Força Tarefa de Engenharia da Internet). O TLS começou a ser formulado lá em 1994, quando a Netscape queria uma maneira segura para as pessoas digitarem cartão de crédito online. O processo é demorado por ser bem democrático, segundo Mello.
“Você lança primeiro um chamado para comentários e diz que quer fazer uma mudança no protocolo. Depois, qualquer pessoa no mundo pode mandar proposta. Aí analisam em um comitê a proposta para levantar os requisitos para a mudança. Depois ainda tem a tréplica e só então buscam uma forma de implementar a mudança”, explica.
Após todo o processo, testes são realizados em laboratórios, em uma rede segura para que o código não acabe se espalhando pela rede e possa dar problemas para todo o mundo. Só então, depois de todos os passos tomados, a atualização se espalha para os usuários.
Fonte: Uol