O botão da soneca no despertador é o melhor amigo do nosso cansaço. Você é do tipo de pessoa que aproveita os 10 minutinhos a mais, principalmente nos finais de semana? Quem nunca! Mas saiba que podem haver desvantagens naquilo que parece tão bom.

Esse novo “distúrbio” foi batizado de jet lag social. Ele tem sido associado com o ganho de peso, desenvolvimento de doenças crônicas e redução da performance cerebral. O criador do termo foi Till Roenneberg, professor de cronobiologia na Universidade Ludwig-Maximilian, em Monique. O fenômeno acontece quando acordamos mais tarde do que o usual aos finais de semana ou não temos períodos de descanso regulares. Comparado ao jet lag tradicional, causado em pessoas que viajam pelos fusos horários, ele é uma consequência de forçarmos o nosso corpo a se adaptar a rotinas diferentes: uma de segunda à sexta-feira e outra no sábado e no domingo. Dessa forma, o nosso relógio biológico sofre intervenções.

O estudo e Roenneberg estima que dois terços da população enfrenta, no mínimo, uma hora de jet lag social, por semana, sendo que o resto dos indivíduos sofrem com o equivalente a 120 minutos ou mais. Ou seja, o mesmo que trocar de fuso horário todas as semanas.

As preferências de sono são ditadas pelo gene de cada um. Os que estão preferem dormir e acordar tarde nos finais de semana enfrentam mais jet lag social, do que os que despertam mais cedo. Isso, porque há maior dificuldade para que o corpo consiga descansar o suficiente e se acostumar ao cotidiano, fazendo com que a pessoa se sinta mais cansada durante a semana. Mas, mesmo que você costume a ir para cama antes das dez da noite, quando você aproveita uma noite com amigos, o distúrbio começa a aparecer. Sendo assim, problemas como a insônia dão as caras, simplesmente porque o corpo precisa se adaptar àquele “novo fuso horário”.

E quanto menos a pessoa dorme ou tem dificuldades para pegar no sono, algumas outras adversidades podem surgir, dentre elas diabetes tipo 2, doenças cardíacas e depressão. Em decorrência disso, a Organização Mundial da Saúde e os Centros dos EUA para Controle e Prevenção de Doenças já declararam que o jet lag social é uma epidemia.

Além disso, a Rand Corporation, empresa de pesquisas, calculou quanto a falta de qualidade de sono afeta nossas performances no trabalho. Os resultados estimam que o prejuízo global para as empresas é de 50 bilhões de libras, por ano, o que equivale a mais de 247 bilhões de reais. Pelo fato dos problemas para dormir levarem à queda da imunidade e problemas psicológicos, o estudo considerou as ausências trabalho por doenças, queda na produtividade, diminuição da atenção, falta de coordenação, redução no raciocínio e estabilidade emocional.

Uma outra pesquisa realizada por estudantes da Universidade Monash, em Melbourne, na Austrália, concluiu que as pessoas que têm horários de sono irregulares também têm maior dificuldade de ter bons períodos de descanso.

O jornal do Reino Unido, The Guardian, explica que nossas células são como um relógio molecular, que rege o tempo de quase todos os processos fisiológicos do nosso corpo. Isso  inclui secreção de hormônios, a atividade das nossas células imunes, temperatura corpórea e até o humor. Estes fatores são regulados, em grande parte, enquanto dormimos, o que também indica que pouco sono leva à alteração da saúde.

Trabalhando em conjunto, as nossas “células relógio” seguem programações rígidas, que são conectadas por sinais emitidos ao cérebro, quando estamos acordados ou dormindo. Quando os períodos de olhos fechados são irregulares, essas rotinas dos nossos órgãos sofrem impactos negativos e ficam dessincronizadas. Outro fator que também levam a essa “bagunça interna” é a exposição desigual à luz entre os dias.

“Quase todos os hormônios do nosso corpo seguem ritmo circadiano (relativo à duração de 24 horas) e, quando você muda o horário de sono, todo o sistema não vai funcionar tão eficientemente quanto deveria”, afirma Sierra Forbuch, pesquisadora assistente da Colégio de Medicina da Universidade do Arizona. Um estudo realizado pela mesma instituição avaliou pouco menos de mil indivíduos adultos, e concluiu que a cada hora de jet lag social que a pessoa enfrenta, resulta em um aumento de 11% das chances de desenvolver doenças cardiovasculares e afeta negativamente o humor, a sonolência e a fadiga. Ou seja, se você sofre de “apenas” uma hora por semana, os malefícios se multiplicam no final do mês.

Quando falamos da aparência física, um estudo do Instituto Conselho de Pesquisa de Harwell, na Inglaterra, prova que os adultos que sofrem mais horas de jet lag social têm maior chance de estarem acima do peso, se tornarem obesos ou desenvolverem síndromes metabólicas, como a diabates tipo 2.  “Nós descobrimos que apenas uma hora pode levar ao aumento de dois quilos, em média, para pessoas com 39 anos”, afirma Michael Parsons, pesquisador que conduziu as avaliações, ao The Guardian. Ele também considera que, hoje em dia, os indivíduos comem mais do que necessitam e se exercitam pouco.

Outro fator que aumenta o jet lag social é o horário de verão. Porém, Parsons vê a flexibilização dos horários de trabalho como solução para evitar as mudanças bruscas na nossa rotina interna. Tal atitude seria benéfica para funcionários e empregadores, uma vez que a produtividade cresce e todos sentem-se mais dispostos a colocar a mão na massa.

Portanto, para recuperar as horas perdidas, sem ficar no prejuízo, a saída é tentar manter um padrão de tempo de descanso e ir aumentando o período de sono devagar, até que ele se estabilize, seja apropriado para a sua saúde, encaixe-se na rotina social e torne-se um hábito.