Não é de hoje o sucesso dos brechós. O hábito de garimpar peças virou hábito entre as gerações mais jovens e conquistou muitos adeptos nos últimos anos. Pautas como consumo consciente, sustentabilidade e economia circular potencializaram a fama do segmento. No entanto, um outro fator também foi decisivo para a ascensão: a pandemia. Para quem ainda não desenvolveu o costume de comprar roupas usadas, muitas são as dúvidas. Pensando nisso, a coluna separou dicas de como encontrar boas peças e se render, de uma vez por todas, aos itens de segunda mão.

Como selecionar peças?

Para entender os segredos da arte de garimpar peças, a coluna entrevistou duas clientes assíduas: a influenciadora Gabriella Buzzi e a modelo Manuela Gomes. As duas, vale destacar, são “brechozeiras” de carteirinha. A paixão é tamanha que Gabriella fundou o seu próprio negócio: o Buzziganga.

Para realizar compras certeiras, uma indicação é listar os itens desejados. Afinal de contas, brechós não deixam de ser uma maneira de consumo. Este é, justamente, um dos erros mais comuns entre os clientes: tentar compensar com a quantidade. “Eu busco, ao máximo, me ater à listinha para que meu consumo seja o mais consciente possível. Mas claro que, se eu achar algo maravilhoso, fora do que imaginei, eu levo”, conta Gabriella.

 

Para realizar compras certeiras, uma indicação é listar os itens desejados. Afinal de contas, brechós não deixam de ser uma maneira de consumo. Este é, justamente, um dos erros mais comuns entre os clientes: tentar compensar com a quantidade. “Eu busco, ao máximo, me ater à listinha para que meu consumo seja o mais consciente possível. Mas claro que, se eu achar algo maravilhoso, fora do que imaginei, eu levo”, conta Gabriella.

 

Para ela, é necessário ter em mente quais são as prioridades para não se arrepender depois. “Se o foco é adquirir uma roupa mais duradoura, não deixe de olhar a composição e dê preferência para tecidos naturais. Outro ponto importante: tenha paciência. Brechós sempre têm aquele achadinho para quem vai na calma. Se for atrás de vintage, procure sites de estudo de etiqueta para não cair em armadilhas”, orienta.

Apesar de trabalhar com diversas marcas, Manuela confessa que nunca foi adepta de tendências. Desde que passou a comprar de forma mais intencional em brechós, há mais ou menos quatro anos, sentiu que o estilo pessoal foi se tornando mais verdadeiro. Na hora de procurar roupas, ela aconselha ficar de olho nas numerações, especialmente on-line.

Para nortear as compras, que tal delimitar uma paleta de cores ou focar em algum visual específico? Esses filtros podem facilitar a busca. “Gosto também de colocar uma boa música e olhar tudo com calma, bem atenta aos detalhes. Às vezes, é um pedacinho que você avista e encontra uma peça maravilhosa escondida”, destaca.

Influência geracional

Os bazares organizados por igrejas foram o espaço onde Gabi Lobo teve o primeiro contato com itens de segunda mão. Fascinada por artigos vintage, a figurinista conta que recorria ao guarda-roupa dos avós para garimpar peças antigas, em especial itens dos anos 1980, sua década preferida na moda.

O hobby ganhou novo status quando resolveu montar o seu próprio brechó, em 2016. Batizado de Global Street Fashion, o empreendimento tinha como assinatura a curadoria minuciosa. Na época, poucos eram os espaços em Brasília que investiam no second hand com uma pegada moderna.

“Unindo a minha paixão por conhecer novos lugares com o trabalho, comecei a viajar para a América Latina e para Europa a fim de garimpar itens diferentes. Toda a experiência foi muito legal, porque eu fazia um tratamento nas peças: lavava, ajustava e costurava, caso fosse necessário realizar algum reparo”, relembra.

Atualmente residindo em Londres, na Inglaterra, Gabi observa que o público britânico tem o hábito de comprar com frequência em lojas especializadas nos itens usados. Para ela, este é justamente o segredo de estilo da geração Z: mesclar visuais atuais com referências de outras eras.

 

“Acredito que vai deixar de ser uma tendência e se tornar algo cada vez mais comum, como quando você compra algo no shopping. Quando cheguei aqui, percebi que as pessoas não compravam coisas novas para presentear no Natal, por exemplo. Elas investem em artigos de segunda mão mesmo. Tenho muito orgulho de todos os brechós abrindo no Brasil, principalmente no ambiente on-line. Nós precisamos apoiar muito essa ideia”, reforça.

 

Nova forma de consumo

Ao contrário do que apontavam as previsões, pessoas que não tiveram as suas finanças prejudicadas durante a pandemia continuaram consumindo ativamente. O que mudou, no entanto, foram as fontes. Os empreendimentos locais ganharam destaque, e muitos consumidores priorizaram esses estabelecimentos pela primeira vez. Tal mudança também respingou na moda. Já aquecido pelas pautas em voga, o mercado de revendas ganhou o título de “descolado”. Inegavelmente, as novas gerações corroboraram a ressignificação.

No espaço digital, os brechós se tornaram fenômeno. Além do capricho com o design das redes sociais e a interação próxima com os seguidores, a minuciosidade na seleção das peças faz total diferença na experiência de compra. Assim como acontece com as marcas consolidadas, nas quais o cliente se conecta por afinidades, os empreendimentos têm atraído o público pela definição de uma estética — seja pelas características de uma década, como os anos 2000, seja por modelagens de preferência, como os shapes oversized.

A demanda está diretamente ligada ao comportamento do consumidor. Nos últimos anos, os amantes de moda têm buscado, principalmente, três fatores na hora de adquirir um produto: conexão, propósito e diferenciação. Em tempos em que a maioria se veste de tendências da cabeça aos pés, ter peças garimpadas contribui para imprimir uma imagem pessoal mais autêntica.

Alexandre Crivellaro, diretor de inteligência de mercado da ABComm, aponta que as grandes etiquetas vêm buscando se aliar às empresas especializadas em itens de segunda mão de maneira estratégica. A C&A fez parceria com o Enjoei, uma das pioneiras no nicho de revenda; a Renner fez investimentos e projetos importantes no Repassa; a Arezzo comprou 75% do Troc; e, por sua vez, o Grupo Iguatemi adquiriu uma fatia do Etiqueta Única, site focado em artigos de luxo.

Para o especialista, esse processo acelera a entrada dessas marcas em uma economia circular. “Estima-se que a soma das vendas do segmento tenha sido entre R$ 1,1 bilhão e R$ 1,3 bilhão em 2021, com alta concentração em poucos sites. Ou seja, esses quatro principais players podem representar, aproximadamente, de 80% a 85% de todas as vendas digitais”, analisa.

 

reportagem: Metrópoles