O título vem do nome real do rapper, Montero Lamar Hill. Na primeira faixa, também chamada “Montero”, ele canta sem rodeios sobre sua homossexualidade. No clipe, ele compra briga com a igreja e até com a Nike. Há afronta e bom humor – mas, musicalmente, a coisa é séria.
Talvez a Lorde de 16 anos, toda de preto, cantando o pop eletrônico minimalista de “Royals”, não entendesse a Lorde de 24, de saia amarela esvoaçante, exaltando a natureza com violões e percussão em “Solar power”. Mas a fase “jovem mística” chegou.
A virada orgânica foi movida por um “detox” digital – ela largou as redes sociais e o celular. Livre, foi curtir a praia e se apegou ao folk, à psicodelia dos anos 60 e 90 e ao “pop praiano da virada do século” (nas palavras dela), em especial da australiana Natalie Imbruglia, do hit “Torn”.
Enquanto fãs caçavam notícia dela, Lorde ia para o mato caçar cigarras e gravar o canto dos bichos. Depois, foi atrás de retomar a parceria com o produtor Jack Antonoff. A ideia era fazer seu “disco do ácido”, mas no fim pegou bem leve na psicodelia e fez só o “da maconha”.
O movimento “paz e amor” é ousado para uma das artistas que ajudou a dar a cara soturna da música pop nos últimos anos.
A capa de ‘Happier than ever’, de Billie Eilish — Foto: Divulgação
O álbum mais esperado do pop em 2021 cumpre o desafio que botaram nas costas da Billie Eilish de ser a voz mais instigante dessa geração. Não sem drama. A ex-garota comum volta menos zoeira e mais adulta, mas ainda mordaz, movida pela força do ódio.
O disco é mais sério do que a bombástica estreia “When We All Fall Asleep, Where Do We Go?” (2019). Se antes ela revirava os olhos com a vida de adolescente e inventava histórias de terror, agora ela disseca os dramas de relações abusivas no trabalho e no amor.
A dupla com o irmão Finneas, que injetou criatividade e frescor no pop com música eletrônica produzida no quarto, segue afiada. Eles seguem expandindo os horizontes, mais confiantes, e vão do techno (“Oxytocin”) à bossa nova (título autoexplicativo “Billie bossa nova”).
O álbum tem 16 faixas que confirmam de vários jeitos seu talento. Pode não ter tantos hits quanto o anterior – afinal, quando ela vira uma estrela, quebra parte do seu encanto de adolescente “gente como a gente”. Mas até ao falar disso ela é honesta.
‘When You See Yourself’, Kings of Leon
A capa do álbum ‘When you see yourself’, do Kings of Leon — Foto: Divulgação
Pronto desde o fim de 2019, “When You See Yourself” é mais um álbum de rock de estádio lançado em uma era em que não há rock de estádio, por razões pandêmicas. Mas diferentemente do som festivo e descomplicado dos Foo Fighters, o Kings of Leon complica o som e as letras. E isso faz bem ao som deles.
O rock de FM direto e com cantadas baratas, ouvido no bom álbum anterior de 2016, dá lugar a um rock épico cheio de reflexões sobre a passagem do tempo. É assim no refrão colante (daqueles que poucos roqueiros em atividade sabem fazer) de “Time in Disguise”.
As canções não são mais sempre ancoradas na voz afinada e afiada de Caleb Followill. As letras vão mais além de sexo “pegando fogo” ou outra pegação qualquer.
A capa de ‘Equals’, álbum de Ed Sheeran — Foto: Divulgação
O novo álbum de Ed Sheeran é tudo o que o fã espera e tudo que o detrator do ruivinho não aguenta mais. “=” (ou “Equals”) é formado por pop, folk, rap e letras açucaradas ou autobiográficas.
Desta vez, há também um “novo” estilo: o pop de spinning, um som perfeito para academias, corridinhas no parque ou playlists de quem ama o Alok. A vida pessoal também tem novidades que inspiram as novas músicas. Em 2019, o cantor inglês de 30 anos anunciou uma pausa de 18 meses “para fazer outro álbum e ficar com os gatos”.
Durante a folga, acabou se tornando pai pela primeira vez, assunto que aparece diretamente em pelo menos duas letras.
Em “Equals”, Sheeran continua cantando sobre a dificuldade de conciliar uma relação estável com a vida noturna. Também segue falando de amor de forma simples e fofa, com baladas que vão ser trilha de casais pelos próximos meses, como já aconteceu com “Perfect”, “Thinking out loud” e tantas outras.