O acesso ao emprego nem sempre é lembrado nos debates sobre direitos de
transexuais e travestis, mas a falta de oportunidades para essas pessoas ainda
é um grande problema. Essa situação foi identificada em atendimento nos pontos
de prostituição em Palmas, realizado pela Defensoria Pública do Estado do
Tocantins (DPE-TO), por meio do Núcleo Aplicado de Defesa das Minorias e Ações
Coletivas (NUAmac Palmas), em parceria com a Associação de Transexuais e
Travestis (Atrato) e a Prefeitura de Palmas.

“Eu sempre fui um ‘menino afeminado’. Por causa disso os meus pais nunca me
aceitaram e me expulsaram de casa ainda criança. Segui a minha vida batalhando
em busca de um futuro melhor, fui feirante, técnico em parques de diversão,
assistente administrativo, vendedor no shopping, mas quanto mais eu me
aproximava da minha essência, mais dificuldade eu tinha de arrumar emprego.
Hoje, o máximo que eu consigo são algumas faxinas como diarista e bicos em
Salão de Beleza, mas mesmo assim as pessoas não me querem dentro de casa, por
isso resolvi me prostituir”, explica a trans que adotou o nome de Juliana
Vendaval.

Há três anos, o principal meio de sustento de Juliana é a prostituição nas
ruas, a “pista”. “Quando eu luto contra quem eu sou, fico cada vez mais
infeliz. Já tentei me matar várias vezes, até que eu percebi que Deus me quer
viva, pois se foi ele que me deu a vida é só ele para tirar”, disse Juliana,
emocionada.

Prostituição
A história de Juliana está refletida em dados da Atrato, que mostram Palmas,
atualmente, com cerca de 30 travestis e transexuais, dos quais 90% escolheram
a prostituição como forma de sobrevivência por falta de oportunidade no
mercado de trabalho.  “O mercado de trabalho tenta nos apagar. Na maioria das
vezes, as empresas não querem saber o que você tem a oferecer, por isso, a
única saída, então, é a prostituição”, afirma a presidente da Atrato, Byanca
Marchiori.

A história da presidente da Associação é um caso raro em todo o movimento. Ela
conta que também teve que se prostituir para sobreviver, mas conseguiu uma
oportunidade de trabalho que mudou sua história. “Hoje eu sou técnica de
enfermagem e instrumentadora cirúrgica, concluindo o curso de Enfermagem”,
orgulha-se. Ela lembra que há poucas trans que conseguiram vaga no mercado de
trabalho. “Que eu tenho conhecimento só tem eu, uma secretária de uma escola
no município de Palmas e uma assessora de órgão público”, ressalta.

Para a coordenadora do NUAmac, defensora pública Letícia Amorim, no mercado de
trabalho a sociedade e as políticas públicas ainda estão longe de promover a
inclusão à população trans. Segundo a Defensora, a falta de oportunidade no
mercado de trabalho deságua em outros graves problemas, tais como o suicídio.
“É necessário ampliar o acesso desta população à prevenção, proteção e
assistência à saúde, além de ofertar atenção integral às suas necessidades”,
disse. Diversas ações de combate que focam o respeito à diversidade sexual
estão na pauta do Núcleo, como coletivo permanente, rodas de conversas,
debates, nome social e atendimento jurídico especializado, dentre outros.

Atendimento
O atendimento foi realizado pela Defensoria Pública, por meio do NUAmac
Palmas, na noite de quinta-feira, 15. Para saber mais sobre a ação, acesse:
http://ww2.defensoria.to.gov.br/noticia/25797

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Dados Atrato
– Atualmente, Palmas tem cerca de 30 travestis e transexuais
– 90% escolheram a prostituição por falta de oportunidade de trabalho
– Apenas 59,4% dos trans estudaram até o 3º ano do ensino médio
– 96,4% já sofreram ataques físicos
– 45% saíram de casa entre os 13 e os 17 anos por preconceito da família
– 3 casos de transfobia e homofobia, em Palmas, foram registrados no ano de 2017

 

(Foto: Cinthia Abreu – Ascom DPE)