O Brasil é um dos países com maior desigualdade de aprendizagem entre os estudantes considerados ricos e pobres, segundo os critérios da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês) mostram que, em todas as provas, o grupo de brasileiros entre os 33% dos alunos de todo o mundo com nível socieconômico (NSE) mais alto teve nota média mais de 100 pontos acima dos 33% de alunos com nível socioeconômico mais baixo.
Considerando todos os 80 países participantes do Pisa 2018, a desigualdade brasileira é a quinta maior em matemática, e a terceira maior em leitura e em ciências.
A análise dos dados foi feita pelo Mapa da Aprendizagem, mantido pelo Instituto Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Portal Iede), pela Fundação Lemann e pelo Itaú BBA, e obtida com exclusividade pelo G1.
O Pisa é realizado a cada três anos. Os resultados da edição mais recente, que teve a participação de 80 países, foram divulgados em 3 de dezembro. Entre 2015 e 2018, o Brasil caiu no ranking mundial de educação.
Metodologia
O nível socioeconômico (NSE) é determinado segundo diversos critérios de renda e escolaridade da família dos estudantes. As comparações de desempenho do estudo foram feitas em três etapas:
- Primeiramente, o Iede considerou o universo de participantes da prova em todo o mundo – cerca de 600 mil estudantes de 15 anos;
- Depois, esse universo foi dividido em três partes iguais, de acordo com o NSE de cada aluno. A comparação considera o terço com NSE mais alto e o terço com o NSE mais baixos, cada um com cerca de 200 mil estudantes. Países mais pobres, como o Brasil, ficaram com representação maior entre o grupo dos mais pobres, e menor entre o grupo de mais ricos;
- O próximo passo da análise foi separar esses dois grupos de estudantes por país. Então, eles foram avaliados de acordo com uma série de características, como o índice de repetência e a nota média nas provas de leitura, matemática e ciências.
Em todas elas, os estudantes da elite brasileira tiveram média de mais de 100 pontos acima dos brasileiros classificados como o terço mais pobre entre os participantes do Pisa. Esse resultado colocou o Brasil no “top 5” da desigualdade mundial nas três disciplinas.
O estudo avaliou ainda a desigualdade de cada região brasileira – algumas delas tiveram disparidade maior do que os países mais desiguais. Veja abaixo a comparação em cada uma das três provas:
Matemática
Em matemática, os estudantes com nível socioeconômico baixo apresentaram média de 360,8 pontos, enquanto os de alta renda tiveram média de 461,8. A diferença foi de 101 pontos entre elas.
O Brasil é o quinto pais do ranking com maior diferença entre alunos dos extremos dos níveis sociais. Neste quesito, o país com mais desigualdade é Israel, com 112 pontos de diferença, seguido por Bélgica (104 pontos), Hungria (102) e Eslováquia (102).
Quando avaliadas as regiões do Brasil, o Nordeste é a que apresenta a maior desigualdade, com 107 pontos de diferença, seguida pela região Centro-Oeste (104); Sul (103,9); Sudeste (91,6) e Norte (81,7).
Mas Ernesto Martins Faria, diretor-fundador do Portal Iede, explica que uma desigualdade menor nem sempre é um bom sinal. Nos casos da Região Norte e de alguns países com a menor desigualdade, essa equidade é o resultado do baixo desempenho tanto dos estudantes pobres quanto dos mais ricos (veja no gráfico abaixo). Ela não garante, segundo Faria, que todos os alunos, independentemente de sua renda familiar, tenham o aprendizado adequado na escola.
Do outro lado da lista, os países ou regiões com menor desigualdade foram Macau (China), Cazaquistão, Kosovo, Albânia e Hong Kong (China).
A tabela abaixo mostra alguns dos 80 países participantes do Pisa 2018, incluindo os que têm maior e menor desigualdade, países da América do Sul, países com as principais economias mundiais, o Brasil e as regiões brasileiras:
Leitura
Em leitura, o Brasil ficou em terceiro lugar na lista de países mais desiguais entre alunos de família de alta e baixa renda (veja abaixo). A diferença foi de 102,6 pontos, abaixo apenas de Israel (121) e Filipinas (107). Os alunos brasileiros de alta renda, tiveram média de 492,2 pontos, enquanto os de baixa tiveram 389,6 pontos em média.
Nas regiões brasileiras, o Nordeste apresentou a maior desigualdade, com 112,2 pontos de diferença, seguido pelo Sul, com 107,5; Centro-Oeste, com 101,2; Sudeste, com 89,9 e Norte, com 83,9 pontos de diferença entre as médias.
O “top 5” de países ou regiões com menor desigualdade incluiu Macau (China), Kosovo, Cazaquistão, Hong Kong (China) e Canadá:
Ciências
Na disciplina de ciências, o Brasil é novamente o terceiro país mais desigual, ficando atrás apenas de Israel e Bélgica. Assim como em leitura, os alunos com altos índices socioeconômicos também tiveram em média 102,6 pontos a mais que os com NSE baixo. Em Israel, essa diferença foi de 107,6 pontos e na Bélgica, de 105,6.
Nas regiões brasileiras, o Centro-Oeste foi o mais desigual, com 110,5 pontos de diferença, seguido por Nordeste (108), Sul (107,5), Sudeste (92,3) e Norte (78,2).
Por outro lado, os países ou regiões com menor diferença entre as notas médias foram Macau (China), Cazaquistão, Kosovo, Montenegro e Hong Kong (China):
Os ricos e pobres no Brasil
Segundo Faria, no Brasil há uma elite muito pequena em relação à quantidade de pessoas pobres, e que isso reflete a desigualdade do país na comparação internacional.
“É importante dizer que o Brasil tem conhecimentos e que temos boas escolas. Mas muito do nosso conhecimento está destinado a uma pequena elite.” – Ernesto Martins Faria (Portal Iede)
Faria defende que o país foque as políticas públicas de educação na redução dessa desigualdade. “A condição social é muito determinante na formação do aluno. Poderíamos pensar como outros países, que oferecem melhores escolas para alunos de baixa renda, e oferecem melhores salários para que professores lecionem em escolas de baixa renda”, ressaltou ele.
Repetência
O estudo do Mapa da Aprendizagem também comparou o índice de repetência, que avalia quantos alunos nunca repetiram no ensino fundamental. O Brasil, neste quesito, ficou em 11º lugar na desigualdade: 91% dos alunos com família de alta renda nunca repetiram de ano, contra 75% dos alunos de baixa renda. A diferença entre os dois grupos foi de 16 pontos percentuais (p.p.).
O Marrocos foi o país com a maior diferença neste quesito, com 34,5 pontos percentuais separando os alunos ricos e pobres.
Os demais países com desigualdade maior que o Brasil foram Espanha (31.2 p.p.), Bélgica (30,8 p.p.), Luxemburgo (27,5 p.p.), Uruguai (25 p.p.), Argentina (23 p.p.), Portugal (21 p.p.), Líbano (20,6 p.p.), França (18,8 p.p.) e Macau (18,6 p.p.).
Escolaridade das mães
Outro índice importante para avaliar a desigualdade entre os alunos de baixa e alta renda é o nível de escolaridade das mães. Esse é um dos principais fatores do cálculo do nível socioeconômico. Segundo especialistas, há uma forte relação indicando que, quanto maior é a escolaridade da mãe, melhor é o desempenho escolar do filho ou filha.
Nesse quesito, o estudo mostra que o Brasil está na 28ª posição entre os 80 países do Pisa 2018. Apenas 38% dos alunos de baixa renda têm mães que concluíram o ensino médio, enquanto 91,19% dos alunos de famílias com rendas mais altas têm mães com o diploma. A diferença, nesse caso, é de 52,6 pontos percentuais.
Portugal foi o país que teve a maior diferença neste índice: 16,32% dos alunos de baixa renda têm mães com diploma do ensino médio, contra 92,29% dos alunos da elite do país.
Fonte: Globo.com