Tendo em vista a desigualdade racial atrelada também ao universo feminino, as mulheres negras, latino americanas e caribenhas lutam há muitos anos por igualdade de raça e gênero e combatem à discriminação étnica que leva ao contexto de violência. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU), indicam que dos 25 países com os maiores índices de feminicídio do mundo, 15 ficam na América Latina e no Caribe. No Brasil, conforme informações do Atlas da Violência de 2019, 66% das mulheres vítimas de feminicídio eram negras.
Diante de tanta desigualdade e discriminação, um grupo formado por mulheres negras, latino americanas e caribenhas se reuniu há 25 anos para buscar formas de identificar e combater o racismo e o machismo, presentes em diversos locais e contextos sociais, com a finalidade de transformar nações no mundo inteiro. Desta decisão, surgiu o Dia da Mulher Negra, Latino Americana e Caribenha, lembrado em 25 de julho e reconhecido pela ONU.
Deste modo, a Secretaria de Estado da Cidadania e Justiça (Seciju) destaca esta data como um momento para refletir e ampliar ainda mais a luta, de todos os dias, de combate ao machismo, ao preconceito e a discriminação contra a mulher, e assim elaborar políticas públicas que protejam as mulheres e garantam respeito à diversidade étnica e igualdade de gênero.
“Em um País onde 66% dos feminicídios, que ocorreram em 2019, foram contra mulheres negras, significa que no Brasil há uma desigualdade de gênero e étnica, com isso precisamos continuar e avançar com ações contínuas de conscientização e combate à discriminação, e também trabalhar para implementação de políticas públicas com todos os órgãos participantes da Rede de Proteção da Mulher para mudar de fato essa realidade. É um desafio, mas estamos avançando na luta”, explica a gerente de Políticas e Proteção às Mulheres da Seciju, Flávia Laís.
O dado que a gerente se refere foi divulgado no mais recente Atlas da Violência, de 2019, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. No Tocantins, dados do Mapa da Violência mostram que os assassinatos de mulheres negras cresceram 82,4% no período de 10 anos, entre 2003 e 2013.
Essa desigualdade também é refletida no campo profissional. Um levantamento do Observatório da Diversidade e da Igualdade de Oportunidades no Trabalho, em Araguaína, mostra que a média salarial da mulher de cor branca no mercado formal da cidade é de R$ 1.426,00, já para a negra a média é de R$ 909,00. Esses números revelam que, mesmo após mais de 130 anos livre da escravidão, o Brasil segue preso a distinção de uma mulher pela sua cor.
Importância da data
Dada as inúmeras desigualdades, em 1992, um grupo de mulheres organizou o primeiro Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas, em Santo Domingos, na República Dominicana, no qual debateram sobre machismo, racismo e como combatê-los. Deste encontro, surgiu a Rede de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas para lutar mundialmente pelos direitos e acesso a políticas públicas. Ainda em 1992, o encontro se transformou em uma data marcada todos os anos e reconhecida pela ONU: 25 de julho, Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha.
Já no Brasil, em 2004 a data foi instituída legalmente como Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, em memória e homenagem a Tereza de Benguela, líder de um quilombo no Mato Grosso que tornou símbolo da mulher negra e indígena no País. Ela que viveu no século 18 e que foi morta em uma emboscada. De acordo com o Geledés – Instituto da Mulher Negra, Tereza se tornou rainha do quilombo do Quariterê, no Mato Grosso, quando o marido morreu, e acabou se mostrando líder, criando um parlamento local, organizando a produção de armas, a colheita e o plantio de alimentos, além de coordenar a fabricação de tecidos que eram vendidos nas vilas próximas.
Texto: Jornalista Lauane dos Santos- Seciju