Há 25 anos um grupo de mulheres negras de origem latina americana e caribenha decidiu criar um movimento unificado para lutar contra a desigualdade racial e a discriminação. O encontro aconteceu no dia 25 de julho de 1992 na cidade de Santo Domingos, na República Dominicana e deu origem ao Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha, que desde então é  reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Nesse encontro, as participantes levantaram discussões a respeito do machismo, violência, racismo e  as formas de combatê-los. Apesar de existirem inúmeros movimentos feministas espalhados pelo mundo, as mulheres negras latinas e caribenhas não se sentiam representadas, pois constantemente eram barradas nos meios de comunicação e cargos de chefia de seus governos.
Luta
Apesar de de ser maioria no Brasil, a população negra ainda luta para extinguir a discriminação e a desigualdade.  Segundo pesquisa Mulheres e Trabalho, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), publicada em 2016, no Brasil, as mulheres brancas recebem 70% a mais do que as negras. Além disso as mulheres negras são mais vítimas de violência obstétrica, abuso sexual e homicídio.
De acordo com o Mapa da Violência 2016, os homicídios de mulheres negras aumentaram 54% em dez anos no Brasil, passando de 1.864, em 2003, para 2.875, em 2013, enquanto os casos com vítimas brancas caíram 10%.
Por esses e outros motivos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, não é um dia de comemoração. Nesta data, o objetivo é fortalecer as organizações voltadas às mulheres negras e reforçar seus laços, trazendo maior visibilidade para sua luta  pressionando o poder público. Por isso, no Brasil, no Caribe e na América Latina em geral, diversos eventos de protesto e luta acontecem para marcar a data.
Em São Paulo, em Brasília e no Rio de Janeiro, por exemplo, acontecem Marchas das Mulheres Negras.
Tocantins
O Portal Gazeta do Cerrado conversou com a Jornalista e coordenadora do Instituto Crespas.TO, Maria José Cotrim, para saber um pouco mais sobre esse dia tão especial para o movimento feminista negro. Segundo ela, a data é muito importante mas precisa ser melhor trabalhada nos espaços de poder, nas escolas e em outros locais. Ela protestou: “na minha opinião, nós mulheres negras, ainda passamos sim por situações absurdas todos os dias e infelizmente ainda estamos á margem da sociedade em vários aspectos sociais”.
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Como solução, a Jornalista e coordenadora do Instituto Crespas.TO, que combate o preconceito racial e valoriza a identidade negra no Tocantins, propôs que seja feito um trabalho mais sério voltado ás politicas publicas verdadeiras que atendam as necessidades das mulheres negras, tanto na área da saúde, quanto no acesso ao mercado de trabalho e também ao ensino superior. Ela finalizou “nós mulheres negras, ainda precisamos dessa visibilidade qualitativa e oportunidade para garantir nosso espaço. É por isso que nós lutamos”.
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A Gazeta também entrevistou a militante feminista, anticapitalista e antirracista do Núcleo Lélia Gonzáles da Marcha Mundial das Mulheres, Janaína Costa Rodrigues, sobre  quais discussões estão na pauta dos grupos feministas negros no país, e ela nos informou que atualmente os movimentos sociais que defendem os direitos da mulher negra, estão pautados na discussão sobre a desconstrução e regressão dos seus direitos por meio de uma ofensiva neo conservadora.
“As reformas trabalhista e da previdência ferem diretamente os direitos consolidados para toda classe trabalhadora e isso vai impactar mais fortemente a vida das mulheres e em especial as mulheres negras, quando acabarem os empregos as primeiras a voltarem para casa serão as mulheres”, declarou a militante.
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Segundo Janaína, em alusão ao Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha, em Palmas está sendo realizado o “Julho das Pretas” que é um conjunto de ações articuladas por diversos movimentos feministas do Estado com o intuito de desenvolver  atividades voltadas as mulheres negras, como rodas de conversas para discutir o feminismo negro e as opressões sofridas pelas mulheres negras, em especial as que moram na periferia além de debates com participação do Conselho Regional de Psicologia sobre o papel dos psicólogos no enfrentamento dos efeitos psico-sociais do racismo.
“Alem disso nós realizamos uma reunião com o Reitor da Universidade Federal do Tocantins (UFT), apresentando a demanda da criação de um núcleo de pesquisas voltado a mulher, raça e classe, além de um observatório para divulgar os dados e dar ampla visibilidade as demandas locais”, frisou.
Na manhã de hoje (25), diversos movimentos feministas participaram de uma reunião com Conselho Municipal da Promoção da Igualdade Racial, onde foi entregue uma carta com diversas reivindicações, dentre elas, a melhoria do espaço de referência Flor de Liz, que na capital atende mulheres vitimas de violência e a inclusão de politica de atenção á saúde da população negra na pauta municipal da secretaria de saúde.
Hoje ainda tem mais mobilizações: “Hoje às 18h, nós estaremos no Centro de Direitos Humanos de Palmas, para participar de uma vídeo conferencia com a escritora Norte Americana, Angela Davis para uma discussão sobre mulher, raça e classe com todos os Estados do país”.
Angela Davis
Angela Yvonne Davis é professora e filosofá socialista que alcançou notoriedade mundial na década de 1970 como integrante do Partido Comunista dos Estados Unidos, e dos Panteras Negras, por sua militância pelos direitos das mulheres e contra a discriminação social e racial nos Estados Unidos e por ser personagem de um dos mais polêmicos e famosos julgamentos criminais da recente história dos Estados Unidos.
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Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha no Brasil
O Brasil, tem o maior índice de feminicídios na América Latina e desde 2014, a presidenta Dilma Rousseff transformou a data em comemoração nacional. Desde então comemora-se em 25 de julho o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, em homenagem à líder quilombola que viveu no século 18 e que foi morta em uma emboscada.
Esposa de José Piolho, Tereza se tornou rainha do quilombo do Quariterê, no Mato Grosso, quando o marido morreu, e acabou se mostrando uma líder nata: criou um parlamento local, organizou a produção de armas, a colheita e o plantio de alimentos e chefiou a fabricação de tecidos que eram vendidos nas vilas próximas.
Texto: (Colaborou Nielcem Fernandes)