Jair Pedro Ferreira é diretor de Formação da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae)
Jair Pedro Ferreira é diretor de Formação da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae)

A proposta do governo de acabar com a exclusividade dos fundos fechados de previdência na gestão dos recursos dos empregados das estatais — permitindo que bancos privados administrem os investimentos — é uma ideia descabida. O real objetivo é atender, neste ano eleitoral, aos interesses do sistema financeiro, enfraquecendo os fundos fechados e ameaçando a participação dos trabalhadores na gestão de seus próprios recursos.

A forma como o governo quer alterar as leis complementares 108 e 109 de 2001 [que regulamentam o regime de previdência complementar de entidades abertas e fechadas] encontra, inclusive, resistências dentro do próprio Executivo. Como o noticiário vem revelando, não há consenso para que a proposta seja encaminhada sequer do Ministério da Economia para a Casa Civil [e, na sequência, ao Congresso Nacional].

Como tentativa de justificar essa ideia, o governo diz que a medida reduziria “elevado déficit” existente nos fundos de pensão das estatais, “incentivando a busca por maior rentabilidade e taxas de administração menores”. Dados do próprio Executivo provam, contudo, que tal “argumento” não se sustenta.

De acordo com o Relatório Gerencial de Previdência Complementar/2021, o patrimônio das entidades fechadas atingiu R$ 1,12 trilhão [até abril do ano passado], representando um aumento de aproximadamente 7% em comparação com dezembro de 2020. Desde o ano de 2012, segundo este mesmo relatório do governo, a rentabilidade acumulada das entidades fechadas de previdência foi de aproximadamente 162%, enquanto a dos planos privados foi inferior, da ordem de 109%. A taxa média de administração das entidades fechadas — 0,27% — é quase cinco vezes menor que os custos para os participantes nos planos de entidades abertas: 1,3%.

A verdadeira intenção do Executivo é, portanto, atender a uma velha cobiça do mercado: gerir recursos que são das entidades fechadas de previdência, que são dos trabalhadores das estatais para a complementação da renda, no futuro.

O que se pretende é agradar aos bancos e transformar o patrimônio dos participantes em produto financeiro. Na prática, as mudanças pretendidas pelo governo significam a privatização da gestão dos fundos estatais, já que se pretende transferir para o mercado financeiro a administração de investimentos feitos pelos trabalhadores em fundos estatais de previdência complementar.

Estamos falando de recursos reservados na esperança de se garantir uma aposentadoria mais digna após anos e anos de dedicação ao Estado brasileiro. Investimentos de uma vida toda, depositados em fundos que têm a participação e o acompanhamento dos trabalhadores na gestão das entidades.

Administrar este patrimônio, construído com muito suor dos empregados, é uma velha reivindicação dos bancos privados. E agora, em pleno ano de eleições, o Executivo quer atender a esse interesse.

Trata-se de uma interferência absurda e sem a devida discussão com todos os segmentos envolvidos. É mais um subterfúgio, uma forma disfarçada de privatizar o que é estatal, uma vez que acabará por liquidar os fundos de pensão, transferindo a gestão deste patrimônio para o mercado.

Essa é mais uma ação deste governo que a Fenae repudia. É uma tentativa covarde de descaracterizar a legislação em vigor [leis complementares 108 e 109] que, embora não seja ideal, é uma conquista dos trabalhadores.

Entendemos que o caminho para a construção de uma sociedade mais justa passa pela defesa do patrimônio dos trabalhadores — alicerce da soberania do país, dos direitos sociais e do compromisso de diálogo permanente com os brasileiros.

* Jair Pedro Ferreira é diretor de Formação da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae)

Brener Nunes

Repórter

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins