Maria José Cotrim – Jornalista há 12 anos no Tocantins
Não sou uma pessoa que caiu do céu no Tocantins. Vim da Bahia com um único propósito: ser jornalista daquelas que faz e acontece mesmo no sentido do bom e velho Jornalismo. Já vi tanta coisa neste Estado principalmente na área de Jornalismo Político onde fiz várias coberturas acompanhando momentos importantes para o Tocantins nos últimos anos mas nunca estremeci.
Pois bem…a comunicação transforma vidas e com a minha não foi diferente! O sonho de estar á frente de um projeto de Webjornalismo variado, diferente, ágil e inclusive com suporte de vídeos me levou á Gazeta do Cerrado. Desde 2016, ano que entrou no ar, os dias são de correria, de furos constantes, amadurecimento e muitas notícias boas e ruins. Mas isso incomoda e tem uma tentativa de invisibilidade proposital baseada também dentre vários fatores numa questão racial. “Quem é essa menina negra?”, sim, já ouvi isso!
Na real: sem esse papo alienado de vitimismo…falando do cenário real: tem muita coisa além das negativas e das tentativas de invisibilidade proposital…Vejo, noto e já estou cheia disso!
Paralelo a isso existe todo um processo institucional : de relação com instituições, governos, assessores, movimentos….e nesta hora não posso me calar diante de tantas situações! Desde a um olhar “desfazido” até posturas desagradaveis: tem de tudo! Sempre me perguntam, principalmente acadêmicos: como é ser mulher negra, Jornalista e empreendedora? Te respondo: é uma superação diária! É notar que as estruturas precisam evoluir, amadurecer e acima de tudo se democratizarem. Notar que seu trabalho infelizmente não é o critério que basta para você ser respeitado como profissional!
Conversando com um secretário de Estado esta semana, perguntando questões referentes á sua área e as respostas eram monossilábicas e aquele olhar desconfiado. Pensei: “será que ele não sabe que ocupa um cargo público e que deve explicações á sociedade”. Ele mal olhava na minha cara como se fosse um carma estar falando comigo…Foi indiferença mesmo! Senti foi na pele…
Quantas vezes já fui barrada de entrevistar ou falar com alguém sem nenhuma justificativa plausível? O presidente da instituição marca de falar comigo mas o assessor disse que ele só pode na semana que vem…e o assunto que sugeri para a entrevista? ” não temos novidade sobre isso”. No mesmo dia á noite lá vem um texto da assessoria sobre o tal assunto que fui barrada á tarde de falar com o entrevistado….Oxe?
E por aí vai…”Você trabalha no veículo A ou no B? “Não, sou da Gazeta…” Lá vem o olhar de novo…São situações quase que diárias daquelas que preciso respirar fundo e literalmente lutar para enfrentar quem acha que Jornalismo tem a cara e cor certas ou que só vale apenas se for empresa grande, ou o que existe há tantos anos….
Já deixei de dar informação em primeira mão por ter que insistir para receber uma resposta que para outros vão fácil….hoje enfim ia fazer uma entrevista que esperava há mais de um mês mas a “autoridade” em questão não quis me receber…Porque mesmo? Ter que insistir para que uma representante do povo fale com um veículo de comunicação? É o fim dos tempos!
Quando tinha estagiárias na Gazeta, uma delas foi confundida com a auxiliar de limpeza num evento de cobertura mesmo estando com crachá e bloquinho! Senti foi na pele…
Minha cor, minha juventude, meu cabelo, meu jovem veículo não são invisíveis mas resistem e resistirão! São mais de 700 vídeos, 10 mil matérias, produção de 70% de conteúdo próprio diariamente e uma das coberturas mais rápidas do Tocantins! São assuntos que afetam não só o Tocantins mas também o Brasil e o Mundo. Não ficamos atrás dos notebooks e no ar condicionado: vamos pra rua e para onde a notícia acontece! Conheça antes de fazer o nariz torcido, de tentar ignorar perguntas pertinentes, de barrar nosso acesso a A ou a B. Respeitem a comunicação antes de tudo!
Tire seu preconceito do novo e da diversidade porque nós negros também estamos no comando do processo de produção da notícia, estamos ancorando vídeos… também empreendemos. Respeito antes de tudo a nós profissionais e que as oportunidades não nos sejam tiradas simplesmente por….porque mesmo?
Não é o seu cabelo ou cor da pele que ditam seu caráter e seu profissionalismo. Não vou me deixar abater. Vivo num estado onde 76% da população é negra. Serei sempre a Maria José Cotrim, a Maju, como carinhosamente muitos amigos me chamam, uma negra que assim como eu agora já passou por provações quanto á sua seriedade e capacidade de fazer um jornalismo sério.
Vida que segue….