A pandemia do novo coronavírus pode ter contribuído para que o mercado de trabalho brasileiro sofresse a maior perda de trabalhadores domésticos dos últimos nove anos. Em abril, o país registrou o menor contingente desta categoria de toda a série histórica da pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o levantamento divulgado pelo IBGE nesta quinta-feira (28), em três meses, 727 mil pessoas deixaram de trabalhar com os serviços domésticos no país, uma queda de 11,8% no período. Segundo a gerente da pesquisa, Adriana Beinguy, essa redução pode estar associada às medidas de isolamento social.
“Várias famílias podem ter dispensados os seus trabalhadores domésticos em função dessa questão do isolamento. É uma queda bastante acentuada”, enfatizou a pesquisadora.
Ao todo, em abril havia 5,5 milhões de trabalhadores domésticos no país, o menor contingente desde 2012, quando teve início a série histórica da pesquisa. Deste total, apenas 28,5% (1,5 milhão) possuía carteira de trabalho assinada.
Antes, o menor número de trabalhadores domésticos havia sido registrado no trimestre terminado em agosto de 2013, quando somavam cerca de 5,8 milhões de pessoas nesta categoria de trabalho. Já o maior contingente de trabalhadores domésticos do país havia sido alcançado em dezembro de 2019, com 6,3 milhões de pessoas.
Ainda segundo o levantamento do IBGE, a queda foi mais intensa entre os trabalhadores domésticos sem carteira de trabalho assinada (-12,6%) que entre os com carteira assinada (-9,6%).
Para evitar demissões durante a crise provocada pelo novo coronavírus, o governo autorizou a redução da jornada de trabalho e de salários inclusive para trabalhadores domésticos. A medida foi chamada de Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda.
Pelo programa, o trabalhador que tem seu contrato suspenso ou carga horária reduzida recebe uma compensação financeira, paga pelo governo federal, de até um salário mínimo nacional, de R$ 1.045. Se o trabalhador doméstico ganhar mais do que os R$ 1.045, o patrão pode – se quiser – fazer a complementação. E não terá que recolher impostos sobre a diferença.
Segundo o último balanço divulgado pelo governo com o detalhamento dos acordos fechados até 12 de maio, os empregados domésticos representavam, junto com os trabalhadores intermitentes, 4% do total de brasileiros que tiveram o emprego preservado pelo programa, com pouco mais de 300 mil beneficiados.
Os números do Ministério da Economia atualizados até esta quinta-feira mostram que mais de 8,2 milhões de trabalhadores aderiram ao programa.
Queda mais intensa que na indústria e comércio
De acordo com o IBGE, houve queda generalizada do número de trabalhadores no trimestre terminado em abril. Nove dos dez grupos de atividades pesquisados registraram redução no número de ocupados.
A queda de 11,8% entre os doméstico superou a dos trabalhadores da indústria (-5,6%) e do comércio (-6,8%). Porém, foi menos intensa que a registrada no segmento de alojamento e alimentação (-12,4%) e da construção (-13,1%).
Em números absolutos, no entanto, a maior queda foi registrada no comércio, que perdeu 1,2 milhão de trabalhadores na comparação com o trimestre terminado em janeiro.
Quase 5 milhões de postos fechados
O levantamento do IBGE mostrou que de janeiro a abril foram fechados 4,9 milhões de postos de trabalho no país. Foi a maior queda da população ocupada de toda a série histórica da pesquisa. A taxa de desemprego chegou a 12,6%, atingindo 12,8 milhões de brasileiros.
O número de desempregados no país só não cresceu mais porque um contingente significativo de pessoas deixou de procurar emprego ou não estava disponível para trabalhar em abril, em meio ao isolamento social e restrições impostas pelas autoridades para tentar conter o avanço do coronavírus.
No trimestre encerrado em abril, 4 milhões de brasileiros deixaram a força de trabalho.
A população fora da força de trabalho somou 70,9 milhões de pessoas no trimestre encerrado em abril, representando também um novo recorde na série iniciada em 2012, com alta de 7,9% (mais 5,2 milhões de pessoas) em 3 meses e salto de 9,2% (mais 6 milhões) na comparação a igual período de 2019.
São classificadas como fora da força de trabalho as pessoas que não procuraram trabalho, mas gostariam de ter um, ou aquelas que buscaram emprego, mas não estavam disponíveis para trabalhar na semana de referência da pesquisa.
Já o desalento (pessoas que desistiram de procurar emprego) cresceu 7% (328 mil pessoas a mais) em relação ao trimestre encerrado em janeiro, chegando a 5 milhões, novo recorde de toda a série histórica.
Fonte: G1 Nacional