Ativistas dos direitos das pessoas com autismo pediram nesta terça-feira (2), em audiência pública na Câmara dos Deputados, que seja realizado um censo autista em conjunto com o Censo Demográfico de 2020.
O presidente do Movimento Orgulho Autista Brasil, Fernando Cotta, lembrou que as políticas públicas para o segmento já existem, mas elas ainda não saíram do papel porque é preciso realizar um levantamento da comunidade autista e de suas necessidades.
“Precisamos saber quantas pessoas com autismo existem neste país. Até hoje nos baseamos em estatísticas norte-americanas e europeias – no Brasil, infelizmente não há nenhum número oficial para que saibamos quantos autistas não estão nas escolas, por exemplo”, declarou Cotta, durante o debate promovido pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias.
Uma proposta em análise na Câmara (PL 6575/16) torna obrigatória a coleta de dados e informações sobre autismo nos censos demográficos realizados a partir de 2018. O texto, de autoria da deputada Carmen Zanotto (PPS-SC), está na Comissão de Constituição de Justiça e de Cidadania (CCJ).
Ensino
Na audiência de hoje, o professor Lucelmo Lacerda criticou a forma como a inclusão desse público vem sendo realizada nos colégios, sem levar em conta as limitações de cada um – no espectro autista, as restrições podem ser leves, moderadas ou severas.
Ele ressaltou que um diagnóstico precoce e correto daria os instrumentos necessários para que a criança autista possa ser educada de maneira adequada. Lucelmo Lacerda destacou que o ideal seria que a intervenção fosse realizada na escola e em casa, totalizando 40 horas semanais. “Isso ajudaria o autista a ter um vida completamente autônoma.”
Bernardo Medina tem 18 anos e foi diagnosticado com autismo com um ano e 11 meses. Hoje ele cursa o terceiro ano do ensino médio e defende que as políticas públicas sejam aplicadas de acordo com a necessidade de cada nível de autismo. “Os autistas leves são mais independentes; nesse caso, as políticas públicas podem ser destinadas diretamente a eles. Já os autistas severos dependem da presença física de seus responsáveis, o que significa que as ações precisam ser direcionadas para esses pais ou cuidadores”, argumentou.
Pesquisas
O deputado Luiz Couto (PT-PB), autor do requerimento para a realização da audiência pública, destacou que é importante discutir o tema a cada ano para que os avanços das pesquisas possam ser incorporados ao atendimento a essa parte da população.
“Estamos debatendo com especialistas e com pessoas comprometidas com a causa dos autistas para que possamos estabelecer políticas públicas mais adequadas”, disse.
Com base em estudos realizados em outros países, estima-se que existam dois milhões de autistas no Brasil. O transtorno de desenvolvimento prejudica a capacidade de se comunicar e interagir e é quatro vezes mais comum em meninos.