No segundo dia de sua visita Washington, o presidente Jair Bolsonaro enalteceu a nova parceria entre o Brasil e os Estados Unidos, país que ele disse admirar, e pediu ações decisivas em relação à crise na Venezuela.

Num discurso de dez minutos na Câmara de Comércio dos Estados Unidos nesta segunda-feira (18/03), Bolsonaro disse reconhecer a “capacidade econômica, bélica, entre outras”, dos EUA. “Temos que resolver a questão da Venezuela”, ressaltou. “Aquele povo tem que ser libertado”, afirmou, pedindo o apoio americano para que isso ocorra.

Bolsonaro exaltou as semelhanças entre os dois países, dizendo que o povo brasileiro, assim como o americano, é “conservador, temente a Deus e, portanto, cristão”. Ele disse ainda que tem em comum com o presidente dos EUA, Donald Trump, o fato de que ambos sofreram “ataques da mídia” em suas campanhas, sendo vítimas das fake news.

Bolsonaro destacou que a parceria entre os dois países deve ser reforçada numa série de setores, inclusive na biodiversidade. “Temos uma imensidão a ser descoberta em nossa Amazônia e gostaríamos muito de ter a parceria desse Estado, o qual eu admiro.”

“Queremos um Brasil grande, assim como Trump quer uma América grande”, disse. “Hoje os senhores têm um presidente amigo dos Estados Unidos e que admira esse país maravilhoso.”

Antes do discurso do presidente, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, fez uma breve apresentação de Bolsonaro e seu governo. Segundo Araújo, Bolsonaro é um “líder transformador” e tem ajudado o país a se unir em torno da ideia de pátria.

Após o discurso do presidente, o porta-voz do Planalto, Otávio Rêgo Barros, negou que o governo brasileiro apoiaria uma intervenção militar na Venezuela. “O Brasil entende que a situação da Venezuela deve ser resolvida com base na nossa diplomacia. Não trabalhamos com intervenção, até porque afronta a nossa Carta Magna”, afirmou.

Visita à CIA

Bolsonaro começou o dia com uma visita à sede da Agência Central de Inteligência (CIA), que não estava prevista na agenda, num gesto de claro componente simbólico. A reunião foi revelada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, que acompanha o pai nos EUA. Eduardo descreveu a CIA como “uma das agências de inteligência mais respeitadas do mundo”.

A visita sublinhou as diferenças entre o governo Bolsonaro e o da ex-presidente Dilma Rousseff, que em 2013 cancelou uma visita aos Estados Unidos devido ao escândalo de espionagem da agência NSA, que a teria espionado. A revelação azedou durante anos as relações entre Estados Unidos e Brasil.

“Nenhum presidente brasileiro nunca visitou a CIA,” disse o diplomata Celso Amorim, que foi ministro das Relações Exteriores no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Isso é um ato explícito de submissão. Nada se compara com isso.”

Segundo o Palácio do Planalto, o encontro sinalizou a disposição do governo brasileiro em estreitar laços com a CIA no combate aos crimes transnacionais.

Entrevista à Fox News

No mesmo dia, em entrevista concedida à emissora americana Fox News, Bolsonaro disse que Trump mantém “todas as opções na mesa” em relação à Venezuela, mas que o Brasil não pode afirmar o mesmo em razão de “certas restrições” existentes no país.

No entanto, o presidente disse que é possível agir através de uma “frente diplomática”, como no envio de ajuda ao país vizinho, e acrescentou que o Brasil é um dos maiores interessados em pôr fim ao regime de Nicolás Maduro.

Ao ser perguntado sobre a questão da imigração, causa de algumas das maiores controvérsias no governo Trump, Bolsonaro disse que acreditaria nos que são contra a construção do muro na fronteira com o México – uma das maiores batalhas políticas do presidente americano – se eles próprios removessem as portas de suas casas e deixassem que qualquer um entrasse. “A grande maioria dos imigrantes não tem boas intenções e não deseja fazer o bem para o povo americano”, afirmou.

Bolsonaro disse concordar com a construção do muro, reafirmou o desejo de que Washington mantenha sua política migratória e afirmou que, em grande parte, “devemos nossa democracia no hemisfério sul aos EUA”.

Ao ser perguntado sobre o caso do assassinato da vereadora Marielle Franco e as possíveis ligações entre as milícias e sua família, Bolsonaro disse que a imprensa brasileira, que, segundo afirma, sempre o criticou, tentou em vão estabelecer elos entre ele e os supostos assassinos, os quais negou conhecer.

Bolsonaro desmentiu que seu filho mais novo tivesse mantido um relacionamento com a filha de um dos acusados, afirmando que o jovem teria “namorado quase todas as meninas do condomínio” e, mesmo assim, não se lembrava de ter se encontrado com a menina.

Ao rebater as insinuações sobre uma possível ligação sua com o caso Marielle, Bolsonaro disse que o homem que o esfaqueou durante a campanha eleitoral teria sido membro do PSol até 2014, mas que a imprensa jamais afirmou que foi a esquerda quem tentou matá-lo, e que algumas pessoas até estariam frustradas por ele ter sobrevivido.

O ponto alto da visita de Bolsonaro a Washington será nesta terça-feira, quando será recebido por Trump na Casa Branca.

Fonte: DW

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