Entidades se unem para destacar os desafios enfrentados pelas comunidades que dependem dos recursos naturais da bacia Araguaia-Tocantins.

 

Por Ascom/Medhto

 

O seminário reafirmou a necessidade de resistência e união das entidades envolvidas em prol da Não construção da Hidrovia Araguaia-Tocantins

 

No último sábado, 30, o Movimento Estadual de Direitos Humanos e Ambientais do Tocantins (MedhTO) realizou o seminário “Não à Hidrovia Araguaia-Tocantins por Justiça Climática” no Colégio Marista, em Palmas. O evento reuniu lideranças de comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas, pescadores, sociedade civil e o Procurador da República, Mário Lúcio Avelar.

O seminário teve como objetivo fomentar o debate sobre os impactos socioambientais e culturais do projeto da hidrovia, ressaltando os desafios enfrentados pelas comunidades que dependem dos recursos naturais da bacia Araguaia-Tocantins.

Conforme a coordenadora do MedhTO, Maria Vanir, o evento buscou dar voz às populações afetadas com o projeto. “Queremos levar essas preocupações até os representantes governamentais, buscando um desenvolvimento que também contemple as comunidades locais e não apenas grandes empreendimentos econômicos”, afirmou Vanir.

 

“O projeto vai trazer impactos socioambientais desastrosos”, disse o Procurador Mário Lúcio Avelar

 

O Procurador da República do Estado de Goiás, Mário Lúcio Avelar, reforçou a necessidade de uma abordagem mais inclusiva e criticou a ausência de representantes do governo estadual no seminário. “Sem a participação popular e a devida transparência, o projeto segue na contramão dos interesses das comunidades afetadas, consolidando impactos socioambientais desastrosos”, disse acrescentando que é importante a união dessas entidades para provocar as discussões e levar os questionamentos ao conhecimento da sociedade.

 

“Debate é essencial para assegurar que o desenvolvimento não exclua as pessoas que mais dependem dos recursos naturais, disse a advogada Fátima Dourado

 

A advogada e assessora jurídica do MedhTO, Fátima Dourado, destacou a relevância do evento em meio às discussões sobre mudanças climáticas. “O debate é essencial para garantir maior transparência e articulação social, assegurando que o desenvolvimento não exclua as pessoas que mais dependem dos recursos naturais”.

O impacto devastador da hidrovia sobre a biodiversidade e as comunidades tradicionais foram enfatizados pela liderança indígena Narúbia Werreria Karajá. “Os rios Araguaia e Tocantins são berços da vida e da cultura de nosso povo. Este projeto representa não só uma ameaça ao meio ambiente, mas à própria existência das comunidades que dependem desses recursos”.

A coordenadora do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu regional Tocantins (MIQCB), Francisca Pereira Vieira, de Buriti do Tocantins, ressaltou sua preocupação e os impactos negativos do projeto. “Vai acontecer que as famílias serão tiradas de seus territórios, desmatamento de matas nativas, incluindo os babaçuais, e os prejuízos à cultura local, como a das quebradeiras de coco. Também vai gerar problemas sociais como violência contra as mulheres e insegurança para as famílias em geral. E ainda vai nos tirar as fontes de renda. Vai trazer grande sofrimento para nós”.

A construção da hidrovia gera perdas significativas, explica o assessor técnico do Instituto Deridu, Bio Karajá: “este projeto não traz benefícios para o povo brasileiro, especialmente para ribeirinhos, comunidades tradicionais e povos indígenas. Ele desrespeita os direitos fundamentais desses grupos, ameaça a cultura indígena e prejudica a economia local, particularmente nas cidades que dependem do turismo associado às praias do Araguaia. E questiona: será que esses aspectos estão sendo devidamente discutidos? E alerta que o objetivo central dessa iniciativa é atender aos grandes produtores do agronegócio, enfatizando a necessidade de unir forças para resistir e combater esses interesses”.

Elineide Marques, professora de Biologia e coordenadora do mestrado ProfÁgua e docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente (PGCIAMB) da UFT, frisou a importância da temática em discussão. “Os debates são essenciais porque muitas políticas públicas são formuladas sem a participação efetiva das pessoas diretamente impactadas. Políticas que ignoram a base da sociedade, invisibilizando comunidades que sofrem com processos de apropriação e exploração de solos, águas e recursos naturais. Por isso, é fundamental fortalecer as vozes dessas comunidades e construir um movimento “de baixo para cima”, a partir da base, para influenciar mudanças reais, disse, afirmando que lamenta a ausência de representantes do governo no debate, o que mostra a transparência de outros interesses”.

Para a presidente da Colônia de Pescadores E-16, de Miracema e Tocantínia, Maria do Socorro Sousa dos Santos, o projeto não é viável. “Trará grandes impactos negativos para as comunidades que dependem do rio, como as que dependem da pesca para sobrevivência”. Ela ainda criticou a ausência de representantes do governo e enfatizou a importância de união para barrar o projeto.

 

Encaminhamentos

 

Os participantes aprovaram a elaboração de um documento que será encaminhado às autoridades estaduais e federais, reafirmando o posicionamento contrário à hidrovia. Além disso, ficou definida a intensificação de articulações para garantir a realização de audiências públicas e maior visibilidade às demandas das comunidades atingidas.

 

 Procurador Mário Lúcio e os outros palestrantes destacaram a necessidade de união das entidades

 

O seminário reafirmou a necessidade de resistência e união das entidades envolvidas, reiterando que o desenvolvimento sustentável deve priorizar o bem-estar coletivo e a preservação dos recursos naturais para as futuras gerações.

 

Parcerias

 

O seminário contou com o apoio de diversas organizações locais e regionais, incluindo os Centros de Direitos Humanos de várias regiões, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu regional Tocantins (MIQCB) e outras entidades.

 

Fotos: Divulgação Medhto