Maju Cotrim

Ela é jovem, simpática, engajada em todos os passos da comunidade. Seu nome: Ludimila Carvalho dos Santos. Teve como “professora” de militância a saudosa Dona Juscelina. Ela defende melhores condições para as mulheres quilombolas e mantém viva a chama da luta por dias melhores. Além de universitária ela ocupa vários papéis. Foi uma das organizadoras do Festejo da Abolição este ano seguindo os conselhos da matriarca e participou de todos os detalhes.

Aos 19 anos ela diz o que pensa. Ludimila nasceu em Araguaína, mas mora e cresceu em Muricilândia. “Não dou conta de sair de perto dos mais velhos”. Ela é criada pelo pai e a mãe mora em Brasília. “Temos uma amizade muito bonita, a fotografia nos uniu muito, ele me ensinou este ofício”, pontuou.

Ela conta que a escolha do seu nome também foi proposital pois significa querida e amada pelo povo. “Amo muito o povo, meu pai ingressou na vida pública, ele é atual vice prefeito e com isso vamos administrando dentro de casa”, pontuou. Ela disse que a mãe dela também é guerreira quilombola e é sua inspiração. “Muito batalhadora, chegou a graduação já na vida adulta com filhos. Veio de dois casamentos”, contou. A relação delas é forte.

Ludimila começou a se envolver com as questões do quilombo: “desde criança sempre fui envolvida nos festejos em todos os aspectos” disse ao citar o tradicional festejo de 13 de maio. A aproximação do quilombo foi através da fotografia. “Minha auto declaração de se apropriar deste legado da luta veio através da fotografia, eu fotografava as festividades”, lembra.

Ludimila conta que ela tem registros lindos da Dona Juscelina. “O sentimento de missão cumprida faz parte do legado de Dona Juscelina”. Emocionada, ela conta que arrumava o altar religioso dela onde agora vai funcionar o Memorial. “Mesmo na pandemia ela nunca fechou as portas, as rezas sempre aconteceram respeitando as regras”, conta.

Ela tem relação de afeto materno com as outras quilombolas. Ludimila é um exemplo da esperança da continuidade da luta, ela se inspira em Dona Juscelina e aprendeu muito com ela.

Estudante de Direito teve oportunidade de se construir como líder pelo contato direto com as mulheres. “A juventude e herdeira desta luta, me sinto na obrigação de onde eu estiver o nome dos meus ancestrais estar junto”, conta.

“Uma luta a cada dia”, citou Dona Juscelina. “Trago memórias impagáveis mas tenho total noção da responsabilidade e das lutas que virão pela frente… recebo essa luta com toda garra que vai continuar”

Questionada sobre o sonho dela ela disse que é realizar os desejos de Dona Juscelina, um deles manter a casa dela aberta e a construção de uma praça que ela queria.

A escolha de Direito também foi pela causa. “Pensava em fazer antropologia e história e Dona Juscelina falou: “minha filha precisamos de uma advogada” então eu disse pronto! Vou ser advogada”, conta

Ela recusou fazer uma faculdade federal em Arraias para não sair da comunidade e estuda numa particular em Araguaína. “Minhas responsabilidades triplicaram”, conta.

Ludmila analisa que para as mulheres quilombolas ainda falta fazer valer as políticas públicas. “Temos lei linda escrita, mas não é cumprida, sempre nos excluíram de determinados espaços e sempre ocupamos eles”, disse.

Falta organização das mulheres e efetivação das políticas públicas, na visão da estudante e ativista.