Foto – Arquivo Vogue

Estamos nos tornando um planeta de ansiosos. São 76 milhões de pessoas com essa condição no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde. No Brasil, o país que lidera o ranking nesse distúrbio, são cerca de 19 milhões. Em uma realidade cada vez mais integrada, não é de estranhar que esse sentimento também cresça em escala global e de forma coletiva.

Nesta década, o mundo experimentou seu grande pico de ansiedade em massa há três anos, com o surgimento da Covid-19 em todos os continentes. A recente guerra na Ucrânia, e seus desdobramentos globais, como o agravamento na tensa relação entre Rússia e Estados Unidos, desencadeou ondas desse mesmo fenômeno. E é, também, o que temos experimentado mais localmente nos últimos meses, em decorrência das eleições no país.

“A incerteza do que pode acontecer e a certeza de que não temos o controle sobre essas situações são o que provoca essa ansiedade coletiva”, explica Liliana Seger, doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo. A língua alemã possui uma palavra para definir esse sentimento: “weltschmerz”, que pode ser traduzida como ‘dor do mundo’ ou ‘cansaço do mundo’. Por lá, eles usam o termo para explicar esse sentimento que se instala universalmente em meio a situações globais e preocupações sociais.

Como se a ansiedade em si já não fosse ruim o suficiente, a coletiva tem um agravamento: “Nem sempre as pessoas enxergam aquilo que é a fonte da angústia da mesma forma, e acabam se separando em grupos diferentes. Isso gera uma ansiedade ainda maior, porque além de vencer a causa do problema, é preciso vencer também o outro grupo”, analisa a especialista. A explicação define muito bem o quadro que vivemos hoje no Brasil, com as eleições. As incertezas com relação ao futuro da nação já tem sua cota inerente de ansiedade. Mas ela ganha contornos ainda mais traumáticos com a polarização, com a separação de grupos posicionados não como adversários, mas como rivais.

Como lidar com o sentimento

Sintomas como mal-estar, coração acelerado, irritabilidade, falta de ar, angústia sinalizam um estado ansioso. É claro que viver nessa condição por um longo período causa danos não só à saúde mental como física também. “E o grande problema dessa situação é que, por ser coletiva, as pessoas se juntam em grupos em uma espécie de rede de apoio invertida, pois, em vez de aliviarem os sintomas, elas retroalimentam a ansiedade”, analisa a psicóloga.

Nesse sentido, a especialista diz que conseguir mudar o foco do pensamento no meio do furacão é uma das melhores estratégias para se blindar dos danos da ansiedade. “Se afastar um pouco do centro do problema, daquilo que é a fonte desse sentimento, ajuda a colocar a situação na perspectiva correta — a de que não temos controle sobre o que vai acontecer”, diz Liliana. Não se trata de fechar os olhos para a realidade mas, sim, colocar um limite naquilo que chega até nós sobre o tema. “Procure evitar ficar pulando de um noticiário para o outro, checar a todo momento as mensagens dos grupos, pelo menos por um tempo, até conseguir restabelecer seu equilíbrio mental. Fazer essas pausas é importante para cuidar de si mesmo e das pessoas ao seu redor”, aconselha a psicóloga.

Especificamente sobre as eleições, a especialista sugere estabelecer certos limites de segurança, para que a convivência com outras pessoas, da família e fora dela, não fique prejudicado. “É importante entender que podemos gostar das pessoas mesmo pensando diferentes delas. Isso ajuda a tira um peso enorme dos encontros. Além disso, reservar momentos em família e amigos para falar de assuntos que não sejam o gatilho da ansiedade é fundamental para diminuir a ansiedade. Atitudes e pensamentos positivos são contagiantes também”, acrescenta. E, por fim, um último conselho da especialista: evite dormir sob o efeito de notícias ruins, discussões e aborrecimentos, pois isso é o combustível para alimentar a aflição. “Reserve as horas que antecedem a sua ida para a cama para lidar com temas leves, que te distraem e te façam bem.”

Fonte – Vogue via globo.com