Geógrafo Jair Souza da Silva e Prof. Dr. Atamis Antonio Foschiera – Foto Montagem Gazeta do Cerrado
Conteúdo Especial Gazeta do Cerrado
Estamos vivendo umaa “Segunda Onda” da Covid-19 em Porto Nacional. O vírus se alastrou de forma acelerada por vários bairros da cidade de Porto Nacional. As medidas tomadas pelo poder público ainda não foram suficientes para frear a elevação de novos casos. Como consequência são mais pessoas hospitalizadas, mais pacientes necessitando de vaga em UTI e um indicativo de continuação de um alto número de óbitos devido à Covid-19.
Neste ano de 2021, de primeiro de janeiro até 22 de fevereiro, as hospitalizações de residentes de Porto Nacional se mantiveram relativamente estáveis, mantendo o padrão do ano de 2020. A partir de 23 de fevereiro tem-se uma aceleração de hospitalizações que fizeram com que o Hospital Regional de Porto Nacional passasse várias semanas com todos os leitos ocupados.
Foram 29 dias com maior número de munícipes internados por Covid-19 do que o Hospital Regional de Porto Nacional tem capacidade de atender. Isso foi possível pela oferta de vagas em outros hospitais, sejam da rede pública ou privada de saúde. Pela sequência de novos casos de Covid-19 no município de Porto Nacional, tudo indica que esse padrão deve se manter nos próximos dias. O gráfico abaixo ilustra a escalada das internações por Covid-19 de residentes de Porto Nacional.
Quase todos nós ouvimos casos comoventes de pacientes portuenses em busca de vagas de UTI, ou soubemos ou conhecemos pessoas que tiveram que esperar na fila para serem internados e, alguns deles, necessitaram ser transferidos para Araguaína por não ter vaga em UTIs nos hospitais mais próximos. No sábado, 27/03/2021, tivemos um alento nessa questão, pois estava sendo zerada a fila de vagas de espera por UTI no hospital de Porto Nacional, conforme destacou um médico que ali atua. Essa melhora em relação às UTIs não deve alterar em nada nossas ações de enfrentamento à Covid-19, pois a qualquer vacilada essa tormenta volta e, possivelmente, com mais força.
Outro número marcante foi o aumento do número de óbitos por Covid-19 em Porto Nacional. Se tomarmos como referência os dados dos Boletins Epidemiológicos de Porto Nacional de primeiro de janeiro de 2021 até 26 de março de 2021, que representa 85 dias, ocorreram 55 óbitos. Isso representa 0,6 óbitos por dia, ou seja, bem menos que um por dia. Porém se pegarmos só os 26 dias de março essa média diária sobre para 1,46. Isso representa, praticamente, três óbitos a cada dois dias. Seguindo esse padrão teremos pela frente enormes perdas humanas no município.
Outro elemento a ser destacado é a implantação de leitos de UTI no Hospital Regional de Porto Nacional. Essa não é uma reivindicação nova e muitos trabalharam nesse sentido. Em função da Covid-19 esse debate ganhou destaque, principalmente em 2020, quando se apresentaram dificuldades para atendimento hospitalar de portuenses. Esse tema foi apresentado em reuniões da Comissão de Operação Especiais de Combate à Pandemia do município de Porto Nacional. O aumento considerável de novos casos de Covid-19, somado “a momentos” de dificuldade que a Secretaria de Saúde do município tinha em obter vagas em hospitais, fez com que a Defensoria Pública, em conjunto com o Ministério Público, no dia 15 de agosto de 2020, ajuizasse uma ação solicitando, entre outras coisas, a implantação de leitos de UTI no hospital Regional de Porto Nacional.
A solicitação de implantação dos leitos de UTI foi negada pelo juiz, o que fez com que os requerentes recorressem ao Tribunal de Justiça, que no dia 25 de agosto de 2020, deu parecer favorável, mandando o governo estadual implantar os leitos de UTI no prazo de 10 dias. No decorrer das tratativas da decisão teve-se a diminuição dos casos de Covid-19, também o governo do estado justificou problemas técnicos com a implantação dos mesmos, bem como que estava ampliando a oferta de leitos de UTI em Palmas, que poderia atender as demandas de Porto Nacional, retardando a execução da decisão judicial.
No mês de dezembro de 2020 a Defensoria Pública fez uma nova manifestação no processo cobrando o cumprimento da ordem judicial, destacando a nova elevação dos números de casos de Covid-19. O Ministério Público também se manifestou nesse mesmo sentido. No dia 25 de fevereiro um grupo de deputados portuenses fez reunião com o governo do estado para falar sobre a situação do hospital de Porto Nacional, conforme publicação no site de Cleber Toledo. No dia 9 de março de 2021, a Diretoria Técnica e Clínica do hospital enviou um documento a várias instituições competentes destacando a situação caótica em que o Hospital se encontrava e cobrava providencias urgente. Nesta mesma data, circulou um áudio, pós-reunião entre deputados e o governo do estado, na qual o Secretário Estadual de Saúde, Edgar Tolini, destaca que está em fase de finalização os estudos técnicos para implantação de 10 leitos de UTI no hospital de Porto Nacional. Neste áudio foi feita a previsão de que de 15 a 20 diais ocorreria a instalação.
O Ministério Público do Tocantins se posicionou novamente em 10 de março de 2021, requerendo que a justiça determinasse o prazo de 24 horas para o governo do Tocantins apresentar o cronograma de instalação dos leitos de UTI no Hospital Regional de Porto Nacional.
A demora na implantação desses leitos e a existência de portuenses aguardando na fila para terem acesso a UTI levou a “certa” descrença no governo do estado e na própria justiça no tocante ao caso. Caso tivesse sido cumprida a ordem judicial em seu prazo legal, é possível que várias famílias portuenses tivessem sofrido menos na busca de vagas de UTI em hospitais em outros municípios, com condições difíceis de alojamento para os acompanhantes, bem como, pacientes teriam tido um atendimento mais rápido, sem necessidade de locomoção, frente às condições debilitadas de saúde em que se encontravam.
Tem-se a impressão que foi necessário que os casos de Covid-19 saíssem do controle para o governo estadual sinalizar, com mais ênfase, a decisão de implantar os leitos de UTI no hospital em Porto Nacional, cumprindo a decisão judicial de agosto de 2020. Pode-se inferir que um dos elementos de maior pressão para a implantação desses leitos de UTI, caso venha a ocorrer, foi os efeitos nefastos que a Covid-19 causou para a população de Porto Nacional em 2021, envolvendo as hospitalizações, a fila de espera para UTI e o crescente número de óbitos que ocorreu.
No decorrer desse processo de implantação desses leitos de UTI no município, outros sujeitos entraram no debate, bem como foram discutidas novas ideias em relação aos mesmos. Por isso é importante que sejam publicizadas outras histórias “por trás” desse fato, para entendermos o mesmo na sua totalidade, evitando o apossamento desse feito por parte de algum indivíduo ou grupo específico.
A grande questão que fica é: quando esses leitos de UTI no Hospital Regional de Porto Nacional serão implantados? Pelo prazo veiculado pós-reunião entre deputados e governo do estado, até o fim de março de 2021 ficaria pronto. Vão-se mais de 7 meses da decisão judicial pela obrigatoriedade da construção.
Prof. Dr. Atamis Antonio Foschiera – UFT/Porto Nacional – Curso de Geografia
Jair Souza da Silva – Geógrafo pela UFT/Porto Nacional e Mestrando pela UFCat