Desde o início do século 19, com a Revolução Industrial, o impacto das ações do homem sobre o clima já provocou um aquecimento médio de mais de 1ºC na Terra. Embora o número ainda não seja suficiente para provocar um cataclisma, já prejudica a vida de milhões de pessoas ao redor do planeta e coloca em risco todos os avanços em saúde pública dos últimos 50 anos. É o que mostra um relatóriopublicado pela Lancet, uma prestigiada publicação científica de medicina.
Elaborado em contribuição de 24 instituições acadêmicas e organizações intergovernamentais, o Lancet Countdown levanta dados de saúde em todos os continentes, contando com uma equipe que inclui ecologistas, cientistas, economistas, engenheiros e especialistas em comida, transporte, energia e saúde pública.
De acordo com o relatório, uma das principais evidências do impacto da mudança climática são as ondas de calor, cada vez mais intensas e frequentes. Entre 2000 e 2016, 125 milhões de adultos em situação de vulnerabilidade no mundo sofreram com elas. Com, o clima mais quente, as pessoas têm menos resistência ao trabalho, ocasionando uma redução de 5,3% da força mundial de trabalho. Em 2016, tirou mais de 920 mil pessoas em todo mundo da força de trabalho, com 418 mil delas somente na Índia.
Os desastres relacionados ao clima também estão mais frequentes, com um crescimento de 46% desde 2000. A economia também sobre, com crescentes perdas desde 1990. Em 2016 a economia global perdeu US$ 129 bilhões com eventos relacionados ao clima. O relatório também aponta o aumento de 10% no número de mosquitos da dengue desde 1950 como resultado do aquecimento global.
Os estragos não param por aí, já que, somente em 2015, mais de 803.000 mortes prematuras e evitáveis aconteceram em 21 países asiáticos foram devido a poluição do ar. Mas é na comida o principal impacto. A mudança climática provocou um declínio de 6% na produtividade global do trigo e um declínio de 10% nas safras de arroz. Se tudo continuar assim, mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo enfrentarão a necessidade de migrar dentro dos próximos 90 anos devido ao aumento do nível do mar causado pelo colapso da plataforma de gelo.
O Brasil também sofre com as consequências: de acordo com o estudo, o volume médio de partículas finas em suspensão no ar é de 15 ug/m³, enquanto a Organização Mundial de Saúde recomenda que o número não ultrapasse 10 ug/m³. A pior situação fica na pequena cidade de Santa Gertrudes, no interior de São Paulo, considerada a mais poluída do País. São 44 ug/m³ de partículas suspensas, principalmente devido a ação da indústria de cerâmica.
Para o professor Anthony Costello, co-presidente da Lancet Countdown e um dos diretores da Organização Mundial da Saúde, a situação requer ação imediata. “A mudança climática está acontecendo e hoje é um problema de saúde para milhões em todo o mundo. A perspectiva é desafiadora, mas ainda temos a oportunidade de transformar uma emergência médica iminente no avanço mais significativo para a saúde pública neste século”, afirma. “Precisamos de medidas urgentes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Os benefícios econômicos e de saúde oferecidos são enormes. O custo da inação será contado em perdas evitáveis de vidas em larga escala”.
Fonte: Revista Galileu