Ter um negócio que possa ser gerido da própria residência é o sonho de muitos empreendedores: afinal, muitos veem a criação de um empreendimento próprio como uma chance de flexibilizar a jornada de trabalho, evitando o engessado horário comercial da maioria das empresas.

Diferente do que muitos pensam, o que o trabalho remoto proporciona não é ter menos tarefas. “Estudos apontam, inclusive, que quem faz home office é mais produtivo”, explica João Bonomo, professor de empreendedorismo do Ibmec/MG. Aproveite e veja os prós e contras de ter um negócio próprio gerido de casa.

Mesmo assim, muitos empreendedores dizem sentir um pré-julgamento de colegas e do mercado, que alegam que o trabalho de casa seria mais desleixado do que o modelo tradicional de gerenciamento de empresas. Foi o caso de Adilson Batista, sócio-fundador da agência de comunicação digital Today.

“Em 2009, decidi sair de uma grande agência de propaganda para montar a minha própria agência. Comecei sozinho, eu e um notebook. Quando eu contava para as pessoas, elas achavam que eu tinha diminuído na carreira”, conta o empreendedor. “Felizmente, hoje há uma cultura empreendedora mais forte, que tem valorizado os profissionais que tomam a decisão de abrir empresas. E o home office é o caminho mais barato para isso.”

Arthur Furlan, co-fundador da Configr, que gerencia e-mail e sites na nuvem, concorda com tal análise. “O trabalho de casa tem crescido muito, tanto para funcionários quanto para empreendedores. Ainda há um certo preconceito, mas acho que esse estereótipo está sendo quebrado com o passar do tempo.”

Ficou animado com a ideia de ter um negócio administrável da sua casa? Então, veja as dicas a seguir para ter sucesso nessa empreitada, sem deixar que a liberdade de atuação gere improdutividade:

1. Tenha cara de empresa, desde o começo

Ter um negócio na sua própria residência não é desculpa para gerenciá-lo de forma amadora. Pelo contrário: mais do que nunca, você terá de provar que sua empresa tem tanto potencial quanto as que optam por ter um escritório ou um ponto comercial para centralizar suas operações.

“O empreendimento precisa ser profissional desde o início”, afirma Batista. “Eu, por exemplo, investi em um site bem produzido, tinha uma bela apresentação de powerpoint da minha empresa, fiz um e-mail e um cartão de visitas profissionais. Por fim, contratei um serviço de escritório virtual – que me dava um endereço comercial e uma secretária que atendia o telefone para minha empresa, antes de redirecionar a ligação para mim.”

2. Separe trabalho de lazer e organize bem o tempo

Em um trabalho de casa, é grande a tentação de misturar horas de lazer com as de trabalho, por conta da sobreposição de espaços e tempos. Quem cai nessa armadilha enfrenta graves consequências: sente que não dá atenção suficiente a nenhuma das duas áreas.

O que fazer? Furlan, da Configr, recomenda estabelecer uma rotina de trabalho em casa – assim como você teria em uma empresa com escritório ou ponto comercial. “Tem que ter um horário certo para começar e acabar seu expediente. Além disso, quanto mais você separar seu escritório dos ambientes da casa, melhor. É algo que precisa ser planejado antes mesmo de empreender: pense em como você pode montar um mini-escritório na sua própria residência.”

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Usar programas que facilitem a organização das tarefas também é uma boa saída para fazer seu expediente ser melhor aproveitado, evitando uma jornada de trabalho sem fim.

“Eu, por exemplo, uso o aplicativo e o site do Trello”, conta Batista, da agência Today. “É um serviço gratuito e propõe uma dinâmica de organização de trabalho sensacional. Desde o início, você pode se tornar um empreendedor produtivo e levar esse raciocínio para seus futuros funcionários também.”

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3. Sim, saiba que ainda será preciso sair de casa

Ter um negócio de casa não significa que você ficará 100% do tempo na sua residência. Agora que você é empreendedor, está em suas mãos a análise do mercado em que você atua.

“Em qualquer empreendimento, hoje, a pessoa precisa sair da sede da empresa: é preciso encontrar clientes, conversar com as pessoas e ver o que elas procuram, analisar o que a concorrência está fazendo, por exemplo”, explica Bonomo, do Ibmec/MG.

Mas também não basta apenas observar: também é preciso executar tudo aquilo que você perceber no seu ambiente de negócios. “Faça as operações necessárias. O público quer diversificação? Mude sua linha de produtos. Ele quer um preço menor? Reveja sua precificação.”

4. Desenhe um mapa de espaços de coworking e cafeterias

Ainda falando de profissionalismo: talvez a sua residência não seja o local mais adequado para encontrar um cliente importante ou fazer uma entrevista de emprego. Por isso, o empreendedor remoto precisa desenhar um mapa de locais que pode usar para suprir tais necessidades.

Uma opção são os espaços de coworking: lugares onde há mesas compartilhadas de trabalho, por um custo menor do que o aluguel ou a compra de um escritório próprio.

“No coworking, é possível alugar salas de reunião para encontros mais importantes”, explica Batista, da agência Today. Além disso, quando você abandona a vida de funcionário, é comum sentir falta do contato com outras pessoas. Há dias em que é legal trocar ideias, e o espaço de coworking é uma boa solução.”

Além disso, também é útil mapear cafés com internet sem fio disponível. “Isso ajuda muito. Às vezes, acontece de o empreendedor estar circulando na cidade e precisar parar um minuto para mandar uma proposta ou responder e-mails longos. Se você sabe onde os cafés com wi-fi estão, seu trabalho é agilizado.”

5. Dê à sua equipe a chance de encontros presenciais

Caso você já esteja no momento de ter alguns funcionários, lembre-se de que, por mais que todo mundo trabalhe de forma remota, às vezes é bom promover encontros presenciais. Um negócio não se forma apenas pela boa execução das tarefas, mas pela compreensão por parte de todos os membros de qual é a missão do empreendimento.

“Estimular esse contato físico entre as pessoas e seus times – como marketing e comercial – fortalece bastante a equipe como um todo”, explica Furlan, da Configr. “Além disso, presencialmente podemos conhecer melhor quem é cada membro. Eu não contrato ninguém sem fazer uma entrevista pessoal, por exemplo.”

6. Faça uso da nuvem

Ao se deslocar de um local para outro, também é importante que documentos muito usados – a apresentação da sua empresa ou algum contrato comum para fornecedores, por exemplo – estejam sempre acessíveis.

Para isso, serviços de computação em nuvem podem ser uma boa solução. É preciso apenas ter acesso à internet para fazer uso de ferramentas como Dropbox e Google Drive, por exemplo.

“Você nunca sabe quando irá precisar de um arquivo, e talvez não possa estar todo o tempo em casa. Além disso, você também não tem uma equipe de TI, como teria uma grande empresa. Usando serviços na nuvem, seus arquivos não se perdem caso seu computador pare de funcionar por qualquer motivo”, explica Batista.

7. Não cobre barato por não ter um ponto

Uma falha muito comum aos empreendedores que gerem seu negócio de casa é jogar o preço de seus produtos ou serviços muito para baixo, diz Bonomo.

“Isso ocorre porque eles pensam que usam a infraestrutura da sua própria moradia, que já seria paga de qualquer jeito. Porém, eles deveriam levar em consideração todos os gastos que sua operação incorre ao fazer a precificação”, explica o professor do Ibmec/MG.

Por exemplo: no seu expediente comercial, você faz uso de luz, água, gás e também usufrui da sua residência. Ao calcular o preço que cobrará, então, pense nas suas contas mensais e também considere o aluguel ou condomínio do local.