Este domingo (26/05), o quarto dia das eleições europeias, foi dia em que a maioria dos eleitores do continente vai às urnas. Após sete Estados-membros já terem realizado o pleito, é a vez de eleitores dos demais 21 países integrantes da União Europeia (UE) votarem – entre eles Alemanha, França, Itália, Espanha e Polônia. Juntos, estes cinco países enviam quase metade dos eurodeputados para o Parlamento Europeu: 348 de 751.
A votação para o único parlamento internacional do mundo começou na quinta-feira, na Holanda e no Reino Unido, sendo seguidos por Irlanda e República Tcheca na sexta, e Letônia, Malta e Eslováquia no sábado. No total, 420 milhões de cidadãos estão aptos a votar. Pesquisas apontaram que a participação deve ser maior que a das últimas eleições, de 2014, quando apenas 43% foram às urnas.
Na Alemanha, os primeiros resultados de boca de urna apontam ascensão do Partido Verde, com 22% dos votos. Quedas drásticas são apontadas para a União Democrata Cristã (CDU), da chanceler federal Angela Merkel, e de seu partido irmão, a União Social Cristã (CSU), que aparecem com 28%, e para seu partido de coalizão, o Partido Social-Democrata (SPD), com 15,5%.
Os populistas de direita do Alternativa para a Alemanha (AfD), por sua vez, cresceram frente a 2014 e chegaram a 10,5% dos votos. O resultado, porém, fica abaixo do que eles obtiveram nas eleições nacionais de 2017 (12,6%).
Antes da votação, os maiores partidos da UE afirmaram que as eleições deste ano poderiam ser cruciais para o futuro do bloco. Os principais candidatos do Partido Popular Europeu (EPP), o alemão Manfred Weber, e do Partido Socialista Europeu (PSE), o holandês Franz Timmermans, atual vice-presidente da Comissão Europeia, concordaram sobre esse aspecto durante a campanha eleitoral.
A principal preocupação de ambos nestas eleições é manter a coesão na UE, defendendo as democracias “liberais” contra o modelo “iliberal” apoiado por nacionalistas e populistas, entre eles o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán.
O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu por uma “Europa que protege” e defendeu amplas reformas nos campos social e econômico. Já o populista de direita Mattteo Salvini, vice-primeiro-ministro e ministro do Interior da Itália, quer que a cooperação na Europa seja radicalmente reduzida.
Assim como outros populistas de direita em vários países-membros da UE, Salvini adotou o lema de “Meu país primeiro”. Seu partido, a Liga, deve sair destas eleições europeias como a força política mais influente da Itália.
Colapso na Áustria
A última semana antes das eleições foi agitada. Na Áustria, a coalização de governo conservadora rachou após o líder do Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ) e ex-vice-chanceler-federal, Heinz-Christian Strache, ser filmado oferecendo contratos públicos à suposta sobrinha de um oligarca russo em troca de apoio eleitoral.
As primeiras projeções são de que o Partido Popular Austríaco (ÖVP) ficará 10 pontos à frente dos social-democratas, que teriam 24%. O FPÖ, de extrema direita, chegaria a 17,5%, como terceira força política do país.
Antes do pleito europeu, pesquisadores eleitorais manifestaram ceticismo quanto ao real impacto do escândalo nas eleições. Davide Ferrari, do instituto de pesquisa VoteWatch, de Bruxelas, disse à DW que o efeito provavelmente se limitaria à Áustria. “Os eleitores de direita não estão tão preocupados com a ética. Para eles, é um ato de protesto”, disse.
De acordo com sondagens realizadas nos 28 Estados-membros da UE, populistas de direita e eurocéticos podem vir a ocupar de 20% a 23% dos assentos do Parlamento Europeu – um aumento significativo, diz Janis Emmanouilidis, do think tank Centro de Política Europeia, mas “não o suficiente para tomar o poder”. Ele acredita que será difícil para a direita formar um grupo unificado no novo Parlamento.
Caos no Reino Unido
De todos os representantes a serem eleitos, os do Reino Unido podem ser os que vão alterar a estrutura do novo Parlamento. Com o processo do Brexit pendente, os cidadãos britânicos ainda puderam participar das eleições europeias na quinta-feira. O recém-criado Partido Brexit irá provavelmente será o grande vencedor do pleito, mas os defensores da UE e os liberais também devem ter bons resultados.
A expectativa é que o pleito seja um desastre para os conservadores no poder. Em meio ao caótico processo do Brexit, a primeira-ministra Theresa May anunciou sua renúncia na sexta-feira, admitindo que não conseguiu organizar a saída do Reino Unido da UE em três anos. Os resultados oficiais do Reino Unido – assim como os dos outros países da UE – só serão divulgados no final da noite deste domingo.
Embora também esteja atolado no pântano do Brexit, o social-democrata Partido Trabalhista britânico provavelmente enviará cerca de 20 eurodeputados para Estrasburgo. Esta é uma boa notícia para os seus colegas social-democratas europeus, que temiam uma redução de sua bancada inicialmente prevista nas primeiras sondagens.
O resultado surpreendentemente bom para o líder do PSE, Timmermans, na Holanda, também deu um pequeno impulso à bancada, mesmo que sejam apenas dois assentos a mais. No entanto, os eurodeputados britânicos podem desaparecer do Parlamento em outubro, se o Brexit se concretizar, o que significa que a bancada social-democrata encolheria.
Implicações para Berlim
O desempenho de Weber, o principal candidato do EPP, que também representa a conservadora CSU na Alemanha, terá impacto na política interna de Berlim. Ursula Münch, diretora da Academia de Educação Política de Tutzing, na Baviera, disse à DW que espera perdas para os três partidos que compõem a coalizão de governo alemã –, a CDU o seu partido irmão, a CSU, e o SPD. Münch acredita que os resultados das eleições da UE podem levar a um fim prematuro da coalizão, ou mesmo à substituição de Merkel como chanceler.
Nas últimas semanas, alguns Estados-membros da UE mudaram o foco de suas campanhas eleitorais. Na Alemanha e na Dinamarca, o combate às mudanças climáticas tem sido um tema central. Na Grécia e na Itália, os eleitores estão discutindo sobre a política econômica e o paternalismo da UE.
O premiê húngaro, Viktor Orbán, que quer salvar o cristianismo na Europa de uma “enxurrada de migrantes islâmicos”, manteve o tema da migração no topo da sua agenda. No entanto, a maioria dos eleitores fora da Hungria não considera isso uma ameaça.
“Momento da democracia europeia”
Embora estas eleições europeias sejam certamente importantes, a porta-voz da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, afirmou que não é preciso exagerar.
“Estou na política europeia há vários anos. Não me lembro de nenhuma votação em que não se tratasse de ‘a Europa estar numa encruzilhada’. Isto é o que vamos sempre enfrentar, e isso é uma coisa boa”, disse recentemente numa entrevista à emissora Euronews. “Este é o momento da democracia europeia, e devemos também desfrutar dele”.
Os primeiros prognósticos para a composição do novo Parlamento Europeu são esperados para pouco depois das 20h no horário de Bruxelas (1h de Brasília). O resultado oficial está previsto para as 23h (4h de Brasília).
fonte: DW Made for minds