Pelo menos 11 pessoas morreram nesta temporada de escaladas no monte Everest, montanha que fica na fronteira entre o Nepal e o Tibete. A maioria das mortes foi atribuída ao cansaço dos alpinistas — piorado, segundo os mais experientes, devido à superlotação no caminho de subida e descida do topo.
Neste ano, o governo nepalês bateu um recorde histórico no número de passes concedidos para a subida: 381. Cada titular de uma permissão é acompanhado por um guia, o que significa que mais de 750 pessoas estão na rota para a escalada, de acordo com os últimos dados disponíveis.
A montanha é a mais alta do mundo, com 8.848 metros de altitude. O final do mês de abril e o mês de maio são considerados os melhores para escalada.
Veja, abaixo, 5 perguntas sobre a escalada ao topo da montanha:
Esta é a temporada em que mais pessoas morreram?
Não. Em 2015, pelo menos 22 pessoas morreram depois de uma avalanche no monte, causada pelo terremoto que atingiu o Nepal naquele ano. A tragédia foi ainda pior do que a do ano anterior, quando 16 guias — todos do grupo étnico Sherpa — morreram na montanha.
As mortes de 2014 fizeram com que os guias encerrassem mais cedo a temporada de escaladas no monte e levaram o governo nepalês a aumentar o seguro de vida dos guias para US$ 15 mil (cerca de 1,67 milhão de rúpias nepalesas), segundo a revista “National Geographic”. Cada guia nepalês costuma subir e descer o monte 30 vezes por temporada.
Por que o monte está tão cheio?
Cada pessoa precisa pagar por uma permissão para subir o Everest, que custa US$ 11 mil (cerca de R$ 44,2 mil). Entre abril e maio, o número de alpinistas aumenta, pois as condições são menos extremas. A lotação pode estar associada a uma menor “janela” de subida permitida pelas condições climáticas. (veja a resposta seguinte).
É certo que a superlotação causou as mortes?
Segundo o governo nepalês, não. O diretor-geral do departamento de turismo do Nepal, Danduraj Ghimire, afirmou em entrevista ao “The New York Times”, no domingo (26), que o grande número de mortes neste ano não estava relacionado à superlotação, mas ao fato de que havia menos dias de tempo bom para os escaladores chegarem ao cume com segurança.
Uma causa para a menor “janela” de subida pode ter sido o ciclone Fani, que atingiu Índia e Bangladesh, diz a BBC. Depois da passagem do ciclone, o tempo piorou no Himalaia nepalês, o que obrigou o governo a suspender atividades de montanhismo por pelo menos dois dias.
Isso atrasou os preparativos de subida. Quando surgiu a primeira oportunidade, poucas equipes começaram a escalada — a maior parte esperou pela segunda “janela”. Assim, a quantidade de pessoas no pé da montanha continuou a aumentar — outro fator que contribuiu para as filas.
Subida ao Everest — Foto: Guilherme Luiz Pinheiro/G1
Quantas pessoas já chegaram ao topo do Everest?
De acordo com a base de dados do Himalaia, 5.294, até dezembro passado. Dessas, 1.211, a maioria delas guias da etnia Sherpa, chegaram várias vezes, o que leva o número de escaladas até o topo a 9.159.
Os primeiros, o neozelandês Edmund Hillary e o nepalês Sherpa Tenzing Norgay, chegaram ao topo em 1953. A primeira mulher a alcançar o cume foi a japonesa Junko Tabei, em 1975, e desde então 548 subidas ao topo foram feitas por mulheres.
A maior parte das expedições ao Everest dura cerca de dois meses, de acordo com o Conselho Britânico de Alpinismo. Os escaladores começam a chegar aos acampamentos de base no fim de março — enquanto o dia de chegada ao topo costuma ser uma data no meio de maio, quando as temperaturas estão mais amenas e os ventos, mais fracos.
Por volta da meia-noite, começa a subida, para que os alpinistas estejam no topo pela manhã. O lado sul, nepalês, é o mais popular entre os alpinistas: das chegadas até o topo, 5.888 foram feitas pelo lado do Nepal, e as outras 3.271 pelo lado tibetano.
Entre 1924 e 2018, 295 pessoas morreram tentando escalar o Everest.
O que acontece com o corpo humano a tantos metros de altura?
Na foto, de 16 de maio, alpinistas escalam o monte Everest. — Foto: Gesman Tamang / AFP
Escaladas em altas altitudes podem causar problemas ao corpo humano. Por isso, alpinistas devem tomar certos cuidados.
Saiba mais abaixo:
- Doença Aguda das Montanhas (AMS, na sigla em inglês)
O primeiro sinal é dor de cabeça — seguida de perda de apetite, náusea, vômitos, fraqueza, tontura, fadiga e dificuldade para dormir.
A causa, de acordo com o Instituto de Medicina de Altitude, não é clara, mas a hipótese é de que a falta de oxigênio no sangue faça com que os vasos sanguíneos do cérebro dilatem, o que causa a dor de cabeça. A recomendação da Associação de Resgate do Himalaia, no Nepal, é de descer a altitudes mais baixas imediatamente se a dor de cabeça não passar com aspirina.
- Edema cerebral ou edema pulmonar de alta altitude
Alpinistas escalam o Everest no dia 22 de maio. — Foto: Phurba Tenjing Sherpa/Reuters
Se evoluir, a AMS pode se tornar um edema cerebral de alta altitude. O pequeno inchaço cerebral da AMS progride para dor de cabeça intensa, confusão, letargia, falta de coordenação, irritabilidade, vômitos, convulsões, coma e morte, se não for tratado. A primeira providência é descer imediatamente para altitudes mais baixas.
Já o edema pulmonar de alta altitude é um acúmulo de líquido nos pulmões que atrapalha a troca de oxigênio e pode matar. Os primeiros sintomas são a falta de ar com exercício, e, à medida que mais fluido se acumula nos pulmões, progridem para falta de ar severa mesmo em repouso, tosse persistente, aperto no peito, fraqueza severa e, finalmente, coma e morte.
- Congelamento
Pemba Dorjee Sherpa, que já chegou ao cume do Everest 20 vezes, no acampamento 3, no dia 20 de maio. — Foto: Phurba Tenjing Sherpa / Reuters
É mais comum nos dedos das mãos, pés, nariz, orelhas, bochechas e queixo. Conforme progride, afeta todas as camadas da pele, incluindo os tecidos que se encontram abaixo. A pele fica branca ou azulada e a pessoa perde toda a sensação de frio, dor ou desconforto na área afetada. Articulações ou músculos podem não funcionar mais. Se evoluir para gangrena, o tecido morre devido à perda de circulação na área afetada, o que pode resultar em amputação.
- Ceratite ultravioleta
Espécie de queimadura solar que afeta os olhos em vez da pele. Ocorre quando raios ultravioleta são refletidos por neve e gelo. A exposição a eles pode danificar temporariamente a córnea, causando cegueira passageira.
fonte: G1 Portal Globo