Os fervedouros dão um show de exuberância e encantam os olhares de todos que visitam o Jalapão – Créditos: Flávio Cavalera/Governo do Tocantins

Localizado no coração do Tocantins, um dos destinos mais exuberantes do Brasil, o Jalapão, possui os fervedouros, que são tesouros naturais que encantam visitantes de todo o mundo. Com seus diversos tamanhos, formatos, cores de água e intensidade de flutuação, esses fenômenos únicos oferecem uma experiência inesquecível em meio à natureza intocada.

Estima-se que existam mais de vinte fervedouros espalhados por toda a região, cada um com sua própria singularidade. No entanto, atualmente apenas oito estão abertos à visitação, todos localizados em áreas particulares ao longo da TO-110, a estrada que liga Mateiros a São Félix.

Esses oásis naturais são formados por nascentes de águas cristalinas que brotam do solo arenoso, criando verdadeiras piscinas naturais. A peculiaridade dos fervedouros está na pressão exercida pela água subterrânea, que impede qualquer pessoa de afundar, proporcionando uma sensação única de flutuação.

No entanto, a beleza e a preservação desses fervedouros estão ameaçadas, segundo o agente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Wallace Lopes. Ele afirma que a recente aprovação de um projeto na Câmara dos Deputados que permite a exploração de áreas de vegetação nativa coloca em risco não apenas os fervedouros do Jalapão, mas todo o ecossistema da região.

Wallace explica que a pressão ameaça ser comprometida devido à ocupação das áreas de recarga do aquífero Urucuia, onde estão localizados os fervedouros, por produtores do agronegócio.

O agente pontua que projeto aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara permite a exploração de áreas de vegetação nativa predominantemente não florestais, como os campos nativos do Cerrado, que são cruciais para a manutenção das nascentes. Isso representa uma ameaça não apenas para o Jalapão, mas também para 48 milhões de hectares de áreas naturais em todo o país.

As áreas de recarga do aquífero Urucuia são responsáveis por 80% da vazão do rio São Francisco durante a seca, ressaltando sua importância para o equilíbrio hidrológico da região. A aprovação desse projeto comprometeria não só o turismo e a biodiversidade do Jalapão, mas também a proteção ambiental de todo o país.

O agente do Ibama ainda destaca que os ecossistemas campestres são fundamentais para a biodiversidade e para a prestação de serviços ecossistêmicos à sociedade, como a proteção de nascentes, o sequestro de carbono e a manutenção do solo. Além disso, essas áreas são essenciais para a cultura e o turismo regional.

“Conforme o texto aprovado, que altera o Código Florestal, as formas de vegetação nativa predominantemente não florestais, “como os campos gerais, os campos de altitude e os campos nativos”, serão consideradas áreas rurais consolidadas e, com isso, poderão ser exploradas”, comentou o agente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Wallace Lopes.

Wallace ainda complementa afirmando que se esse PL for sancionado, o problema não vai se restringir apenas ao Jalapão, o que por si só já justificaria a sua reprovação. Prejudicará também a proteção ambiental de 48 milhões de hectares de campos nativos em todo o país: 50% do Pantanal; 32% dos Pampas; 7% do Cerrado. “Embora o Brasil seja sempre lembrado pelas suas florestas, é importante ressaltar que 27% do território do país é originalmente coberto por campos e savanas. Os ecossistemas campestres são riquíssimos em biodiversidade, chegando a possuir 50 espécies de plantas nativas por m²”, complementou no X (antigo-Twitter).

“Ambientes campestres também sequestram carbono e depositam no solo, produzem água protegendo nascentes e sendo zonas de recarga de aquíferos, protegem o solo e polinizadores, numa gama enorme de serviços ecossistêmicos prestados à sociedade e ao próprio setor agrícola. Tomando por base apenas o caso do Jalapão, todo o polo turístico que gira em torno dos atrativos naturais, do artesanato e da cultura dos povos tradicionais como os quilombolas e geraizeiros está ameaçado”, completa Wallace.