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Lucas Eurilio
Os casos de estupros e estupros de vulneráveis têm aumentando muito em várias regiões do país e é um mal que precisa ser combatido, não apenas com a criação de políticas públicas, mas também com proteção e apoio às vítimas, conscientização tanto da família – que tem um papel fundamental – quanto do poder público para que não hajam mais casos, conscientização dentro das escolas, debates e vários outros mecanismos que possibilitem que a informação sobre o assunto chegue à todas as camadas sociais, principalmente aos que estão em risco diário.
Um levantamento feito pela Gazeta do Cerrado nesta sexta-feira, 30, mostra que infelizmente o Tocantins registrou entre 1º de janeiro até a data atual 392 casos, sendo 79 de estupro e outros 313 estupros de vulneráveis. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública (SSP-TO).
Ainda conforme os dados, os municípios em que mais ocorreram os crimes contra vulneráveis foram em Palmas (56), Araguaína (26), Porto Nacional (17), Gurupi (10), Colinas do Tocantins (9). Veja aqui nas demais cidades.
Já os crimes de estupros, os maiores índices são em Palmas (23), Araguaína (15), Araguatins (3), Porto Nacional (3), Tocantinópolis (3). Veja aqui nas demais cidades.
Em 2020 no mesmo período de 1/1/2020 até 30/06/2020 – 322
Por outro lado, em 2021 no mesmo período de 1/1/2021 até 30/06/2021 houve uma pequena redução – 316
Para tentar entender um pouco sobre os traumas que ficam para as vítimas e o que se passa na cabeça desses criminosos, nossa equipe entrevistou a psicóloga do desenvolvimento Raimara Lourenço.
Confira abaixo a entrevista completa
Gazeta do Cerrado – Você já atendeu alguma vítima de estupro?
Psicóloga Raimara – O índice de violência sexual no Brasil é altíssimo, principalmente contra mulheres e crianças. As meninas são as maiores vítimas, no entanto, meninos também sofrem violências sexuais. Embora eu já tenha recebido pessoas que em algum momento foram vítimas de estupro ou outro tipo de violência sexual, é esperado que nesses casos procurem primeiro atendimento de urgência em serviços de atenção à saúde da mulher ou em emergências de hospitais e até mesmo em Unidades Básicas de Saúde, isso quando a família ou a própria vítima não procura ajuda por temer a exposição de identidade diante de algo que gera traumas, sentimentos de culpa e vergonha. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública do ano de 2021, foram registrados 56.098 boletins de estupro contra mulheres e meninas no País. Sabemos que nem todos os casos de estupro são denunciados, então não dá pra ter exatidão do número real de pessoas violentadas devido a subnotificações de casos que não entram nos dados oficiais.
Gazeta do Cerrado – Como abordar a vítima de violência sexual ao perceber algum sinal?
Psicóloga Raimara – Na maioria das vezes, os casos de violência sexual são provocados dentro do próprio núcleo familiar, o que dificulta na proteção eficaz principalmente de crianças que são vulneráveis a sofrerem abusos. No entanto, a escola e outras instituições onde crianças circulam tem papel fundamental na proteção de crianças e adolescentes. Uma professora por exemplo, pode observar se algum aluno ou aluna teve mudança repentina de humor, se tem faltado muitas aulas de forma injustificável, se vai constantemente ao banheiro, se evacua fezes ou chora involuntariamente, dentre outros sinais que podem apontar que ele ou ela esteja sendo vítima de abuso sexual.
Gazeta do Cerrado – Quais possíveis traumas esse tipo de violência pode causar na vítima?
Psicóloga Raimara – Independente da idade de uma vítima de estupro, é necessário que esta tenha muito acolhimento e que passe por atendimentos especializados e que zelem pelo que a legislação e orientações técnicas propõe no manejo desses casos, tanto na rede pública de proteção quanto da família e amigos. Sofrer violências sexuais de quaisquer esfera é extremamente significativo e impacta muito a vida da vítima, pois esta pode enfrentar sequelas físicas, psíquicas e sociais. As consequências na saúde mental pode desencadear problemas na auto-estima, alterações no sono e no apetite, pode desenvolver transtornos psíquicos graves como ansiedade e depressão, prejudica na interação social e em tantas outras áreas da vida. Logo, é indispensável que pessoas vítimas de violência sexual passe por acompanhamentos psicológicos e receba recursos de proteção com uma rede de apoio fortalecida.
Gazeta do Cerrado – Esses criminosos também dão algum sinal? Como percebê-los?
Psicóloga Raimara – É muito difícil identificar um abusador ou estuprador, pois só pode ser nomeados assim ao cometer atos de violações sexuais e seja responsabilizado por tais. Existem até mulheres que são abusadoras também. Mas alguns comportamentos podem ser observados os quais sinalizam que a pessoa pode ser um estuprador em potencial, principalmente de crianças, adolescentes e de idosos, como por exemplo, a pessoa insiste em ficar muito tempo a sós em ambientes fechados com vulneráveis, abusadores usam redes sociais para aliciar vítimas, por isso é importante que haja um monitoramento do conteúdo consumido por crianças e adolescentes, caso seja visto algo suspeito denuncie ao 190.
Gazeta do Cerrado – Como psicóloga, o que você acha que se passa na cabeça de um estuprador para cometer esse tipo de crime?
Psicóloga Raimara – Não dá para saber o que passa na mente de um estuprador, o que se sabe é que historicamente eles existem a muito tempo, e que um dia foram crianças também, muitos deles até sofreram abusos e perpetuam de forma transgeracional. Acredito que a educação sexual mais efetiva com treinamento e capacitação de todos os atores sociais, é uma das ferramentas que podemos contar, ao menos para diminuir casos futuros de estupros, para que de alguma forma as crianças saibam onde pedir ajuda se forem vítimas, que consigam reconhecer o que é carinho e o que não é, e quando se tornarem adultas consigam respeitar os corpos alheios. Quando o estuprador é alguém da própria família, torna-se ainda mais difícil que seja denunciado, principalmente se este for o único responsável pela renda familiar ou obtém alguma posição hierárquica usando da mesma para ameças. Por isso é importante que as vítimas imediatamente sejam colocadas em local seguro até que o caso suspeito seja confirmado e as pessoas envolvidas presas. As denúncias em caso de violência sexual podem ser feitas nos seguintes contatos: Ao disque 100, aos conselhos Tutelares, às delegacias de polícias, à polícia militar, e à polícia federal.
Serviço de Atenção Especializado às Pessoas em Situação de Violência Sexual (Savis)
O Tocantins possui um serviço que atende 24 horas e 7 dias por semana, vítimas em situação de violência sexual. Criado em 2011, o Serviço de Atendimento Especializado às Pessoas em Situação de Violência Sexual (Savis), e funciona em Palmas, no Hospital e Maternidade Dona Regina Siqueira Campos acolhendo pessoas de todo o Estado e é referência para o Abortamento Legal, previsto em Lei.
Além do Dona Regina, o Savis funciona também no o Hospital Geral de Palmas (HGP) e no Hospital Materno Tia Dedé de Porto Nacional.
Além do atendimento psicológico, o Savis do oferece exames de sífilis (VDRL ou RSS), anti-HIV, hepatite B e C, hemograma e teste de gravidez (BHCG).