No mundo da alimentação, as notícias falsas também brotam e se multiplicam. Há de tudo, desde as que instituem os novos alimentos milagrosos, até as que, por exemplo, creditam a adição de cítricos aos refrigerantes a incidências de doenças —já desmentida.

A verdade é que quando se fala em nutrição, não existe ingrediente que possa ser mocinho ou vilão; o alimento industrializado tem o seu papel, assim como as substâncias adicionadas nos processos, e
o impacto negativo pode ser consequência da frequência do consumo, assim como as quantidades
ingeridas.

“Qualquer substância, mesmo uma simples erva, é suscetível a efeitos colaterais e sempre precisa
da orientação de um especialista”, diz Durval Ribas Filho, nutrólogo e presidente da Abran
(Associação Brasileira de Nutrologia).

Segundo ele, há uma citação antiga que diz que a versão de um fato científico não pode ser maior
que o fato científico. “Assim, os trabalhos científicos elaborados com rigor, junto a instituições de
ensino e pesquisa, e publicados em revistas que tenham um bom impacto científico, são os canais
adequados para se pesquisar as verdades científicas.”

Antes de repassar ou repetir uma informação, é fundamental pesquisar e certificar-se da sua
veracidade. A seguir, veja os mitos mais comuns envolvendo alimentos.

1. Fórmulas mágicas, como tomar água com limão em jejum ou comer abacaxi após as refeições para emagrecer

O presidente da Abran explica que, apesar dos nutrientes vitais que compõem cada um desses
alimentos, o limão não tem propriedades de aumentar a quebra de gorduras ou elevar o gasto
energético, assim como o abacaxi não tem capacidade de reduzir o peso corporal.

“A cada ano, surgem produtos, alimentos, nutrientes com superpoderes, mas o que as ciências nutricionais demonstram é que a diversidade na alimentação e a ingesta alimentar personalizada favorecem a longevidade com saudabilidade, sem o desenvolvimento de doenças crônicas degenerativas não transmissíveis.”
Durval Ribas Filho, nutrólogo e presidente da Abran

2. Culpar certos alimentos e excluí-los da dieta

Segundo os especialistas, não é raro as pessoas excluírem determinados alimentos da dieta por
conta própria, como frutas, por acharem que a frutose presente nelas é a responsável por provocar
malefícios ao organismo. Porém, de acordo com Patrícia Anno, nutricionista funcional,
comportamental e esportiva, a frutose que pode fazer mal não é da fruta, mas a obtida de maneira
artificial e adicionada a alimentos industrializados.

“O carboidrato também foi excluído por muitas pessoas de suas dietas pelo medo de engordar, por
não entenderem que é a principal fonte de energia para o corpo”, exemplifica a nutricionista.

3. Achar que opções sem glúten são mais saudáveis

Muitos acreditam que alimentos sem glúten são mais saudáveis. Mas uma pesquisa realizada pela
nutricionista Tainá Fernandes Drub, para identificar a percepção dos consumidores frente aos
produtos sem glúten, encontrou desinformação, como confundir glúten com carboidrato, sendo na
verdade uma proteína; achar que possui menor índice glicêmico —que não depende da presença do
glúten.

Há muitos que também acreditam que ao retirar o glúten irão reduzir o risco de doenças da tireoide
—algo que não tem comprovação científica. Na verdade, o glúten só faz mal mesmo para quem
tem doença celíaca.

4. Acreditar em vilões, como o leite

O leite figura entre os itens sobre os quais mais circulam notícias falsas, incluindo adição de
substâncias, como formol, e a ideia —também mentirosa— de que há escalas coloridas no fundo
das caixas de leite UHT para marcar quantas vezes o produto voltou para o reprocessamento.
Na primeira situação, até houve problemas de adulteração do leite em 2013, por empresas do RS,
mas somente por um caso não faz sentido que a informação ainda esteja sendo divulgada de forma
vaga e alarmista. Quanto ao segundo caso, as barras coloridas se referem à impressão das
embalagens.

Fábio Moura, endocrinologista e diretor da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia), lembra que também não há comprovação científica sobre a relação entre a ingestão
de leite e derivados e o risco de câncer.

5. Aditivos e conservantes são sempre ruins

Renata Faraco Fantaccini, engenheira de alimentos e vice-presidente da ABEA-SP (Associação
Brasileira de Engenheiros de Alimentos do Estado de SP), esclarece que aditivos e conservantes
são ingredientes que auxiliam na manutenção da estabilidade do produto processado, garantindo
que chegue à mesa do consumidor livre de qualquer alteração que coloque em risco a saúde.

A engenheira de alimentos cita que entre os aditivos estão gomas como a carragena, que é um gel
extraído de algas marinhas, e a lecitina, extraída da soja. Entre os conservantes: o ácido ascórbico
(vitamina C), ácido acético (vinagre), sal, ervas aromáticas.

Todos os aditivos têm suas especificações de uso e quantidades estabelecidas pela Anvisa e, rigidamente, seguidas pelas indústrias, que têm licença de funcionamento, inclusive atrelada às boas práticas de fabricação, obrigatoriedade de realização de análises laboratoriais em estabelecimentos habilitados pela Agência e mais a apresentação de uma infinidade de documentos técnicos que são elaborados, implantados e acompanhados sempre por um profissional responsável
técnico pela operação industrial.
Renata Faraco Fantaccini, engenheira de alimentos e vice-presidente da ABEA-SP

Na opinião dela, muitas vezes essas informações são apresentadas por meio de nomenclaturas nos
rótulos o que pode levar a divulgações equivocadas devido ao desconhecimento. “Existem, sim, os
aditivos chamados sintéticos, não encontrados na natureza, mas todos produzidos com ingredientes de graus alimentícios e regulamentados pela Anvisa”, enfatiza.

O problema, como qualquer alimento, é exagerar na dose. Diversos estudos em animais mostram
associação entre o consumo excessivo com o surgimento de algumas doenças crônicas.

6. Glutamato monossódico é maléfico

O glutamato monossódico é um aditivo usado pela indústria para realçar o sabor dos alimentos.
Apesar de ser relacionado à obesidade constantemente por perfis nas redes sociais, não há
resultados conclusivos sobre essa associação. O problema, de novo, é a dose. Isso porque os
estudos disponíveis têm resultados inconclusivos quanto à quantidade diária permitida para
consumo.

Sabe-se, entretanto, que o excesso a longo prazo pode trazer danos à saúde, como dor de cabeça,
alteração na memória, na cognição, além de agitação.

Mas estudos realizados pela FEA (Faculdade de Engenharia de Alimentos) da Unicamp sugerem
que a substituição do sal de cozinha pelo glutamato traria benefícios à saúde pela redução do sódio.

Onde encontrar informações corretas?

Duvidar, questionar e buscar informações corretas e com especialistas são as orientações dos
profissionais consultados.

As embalagens dos alimentos, desde outubro de 2022, são obrigadas a apresentarem rotulagem
frontal para os produtos com altos teores de sódio, gordura e açúcar.

Aplicativo Desrotulando permite consultar a pontuação do alimento, de acordo com quantidades de
açúcar, sal, gorduras e aditivos, ao apontar a câmera do celular para o código de barras presente na
embalagem.

O SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor) das fabricantes.

Fontes: Danielle Macellaro, endocrinologista, membro da SBEM (Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia) e médica colaboradora do Ambulatório de Tireoide da EPM – Unifesp; Durval Ribas Filho, endocrinologista, nutrólogo e presidente da Abran (Associação
Brasileira de Nutrologia); Fábio Moura, endocrinologista e diretor da SBEM; Patrícia Anno,
nutricionista funcional, comportamental e esportiva; Raquel Penha e Silva, nutricionista clínica e
estética; Renata Faraco Fantaccini, engenheira de alimentos e vice-presidente da Abea-SP
(Associação Brasileira de Engenheiros de Alimentos do Estado de SP).

Referências: ABIA (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) e Instrução Normativa (IN
nº 211, de 1 de março de 2023), que estabelece as funções tecnológicas, os limites máximos e as
condições de uso para os aditivos alimentares e os coadjuvantes de tecnologia autorizados para
uso em alimentos.

 

Fonte: UOL