A Groenlândia perdeu mais de 10 bilhões de toneladas de gelo para os oceanos somente na última quarta-feira (31), informou neste sábado (3) a agência de notícias Associated Press. Em todo o mês de julho, a ilha perdeu 197 bilhões de toneladas de gelo.
Para entender o quanto de gelo está sendo perdido, um bilhão de toneladas equivale a cerca de 400 mil piscinas olímpicas, informou o Instituto Meteorológico da Dinamarca. E 100 bilhões de toneladas correspondem a um aumento de 0,28 mm no nível do mar global.
A área da camada de gelo da Groenlândia que mostra sinais de derretimento cresce todos os dias e atingiu um recorde de 56,5% para este ano na última quarta-feira (31), disse Ruth Mottram, cientista climática do Instituto Meteorológico da Dinamarca.
Na imagem, do dia 1º de agosto, rios de água derretendo se formam na camada de gelo no oeste da Groenlândia. A onda de calor que atingiu a Europa na semana passada está agora sobre a Groenlândia. — Foto: Caspar Haarløv, Into the Ice via AP
A área de derretimento é a segunda maior em termos de área de gelo afetada, depois de 90% em 2012, afirmou Mark Serreze, diretor do Centro de Dados de Neve e Gelo em Boulder, Colorado, que monitora as coberturas de gelo globalmente . Os registros remontam a 1981.
A Groenlândia, a maior ilha do mundo, é um território dinamarquês semiautônomo que fica entre os oceanos Atlântico e Ártico, com 82% de sua superfície coberta de gelo.
A onda de calor que quebrou recordes de alta temperatura em cinco países europeus na semana passada está agora sobre a ilha – o que acelera o derretimento da camada de gelo ali e também causa uma enorme perda de gelo no Ártico.
Na imagem, do dia 1º de agosto, rios de água derretendo se formam na camada de gelo no oeste da Groenlândia. A onda de calor que atingiu a Europa na semana passada está agora sobre a Groenlândia. — Foto: Caspar Haarløv, Into the Ice via AP
Segundo Ruth Mottram, a perda registrada nesta semana provavelmente atingiu o ápice na quinta-feira (1º), mas a previsão a longo prazo é de tempo quente e ensolarado para a Groenlândia – o que fará a perda de gelo continuar mesmo se as temperaturas não forem tão altas.
“Nos últimos dois dias, você conseguia ver a onda quente passando pela Groenlândia”, disse a cientista, em entrevista na última quinta-feira (1º). “Aquele pico de ar quente passou pelo cume da camada de gelo, mas os céus claros são quase tão importantes, ou talvez até mais importantes, para o derretimento total da camada de gelo.”
A cientista disse que, desde 1º de junho – aproximadamente o início da temporada de perda de gelo, que vai até o final de agosto – a camada de gelo da Groenlândia perdeu 240 gigatoneladas (240 bilhões de toneladas) este ano. Isso se compara a 290 gigatoneladas perdidas na temporada de 2012.
Na imagem, do dia 1º de agosto, rios de água derretendo se formam na camada de gelo no oeste da Groenlândia. A onda de calor que atingiu a Europa na semana passada está agora sobre a Groenlândia. — Foto: Caspar Haarløv, Into the Ice via AP
Um estudo realizado em junho de 2019 por cientistas nos EUA e Dinamarca constatou que o derretimento do gelo na Groenlândia adicionará entre 5 e 33 centímetros ao nível do mar global até o ano de 2100. Se todo o gelo da Groenlândia derretesse – o que levaria séculos – os oceanos do mundo subiriam 7,2 metros, segundo o estudo.
Múltiplos fatores
Muito do que derrete pode voltar a congelar, mas neste ano pode ser diferente. Os cientistas observaram uma longa acumulação de fatores até o derretimento de gelo deste verão europeu, incluindo temperaturas gerais mais altas por meses e um inverno muito seco, com pouca neve, em muitos lugares – que normalmente ofereceria alguma proteção ao gelo glacial.
Por causa desses fatores, a quantidade de gelo perdida neste ano pode ser a mesma de 2012 ou mais, segundo os cientistas.
Na foto, de 13 de junho, pequenos pedaços de gelo boiam na água em Nuuk, na Groenlândia. — Foto: Sandy Virgo/AP
“Este é certamente um evento climático sobreposto a esta tendência geral de condições mais quentes” que têm derretido cada vez mais o gelo da Groenlândia a longo prazo, disse Mark Serreze.
Para agravar o derretimento, a camada de gelo da Groenlândia começou mais baixa neste ano por causa do baixo acúmulo de gelo e neve, disse a cientista do Centro de Dados de Neve e Gelo Twila Moon.
Com a mudança climática provocada pelo homem, “há um potencial para que esses tipos de índices se tornem mais comuns daqui a 50 anos”, disse Moon.
Na foto, de 20 de junho, pedaços de gelo boiam na água perto da montanha de Sadelo, em Nuuk, na Groenlândia. — Foto: Keith Virgo/AP
Ondas de calor sempre ocorreram, mas Mike Sparrow, porta-voz da Organização Meteorológica Mundial, ligada à ONU, observou que, à medida que as temperaturas globais aumentam, ondas de calor extremas estão ocorrendo pelo menos dez vezes mais do que um século atrás. Este ano, o mundo viu o mês de junho mais quente de todos os tempos.
“Esse tipo de onda de calor é um fenômeno climático e pode ocorrer naturalmente, mas estudos vêm mostrando que tanto a frequência como a intensidade dessas ondas de calor aumentaram devido ao aquecimento global”, disse Sparrow, em entrevista à Associated Press.
Ele observou que o gelo do mar espalhado no Ártico e na Antártida estão atualmente em baixas recordes.
“Quando as pessoas falam sobre a temperatura média global aumentando em pouco mais de 1ºC, isso não é uma quantia enorme para perceber se você está sentado em Hamburgo ou Londres, mas isso é uma média global – e é muito maior nas regiões polares”, disse Sparrow.
Incêndios
A foto, de 29 de julho, mostra o incêndio na floresta na região de Krasnoyarsk, no leste da Rússia. O fogo já atingiu 30 mil quilômetros quadrados na Sibéria e no leste russo. — Foto: Russian Federal Agency of Forestry via AP
A Groenlândia também tem lutado contra uma enorme quantidade de incêndios florestais no Ártico, algo que Mottram afirmou ser incomum no passado.
Os incêndios também têm causado problemas na Rússia. Provocados pelo tempo quente e seco e pela propagação de ventos fortes, já atingem quase 30 mil km² de território na Sibéria e no extremo oriente do país – uma área do tamanho da Bélgica.
A fumaça desses incêndios, alguns deles no território do Ártico, é tão pesada que pode ser vista facilmente em fotos de satélite, e está causando problemas de qualidade do ar – incluindo na terceira maior cidade da Rússia, Novosibirsk. Os moradores querem que o governo faça mais para combater as chamas.
Fonte: G1