Lucas Eurilio/Repórter Gazeta do Cerrado
Uma manifestação está sendo alvo de polêmica em Araguaína, região norte do Tocantins. Um texto postado nas redes social, o evento “Queima Ao Vivo” diz que vai queimar feministas doentes, abortistas e quem chama Jesus de travesti. Por incitar a violência e o preconceito, a Defensoria Pública do Estado do Tocantins (DPE) entrou na Justiça para que o protesto não aconteça.
Segundo o defensor Sandro Ferreira, do Núcleo de Minorias e Ações Coletivas (Nuamac), o próprio nome do evento dá encejo a pensar na organização de uma fogueira pública. “A convocação para “queimar as feministas doentes” é uma frase inimaginável num Estado de Direito e se aproxima dos períodos mais cruéis de nossa história, como holocausto e inquisição”, afirmou Sandro Ferreira .
Bernadete Aparecida Ferreira, educadora feminista, bacharel em direito e Mestre em direitos humanos, militante da Articulação de Mulheres Brasileiras, esse tipo de incitação ao ódio acontece porque há muitos interesses políticos em jogo.
“A promessa de queimar feministas nojentas e suas pautas, é porque essas mulheres incomodam. E como o convecimento das outras pessoas sobre nossas lutas, nossos direitos, está sendo cada vez mais pela democracia, pelo raciocínio logico, pelo bom senso, a saída dos facistas será uma saída violenta”, afirmou à Gazeta do Cerrado.
Bernadete disse ainda que horas das mulheres acreditarem uma nas outras porque o movimento feminista é um dos que mais crescem no Brasil e no mundo.
“Nós precisamos acreditar uma nas outras e isso não está acontecendo por conta do pânico, pelo efeito do terrorismo e pelas divisões políticas. Então é hora termos a solidariedade e sororidade tão deseja entre nós mesma. Porque nessa fogueira eles vão queimar a chance de defender a vida das mulheres, defender o poder de decisão das mulheres sob seus próprios corpos que é o principal”.
A advogada Verônica Salustiano Veronica membro da Coordenação Executiva Nacional da ABJD e defensora do direito das mulheres, disse que vários fatores culminam nesse tipo de violência.
“Podemos citar que nossa sociedade é calçada em uma cultura patriarcal que foi durante muito tempo não só abarcada pela religiosidade mas também pela legislação. E há ainda no imaginário e comportamento das pessoas a visão da mulher como não cidadã. Somente em 1932 as mulheres conquistaram o direito ao voto no Brasil, por exemplo. É muito recente. Quanto mais há conquistas de direitos e inserção da mulher em espaços que ela anteriormente não ocupava, há uma reação contrária”, disse à Gazeta.
Com discursos de ódio sendo transformados em uma triste realidade em nosso país, por conta do momento político em que estamos vivendo, a advogada é taxativa. Veronica disse que diante do cenário que estamos vivenciando, há uma forte polarização que diz respeito ao projeto de país que nós teremos.
“De um lado há setores preocupados com essas conquistas de direitos, sua manutenção e ampliação, de outro há setores que ainda vêem a mulher com um papel social que não acompanha o avanço da sociedade e preserva o patriarcado como forma de organização, quer seja por valores morais, quer seja por valores religiosos”.
Por fim, a advogada afirmou que “a saída para que esses problemas sejam diminuídos é mais democracia. Mais equidade no tratamento não só no âmbito da legislação entre homens e mulheres, mas que estes sejam cumpridos e observados por todos e todas que se submetem ao Estado Democrático de Direito, com instituições capazes de perseguir essa finalidade, de dar condições de vida digna a todos e todas as brasileiras, considerando suas diferenças e agindo para dirimi-las no âmbito das oportunidades”.