Um crânio de 210 mil anos achado na Grécia foi identificado como o mais antigo Homo sapiens fora da África, o que antecipa em mais de 150 mil anos a previsão dos cientistas sobre a chegada do homem à Europa, afirmaram pesquisadores nesta quarta-feira (10/07).
A descoberta ocorre após uma equipe internacional de pesquisadores reexaminar dois crânios fossilizados que haviam sido encontrados nos anos 1970 na caverna de Apidima, no sul da Grécia. Na época, eles foram catalogados como Neandertais.
No novo estudo, publicado na revista científica Nature, os cientistas usaram reconstrução digital de última geração e um sistema de datação por urânio para reanalisar os ossos. Um dos crânios, chamado de Apidima 2, em homenagem à caverna onde o par foi encontrado, provou ter 170 mil anos de idade e pertencer, de fato, a um Neandertal.
Mas, para o choque dos cientistas, o crânio chamado de Apidima 1, 40 mil anos mais velho que Apidima 2, revelou ser de um Homo sapiens. Isso torna Apidima 1 o mais antigo ser humano moderno já descoberto no continente e, ainda, mais antigo do que qualquer outro espécime conhecido de Homo sapiens fora da África.
“Isso mostra que a primeira dispersão do Homo sapiens fora da África não só ocorreu antes do que se pensava, há mais de 200 mil anos, mas também que foi geograficamente mais longe, até a Europa”, afirma Katerina Harvati, paleoantropologista da Universidade de Tübingen, no sul da Alemanha.
“É algo que não suspeitávamos antes, e que tem implicações para os movimentos populacionais desses grupos antigos”, acrescenta Harvati, coautora do estudo.
A descoberta, que muda a compreensão sobre como o homem moderno povoou a Eurásia, dá base à ideia de que o Homo sapiens fez várias migrações a partir da África, por vezes sem sucesso, ao longo de dezenas de milhares de anos.
O sudeste da Europa tem sido considerado um corredor de transporte principal para humanos modernos vindos da África. Mas, até agora, as primeiras evidências de Homo sapiens no continente datavam de cerca de 50 mil anos.
Eric Delson, do Lehman College, em Nova York, que não participou do estudo, afirma que a revelação foi algo surpreendente, mas que o sudeste da Europa “faz muito sentido” para uma descoberta tão antiga. Agora, a questão é saber o que aconteceu com essas pessoas, diz ele.
Mas outros cientistas não estão convencidos de que a idade e a identificação do fóssil estão corretas. Warren Sharp, um especialista em fósseis do Centro de Geocronologia de Berkeley, na Califórnia, afirma que a idade de 210 mil anos “não é bem respaldada pelos dados”.
Ian Tattersall, do Museu Americano de História Natural, em Nova York, diz que a identificação do fóssil como Homo sapiens é sugestiva, mas é incompleta e carece de características que tornariam a identificação mais sólida.
Em resposta, Harvati afirma que a parte de trás do crânio é muito eficaz para diferenciar um Homo sapiens de um Neandertal e de outras espécies relacionadas, e que várias linhas de evidência respaldam a identificação.
Fonte: DW