“A saúde pública não pode mais ignorar os travestis, não pode continuar dando
as costas para essas minorias… Quem somos nós para condená-los? Os hospitais
públicos deveriam ser obrigados a criar pelo menos um posto de atendimento
especializado nos problemas médicos mais comuns entre os travestis.” A partir
da declaração do médico Drauzio Varella, em artigo publicado na Folha de São
Paulo ainda no ano de 2009, a sociedade brasileira passou a discutir a falta
de políticas de saúde para a comunidade T.

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De acordo com a presidente da Atrato – Associação das Travestis e Transexuais
do Estado do Tocantins, Byanca Andressa Vieira Marchiori, no Tocantins também
não há atendimento especializado para o público T (travestis e transexuais).
“Nosso Estado é muito atrasado em políticas de saúde para os LGBTs de forma
geral. Na hora de adquirir medicamentos, hormônios ou até implantes de
silicones, a maioria tem que recorrer a processos indiscriminadamente”,
anuncia. Segundo Bianca, há relatos até de morte nesse processo. “Temos amigas
que foram a Goiânia procurar uma bombadeira [mulher que aplica silicone com
injeção de cavalo e silicone industrial] e chegaram a óbito porque, na maioria
dos casos acontece a necrose ou o corpo não absorve”, denuncia a presidente.

Da mesma forma, acontece com a aquisição de medicamentos, cirurgias,
tratamentos e aquisição de hormônios. Segundo Byanca, mesmo colocando a vida
em risco, muitas travestis e transexuais decidem pelo procedimento incorreto
pela falta de acesso na saúde pública. Ela faz o uso de hormônios por meio da
terapia hormonal e relata as dificuldades na aquisição dos medicamentos,
devido ao custo e também no direcionamento do tratamento. “Com o ambulatório
especializado teríamos a possibilidade de realizar o tratamento hormonal com
segurança, com acompanhamento médico, e dos demais profissionais da saúde.
Recebendo de forma correta quanto à melhor forma de se realizar o tratamento
hormonal e que medicamentos utilizar.”

Criação
Com o intuito de mudar essa realidade, será implantado em breve na Capital o
Ambulatório de Travestis e Transexuais. A implantação está definida em
portaria do Ministério da Saúde e deve acontecer em até 30 dias. Para isso,
uma série de reuniões está acontecendo na cidade com a participação de
representantes da Defensoria Pública do Tocantins, Ministério Público
Estadual, representantes da Atrato e da Secretaria de Saúde de Palmas. Um
destes encontros aconteceu na tarde desta terça-feira, 15, na Sala do Conselho
Superior da Defensoria Pública do Tocantins, com o intuito de apresentar e
debater a implantação do ambulatório.

De acordo com a defensora pública Letícia Amorim, o serviço tem por objetivo
atender as travestis e transexuais de forma integral. “É necessário ampliar o
acesso desta população à prevenção, proteção e assistência à saúde, além de
ofertar atenção integral às suas necessidades, inclusive suas especificidades,
entre elas a utilização de hormônios e silicone”, disse a Defensora, que é
coordenadora do NUAmac Palmas – Núcleo Aplicado de Defesa das Minorias e Ações
Coletivas de Palmas. Diversas ações de combate que focam os direitos
fundamentais e respeito à diversidade sexual estão na pauta do Núcleo, como
coletivo permanente, rodas de conversas, debates, nome social e atendimento
jurídico especializado, dentre outros.

Os principais procedimentos oferecidos pelo ambulatório são: acolhimento;
avaliação médica, endocrinológica, proctológica, fonoaudiológica e de Saúde
Mental. O objetivo é garantir a equidade do acesso e orientar as boas práticas
assistenciais, primando pela humanização e pelo combate aos processos
discriminatórios como estratégias para a recuperação e a promoção da saúde.