Três deputados estaduais MDB do Rio de Janeiro estão na mira dos investigadores do caso Marielle Franco, segundo informou nesta quinta-feira, 9, à alguns veículos de imprensa, o também deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL). São eles: Edson Albertassi, Paulo Melo e Jorge Picciani, este último um dos principais caciques do partido no Estado e ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio (ALERJ). Os parlamentares foram presos no ano passado pelo braço da Operação Lava Jato no Rio, acusados de terem recebido propinas milionárias de empresários de ônibus. Freixo, mentor político da vereadora, se reuniu com dois delegados da Divisão de Homicídios da Polícia Civil e procuradores do Ministério Público Federal (MPF) no dia 14 de junho para discutir o tema. A reunião foi confirmada tanto pelo deputado como pelo MPF. Em entrevista ao programa RJ TV, o deputado cobrou que os parlamentares sejam investigados e disse que irá prestar depoimento quando for chamado.

 

A suspeita remonta a novembro de 2017, pouco antes da Polícia Federal deflagrar a operação Cadeia Velha, que investigava Melo, Picciani e Albertassi. Este último foi então indicado para uma vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, onde ganharia foro privilegiado e, por isso, teria seu caso levado ao Superior Tribunal de Justiça e não à Justiça comum. Diante da suspeita de que o grupo manobrava para escapar da investigação, a oposição, liderada pelo PSOL, questionou a indicação e conseguiu, em 13 de novembro, uma liminar na segunda instância que suspendia a posse de Albertassi. Ele foi levado coercitivamente no dia seguinte para depor e, pouco depois, foi preso junto com os outros dois colegas. O grupo é acusado de receber mais de 100 milhões de reais de propinas de empresários de ônibus.

 

Agora, suspeita-se que, por causa desse movimento do PSOL, liderado por Freixo na Alerj, os políticos do MDB fluminense possivelmente queriam se vingar do parlamentar. “Eu já vinha denunciando ações do grupo do MDB há muito tempo. Eu nunca ganhei na Justiça uma ação contra esse grupo. Desta vez, eu ganhei. Desta vez, eles foram impedidos de assumir o Tribunal de Contas”, explicou Freixo à TV Globo. “Isso gerou uma consequência. Eles foram presos. Evidente que algo se quebrou. Alguma coisa mudou na relação dentro da Assembleia Legislativa, que certamente gerou ódio e raiva isso tem que ser investigado”.

O deputado estadual do PSOL também disse que ainda não foi chamado para depor. “Os delegados conversaram comigo e com os procuradores, falaram do interesse nessa linha de investigação sobre o caso Marielle e perguntaram se nós toparíamos depor…”, contou. E acrescentou: “Tanto eu quanto os procuradores nos colocamos à disposição para depor na hora que a delegacia de homicídios entendesse que fosse necessário. Isso foi no dia 14 de junho”.

Marielle trabalhou com Freixo na Alerj durante 10 anos, até se candidatar a vereadora, e participou dos trabalhos da CPI das Milícias, que colocou o parlamentar do PSOL na mira do crime organizado do Rio. Os dois eram muito próximos, motivo pelo qual as hipóteses analisadas pelos investigadores consideram que os mandantes queriam de alguma forma se vingar ou atingir Freixo. Até o momento, a principal linha de investigação vem sendo justamente a milícia, sobretudo a liderada pelo ex-policial Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlado Curicica. Ele foi acusado por uma testemunha de ter ordenado, junto com o vereador Marcello Siciliano (PHS), a execução da vereadora. Ambos negam. Segundo o delator, as atividades de Marielle na zona oeste estavam atrapalhando os interesses dos criminosos.

O teor do depoimento da testemunha foi revelado pelo jornal O Globo no dia 8 de maio, mas desde então amigos e familiares da vereadora mantêm cautela sobre sua versão. Freixo declarou recentemente a este jornal que o vazamento dessa delação atrapalhou as apurações e serviu para desviar o foco da polícia. Mas agora parece ser diferente. O deputado estadual veio à público para comentar uma das linhas de investigações e pressionar a Delegacia de Homicídios para que ela seja feito, colocando-se publicamente disponível para depor. Dois dias antes, na terça-feira, o ministro da Segurança Pública Raul Jungmann concedeu uma entrevista ao Entre Aspas, da Globo News, em que também apontava para agentes do Estado e políticos. “Esse assassinato da Marielle envolve agentes do Estado. Envolve, inclusive, setores ligados a órgãos do Estado e a órgãos de representação política”. afirmou.

Marielle Franco foi brutalmente executada junto com seu motorista, Anderson Gomes, no último 14 de março após deixar um debate com outras mulheres no centro do Rio. O crime está prestes a completar cinco meses, mas até o momento nenhum suspeito foi formalmente apontado. As investigações permanecem sigilosas.

À revista Veja, o advogado de Albertassi, Márcio Delambert, afirmou que a suspeita sobre seu cliente não passa de “hipótese fantasiosa, indigna de fé”. Também para a publicação, Jorge Picciani enviou nota, em que afirma que Marcelo Freixo age de forma irresponsável, sem nenhum limite ético na sua ambição política” e que sua “mentira distorce fatos corriqueiros”. “Não é verdadeiro me vincular à indicação do deputado Albertassi a uma vaga do TCE. Não falei com nenhum técnico do TCE que era candidato e também não buscava fórum no STJ, pois eu não sabia da investigação que ocorria e que estava sob sigilo.” Ambos dizem que tomarão “medidas judiciais cabíveis” contra o deputado do PSOL. A defesa de Paulo Melo ainda não se pronunciou sobre as acusações.

Fonte: El País