Brener Nunes – Gazeta do Cerrado
A jornalista Herica Rocha denunciou e relatou na manhã desta segunda-feira, 16, em suas redes sociais, o ato de racismo estrutural que sofreu nesse domingo, 16, em uma loja de um shopping de Palmas.
Tudo aconteceu enquanto Herica aguardava a vendedora da loja buscar seu produto no estoque. “Estava eu, cliente, mulher negra, vestida num shortinho, blusinha básica, chinelinho rasteirinha, coque no cabelo, ao lado duas mulheres brancas, também clientes, uma com traje parecido com o meu e a outra de vestidinho básico”, disse.
Segundo relatou, de repente, entra outra mulher branca no estabelecimento e se dirigiu a ela falando em um tom bastante alto e ordenando que lhe mostrasse determinado produto. “Tomada pelo susto do momento, fiquei imóvel olhando para a mulher branca enquanto era observada pelas outras duas mulheres brancas que estavam no interior da loja comigo”, contou a jornalista.
No relato, Herica diz que a mulher ficou indignada com o seu silêncio. “A mulher branca falou ainda mais alto, agora exigindo saber se eu poderia buscar o produto pra ela ver, pois ela queria comprar”.
No mesmo momento, a vendedora, uma mulher branca, que estava atendendo Herica, surge para entregar o seu produto. “Nesse instante a mulher branca me olha e apenas diz: é, pelo jeito não tem outra vendedora para me atender”, destaca.
Herica conta que apenas deu as costas para a senhora branca. “Tremendo de nervoso continuei meu diálogo com a vendedora enquanto as outras duas clientes brancas me olhavam e a tal senhora branca saía da loja estressada sem esperar atendimento”.
Em sua publicação, a jornalista deixa claro que o fato de ser confundida com uma vendedora, não a causou indignação ou incômodo, afinal, é um ofício como tantos e tem seu valor como todos.
Herica conta que o que mais a deixou perplexa foi refletir o que teria levado a mulher branca a entrar naquela loja, ver três clientes e automaticamente se dirigir a ela, negra, de forma tão grosseira escancarando seu racismo de forma espontânea. “Saí do shopping me perguntando: quando uma pessoa branca irá olhar para uma pessoa negra e vê-la em pé de igualdade com a sua posição, condição ou status? Você que está lendo pode querer dizer: Hérica, deixa de mimimi, isso foi um caso isolado. Não, amigos, não foi não”, questionou nas redes sociais.
Ela desabafa, falando que ao longo dos seus 40 anos de vida eu convive rotineiramente com esses enganos em vários lugares por onde anda e a narrativa se repete sempre do mesmo modo. “O mesmo episódio já aconteceu dentro do supermercado, na feira quando vou comprar alface, na padaria, restaurantes e até mesmo na concessionária onde levo meu carro para a revisão”, relembra.
Herica diz que mesmo eu estando cercada de pessoas brancas, quando uma outra pessoa branca entra em um desses lugares imediatamente a apontam como “AQUELA QUE DEVE LHES SERVIR”. “Na maioria das vezes é um tratamento grosseiro sim. Eu estou cansada desse racismo de m*rda”, finaliza seu relato.
É 2021 e a gente precisa seguir discutindo e expondo o racismo estrutural entranhado em nossas vidas, passado de geração a geração, sim. Segue o fio, por favor!#racismo #racismoestrutural#pretosepretasnopoder#jornalismopreto#noticiapreta#midianinja#jornalistaslivres
— Hérica Rocha (@hericarocha) August 16, 2021
O que é o racismo estrutural
De maneira ainda mais branda e por muito tempo imperceptível, essa forma de racismo tende a ser ainda mais perigosa por ser de difícil percepção. Trata-se de um conjunto de práticas, hábitos, situações e falas embutido em nossos costumes e que promove, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial. Podemos tomar como exemplos duas situações:
1. O acesso de negros e indígenas a locais que foram, por muito tempo, espaços exclusivos da elite, como universidades. O número de negros que tinham acesso aos cursos superiores de Medicina no Brasil antes das leis de cotas era ínfimo, ao passo que a população negra estava relacionada, em sua maioria, à falta de acesso à escolaridade, à pobreza e à exclusão social.
2. Falas e hábitos pejorativos incorporados ao nosso cotidiano tendem a reforçar essa forma de racismo, visto que promovem a exclusão e o preconceito mesmo que indiretamente. Essa forma de racismo manifesta-se quando usamos expressões racistas, mesmo que por desconhecimento de sua origem, como a palavra “denegrir”. Também acontece quando fazemos piadas que associam negros e indígenas a situações vexatórias, degradantes ou criminosas ou quando desconfiamos da índole de alguém por sua cor de pele. Outra forma de racismo estrutural muito praticado, mesmo sem intenção ofensiva, é a adoção de eufemismos para se referir a negros ou pretos, como as palavras “moreno” e “pessoa de cor”. Essa atitude evidencia um desconforto das pessoas, em geral, ao utilizar as palavras “negro” ou “preto” pelo estigma social que a população negra recebeu ao longo dos anos. Porém, ser negro ou preto não é motivo de vergonha, pelo contrário, deve ser encarado como motivo de orgulho, o que derruba a necessidade de se “suavizar” as denominações étnicas com eufemismos.
Com informações do Brasil Escola