Várias aldeias foram atingidas pelas cheias do Rio Formosos – Foto – INDITINS/Divulgação
Foram entregues esta semana, 47 cestas básicas e 40 litros de combustível para as aldeias Camtàgê e Takaywrá, pertencentes ao Povo Krahô Kanela e Krahô Takaywrá que foram atingidas pela cheia do Rio Formoso, em Lagoa da Confusão, sudeste do Tocantins. A campanha Socorro Indígena é organizada pelo Instituto Indígena do Tocantins (INDTINS) em parceria com Movimento dos Direitos Humanos do Tocantins (MDHTO), Centro de Direitos Humanos de Palmas (CDHP) e o Projeto CasAzul.
O alagamento nas aldeias começou na última semana de janeiro, o aumento do nível da água do Rio Formoso alagou dezenas de casas na aldeia Takaywrá, mais de dez famílias foram abrigadas em Kit Nets alugadas pela prefeitura de Lagoa da Confusão. A inundação também destruiu a roça da aldeia Camtàgê, a comunidade usa uma bomba de água e um muro de areia com vala na terra para afastar a água das casas e de sua escola. As aldeias Bela Vista e Boa Esperança, do Povo Javaé, também estão sob risco de enchente.
Na entrega dos recursos estiveram presentes o primeiro tesoureiro do INDTINS, Célio Kanela, a Secretária dos Povos Originários e Tradicionais, do Tocantins (SEPOT), Narubia Werreria e a Secretária Municipal de Governo e Assuntos Indígenas de Lagoa da Confusão, Pedrina Neta. O transporte das cestas básicas e do combustível foi possível graças a articulação da SEPOT e do apoio da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH).
Além da entrega das cestas o Instituto e as autoridades presentes conversaram com as comunidades, no diálogo com o Povo Krahô Takaywrá, Célio Kanela relembrou que esta não é primeira enchente enfrentada pela aldeia. “É triste ver essa situação, mas para gente não é novidade, para mim que estou acompanhando essa comunidade a bastante tempo, a gente que sempre esteve aqui acompanhando essas demandas, agora a luta continua, para garantir os direitos de vocês” O tesoureiro também agradeceu o Centro de Direitos Humanos de Cristalândia que doou 40 litros de gasolina para a comunidade, a gasolina é usada no motor que retira água da aldeia Camtàgê.
O Cacique Wagner Katamy Krahô-Kanela, descreveu os desafios de impedir o avanço da água sobre a aldeia. “Aqui a gente tem enfrentado a dificuldade de alagamento, no ano de 2022 a aldeia foi alagada 90% e aí a gente começou a articular o aterramento por meio da AGETO [Agência de Transportes, Obras e Infraestrutura], mas não concluiu tudo porque já era período da chuva. A fazenda Frutaque fez esse dique que é nossa proteção contra água, só que o lado mais baixo quebrou em três lugares, a água entrou e está na beira de quatro casas”. Wagner agradeceu em nome da comunidade a ajuda prestada pela campanha e pelo Governo estadual.
O apoio da SEPOT na demarcação e proteção dos territórios foi reiterado pela Secretária “Eu já estava muito preocupada, já estava agindo, mas a partir de agora, depois de ver a realidade é diferente, vou estar todos os dias trabalhando para que seja reso lvido o mais rápido possível”.
O Povo Krahô Takaywrá espera há mais 40 anos pela demarcação de seu território, os alagamentos em sua aldeia costumam acontecer todo o ano, pois a comunidade vive desde 2008 em uma Área de Proteção Permanente (APP) que é zona de alagamento do Rio Formoso. A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) devia ter destinado um território ao Povo ainda em 2008, mas há 15 anos a comunidade espera o andamento do processo de demarcação enquanto enfrenta enchentes e conflitos com fazendeiros da região.
Já os Krahô Kanela tiveram seu território demarcado em 2008 e antes viviam na aldeia Lankrare, a aldeia Camtàgê foi criada em 2021, próxima ao Rio Formoso. O cacique Wagner conta que antes a área da aldeia não alagava tanto, mas o avanço do projeto de captação de água do Rio Formoso, que conta com uma série de barragens, mudou o fluxo das águas, impedindo o avanço natural do rio. O cacique também informa que as margens dos rios da região, fora do território indígena estão, em sua maioria, degradadas.
Risco de aumento do alagamento
A inundação que atinge as aldeias pode aumentar graças a construção de um aterro ilegal no Rio Dueré, feita em novembro de 2022. O levantamento do aterro, e o incêndio da ponte sobre o rio, foram denunciados pelo Centro de Direitos Humanos de Cristalândia ainda em novembro.
Nova denúncia foi registrada pelo INDTINS no Ministério Público Estadual (MPE) em dezembro, mas apenas em fevereiro o MPE requereu a retirada do aterro que represava o rio.
Os Povos indígenas acreditam que as inundações foram provocadas pela represa, já que as águas do rio Formoso são interligadas com as do rio Dueré e na maioria dos anos o aumento no nível dos rios ocorre no fim dos períodos das chuvas, em março, mas desta vez aconteceu dois meses antes.
Por Karina Custódio/Assessoria INDITINS