Gurupi – Foto – Prefeitura Municipal

Trágico, horrendo, pavoroso, nefasto ou ultrajante. Nenhuma dessas palavras basta para definir o impacto das 500 mil mortes causadas pela Covid-19 no Brasil. Se faltam palavras, sobram perguntas, e uma das principais dúvidas que nos afligem é:

O que ainda nos aguarda pela frente?

Em busca de respostas, o G1 ouviu 106 médicos de duas especialidades fundamentais na pandemia entre os dias 8 e 14. O objetivo era responder quatro questões que apontam perspectivas para o 2° semestre no Brasil.

Os entrevistados são infectologistas (médicos especializados em doenças infecciosas e parasitárias) e epidemiologistas (especializados no controle de doenças em grupos populacionais) que apontam, em sua maioria, que:

  • acreditam que entre 50 e 70% da população receberá ao menos uma dose da vacina até o fim do ano;
  • não acreditam que adolescentes começarão a ser vacinados ainda em 2021;
  • acreditam que não devemos deixar de usar máscaras ainda neste ano;
  • acreditam que teremos outro período com mais de 2 mil mortes na média móvel diária.

 

Veja abaixo os detalhes de cada uma das perguntas que levaram ao apontamento destas perspectivas e, ao fim da reportagem, a metodologia e o nome dos médicos participantes.

1 – Qual percentual da população terá recebido a primeira dose até o fim do ano?

 

Qual percentual da população terá recebido a primeira dose até o fim do ano? — Foto: Arte/G1

Qual percentual da população terá recebido a primeira dose até o fim do ano? — Foto: Arte/G1

Entre 50 e 70% – “Outros países do mundo estão verificando essa dificuldade. A cobertura vacinal, talvez até o final do ano, não será de 100% da população. Talvez consigamos 70%, 75%, 80% no máximo da população de 18 anos com uma dose. E talvez uns 60% da população com duas doses. Isso atrapalha, mas é ao mesmo tempo um grande desafio. Vai possibilitar talvez oferecermos a vacina para toda população elegível acima de 18 anos porque, infelizmente, as coberturas vacinais não serão as ideais” – Renato Kfouri, infectologista, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)

Apesar de a aplicação da 1ª dose ser um termômetro da disponibilidade de doses e do ritmo da vacinação no Brasil, os especialistas são unânimes em alertar que a imunidade contra a Covid só será conquistada com o regime completo com as duas doses.

“Temos que conseguir alta cobertura de duas doses e só a partir de 75-80% de cobertura da segunda dose conseguiremos controlar a pandemia. Antes disso não da para discutir imunidade coletiva ou controle da pandemia”, alerta Alfredo Scaff, epidemiologista da Fundação do Câncer.

 

2 – O Brasil vai começar a vacinar adolescentes acima de 12 anos ainda em 2021?

 

O Brasil vai começar a vacinar adolescentes acima de 12 anos ainda em 2021? — Foto: Arte/G1

O Brasil vai começar a vacinar adolescentes acima de 12 anos ainda em 2021? — Foto: Arte/G1

NÃO – “Por que não terá vacina suficiente para vacinar este grupo e possivelmente não terá finalizado a vacinação da população acima de 18 anos. Esse não é o grupo com maior risco de adoecimento e morte. Vacinar antes dos pais não será efetivo” – Carla Domingues, epidemiologista e ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde

3 – Será possível mudar os atuais protocolos (máscara, distanciamento e ventilação) com qual cobertura vacinal?

 

Será possível mudar os atuais protocolos (máscara, distanciamento e ventilação) com qual cobertura vacinal? — Foto: Arte/G1

Será possível mudar os atuais protocolos (máscara, distanciamento e ventilação) com qual cobertura vacinal? — Foto: Arte/G1

Entre 70% e 90% – “De acordo com o estudo feito em Serrana, foi necessário vacinar em torno de 70% da população da cidade para reduzir número de mortes e manifestações graves da doença Considerando que temos outras vacinas no PNI com eficácia global mais alta, talvez a porcentagem de vacinados para relaxamento destas medidas seja menor.” – Pedro Rodrigues Curi Hallal, epidemiologista e ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

4 – Entre março e maio de 2020, a média diária de mortes ficou acima de 2 mil. Teremos novo período com média acima desse número?

 

Entre março e maio de 2020, a média diária de mortes ficou acima de 2 mil. Teremos novo período com média acima desse número? — Foto: Arte/G1

Entre março e maio de 2020, a média diária de mortes ficou acima de 2 mil. Teremos novo período com média acima desse número? — Foto: Arte/G1

SIM – “Teremos um cenário de aumento de casos projetados, principalmente a partir da 2ª metade de julho/21 com o consequente aumento de óbitos em agosto; diversas instituições que projetam cenários e modelos epidemiológicos (como o Institute for Health Metrics and Evaluation – IHME), inferem que poderá haver até 3mil/óbitos/dia nesse período.” – Alfredo Scaff, epidemiologista da Fundação do Câncer.

Metodologia do levantamento

 

A consulta aos 106 especialistas foi realizada pela equipe do G1 entre terça-feira (8) e segunda-feira (14) por meio de um formulário on-line. Os especialistas foram acionados com a ressalva de que cada resposta individual seria anônima. Aquelas que foram citadas abertamente nesta reportagem foram autorizadas pelos autores.

Abaixo, veja o nome dos especialistas que foram ouvidos pelo G1:

Adelino de Melo Freire Jr; Airton Tetelbom Stein; Alberto Chebabo; Alexandre Cunha; Alexandre Prehn Zavascki; Alexandre Sérgio da Costa Braga; Alfredo Scaff; Ana Luiza Bierrenbach; Ana Brito; Ana Cisne Frota; Ana Freitas Ribeiro; Ana Helena Germoglio; Ana Menezes; André Bon; Andre Machado de Siqueira; Anna Sara Levin; Bernardo Horta; Bruno Correia Scarpellini; Bruno Ishigami; Camila Almeida; Carla Domingues; Carlos Starling; Claudia Murta de Oliveira; Claudia Neto Gonçalves Neves da Silva; Cristiane Lamas; Cristina Barroso Hofer; Demetrius Montenegro; Denise Garrett; Eliana Bicudo; Enny Paixao; Estevão Urbano Silva; Ethel Maciel; Expedito Luna; Fábio Lopes Pedro; Fernando José Chapermann; Fernando Raphael de Almeida Ferry; Filipe Prohaska Batista; Flavia Gibara; Francisco Ivanildo de Oliveira Junior; Fredi Alexander Diaz Quijano; Gabriel Aureliano Serrano; Gerson Salvador; Gubio Soares Campos; Guilherme Lima Castro Silva; Guilherme Pivoto; Gustavo Romero; Helena Brígido; Henrique Marconi Pinhati; Isabella Ballalai; Jamal Suleiman; Joana Darc Gonçalves da Silva; João Paulo França; José David Urbaez Brito; Julia Moreira Pescarini; Karen Mirna Loro Morejón; Keny Colares; Kléber Giovanni Luz; Leandro Curi; Leonardo Weissmann; Lívia Ribeiro Gomes Pansera; Luana Araújo; Lucia Campos Pellanda; Marcelo Ferreira da Costa Gomes; Marcelo Gomes dos Santos; Marcelo Otsuka; Marcio Bittencourt; Marcio Nehab; Marco Aurélio Safadi; Marcos Davi Gomes de Sousa; Marcos Junqueira do Lago; Maria Aparecida de Assis Patroclo; Maria de Fatima Pessoa Militão de Albuquerque; Maura Oliveira; Melissa Bianchetti Valentini; Melissa Falcão; Mirian Dal Ben; Munir Ayub; Nazareth Fabíola Rocha Setúbal; Otavio Ranzani; Patrícia Guttmann; Paulo Sérgio Ramos; Pedro Rodrigues Curi Hallal; Plinio Trabasso; Rafael da Silveira Moreira; Raquel Muarrek; Raquel Stucchi; Regina Coeli Ramos; Renato Kfouri; Renato Grinbaun; Robério Leite; Roberto da Justa Pires Neto; Rodrigo Guerino Stabeli; Rosana Richtmann; Sylvia Hinrichsen; Tânia Vergara; Tazio Vanni; Thalita Fernandes de Abreu; Tiago Lôbo; Unai Tupinambás; Valéria Paes Lima; Vera Magalhães; Victor Bertollo Gomes Porto; Victor Grabois; Werciley Saraiva Vieira Junior e Wladimir Queiroz.

Créditos da reportagem: (*Com reportagem de Lara Pinheiro, Mariana Garcia, Laís Modelli e Carolina Dantas – G1 Ciência; Renata Bitar, Kleber Tomaz, Marina Pinhoni, Patrícia Figueiredo, Gustavo Honório e Bárbara Muniz – G1 São Paulo; Pedro Alves e Priscila Aguiar – G1 Pernambuco; Felipe Brasil [ estagiário] e Raoni Alves – G1 Rio de Janeiro; Pedro Alves Neto e Marília Marques – G1 Distrito Federal e Maria Lúcia Gontijo – G1 Minas Gerais. Com coordenação de Ardilhes Moreira e Vitor Sorano).

Fonte – Bem Estar via Globo.com