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A China registrou nesta quarta-feira mais de 20 mil novos casos de Covid-19, o maior balanço diário desde o início da pandemia, com maioria das infecções na capital econômica Xangai.

A Comissão Nacional da Saúde informou 20.472 contágios em 24 horas, o que supera os números do primeiro surto da pandemia detectado há dois anos na cidade de Wuhan, na região central do país.

Mas ao contrário do que aconteceu em 2020, a maioria dos casos registrados atualmente é de pacientes assintomáticos e as autoridades de saúde não informaram nenhuma morte provocada pela Covid-19 nesta quarta-feira.

Na terça-feira, foram registrados, só em Xangai, 16.766 novos casos de coronavírus assintomáticos, quase 90% do total nacional, enquanto na segunda-feira, foram 13.086. Os casos sintomáticos, que a China conta separadamente, foram de 268 para 311.

Estratégia de ‘Covid zero’

Desde que conseguiu conter o primeiro foco da doença em Wuhan, a China aplica uma estratégia de “Covid zero”, o que inclui confinamentos direcionados, testes em larga escala e severas restrições às viagens internacionais, o que resultou em números de contágios reduzidos.

Desde março, entretanto, os casos não param de aumentar e alcançaram milhares por dia nas últimas semanas devido à presença no país da variante contagiosa Ômicron.

Os números de contágios são pequenos em comparação com a maioria dos países do mundo, especialmente levando em consideração o tamanho da população, mas provocam questionamentos sobre a estratégia “Covid zero” da China, um dos poucos países a manter esta abordagem.

Mais de 80% das novas infecções no país foram registradas em Xangai, a cidade mais populosa e de maior poder econômico da China, anunciaram as autoridades municipais nesta quarta-feira.

A metrópole de 25 milhões de habitantes entrou em um confinamento por fases na semana passada que provocou cenas de pânico nos supermercados e testes em larga escala em algumas zonas residenciais.

As instalações para isolar os infectados continuam a receber novos casos e as autoridades mantêm os rígidos protocolos de saúde, que incluem a separação de bebês que testam positivo para Covid-19 de seus pais, caso estes apresentem resultado negativo.

Um alto funcionário da prefeitura de Xangai admitiu que a cidade não estava suficientemente preparada para o surto de Covid-19.

O mal-estar na população aumenta pela falta de alimentos e a restrição de deslocamentos com a prorrogação do confinamento.

O surto de Covid-19 afeta a economia e analistas já reduziram as previsões de crescimento do país devido ao fechamento de fábricas e ao confinamento de milhões de consumidores.

Xangai alivia separação de crianças de seus pais

Xangai fez concessões nesta quarta-feira a uma impopular política de isolamento da Covid-19 que separou crianças de seus pais e provocou protestos públicos, mas estendeu um lockdown em toda a cidade, numa medida que deixou alguns moradores com dificuldade para comprar comida.

O bloqueio da cidade mais populosa da China, que começou em partes de Xangai há 10 dias e agora confinou quase todos os seus 26 milhões de habitantes em casa, interrompeu massivamente a vida cotidiana e os negócios.

As críticas públicas às restrições, parte da estratégia de eliminação da Covid-19 de Pequim, variaram de reclamações sobre centros de quarentena lotados e insalubres a dificuldades na compra de alimentos ou no acesso a tratamento médico.

Embora o número de casos de Xangai permaneça pequeno para os padrões globais, a cidade surgiu como um banco de testes para a estratégia anti-Covid de “limpeza dinâmica” da China, que busca testar, rastrear e colocar em quarentena centralmente todos os casos positivos e seus contatos próximos.

Analistas dizem que o impacto das restrições na economia está aumentando, especialmente para pequenas empresas, com quase 200 milhões de pessoas em toda a China sob algum tipo de lockdown, segundo estimativas do banco japonês Nomura.

A mais controversa das práticas de Xangai tem sido separar as crianças positivas para Covid-19 de seus pais, o que veio à tona no sábado e desencadeou um sentimento de revolta em todo o país.

O governo de Xangai respondeu às críticas há dois dias, permitindo que os pais que também foram infectados acompanhassem seus filhos aos centros de isolamento da Covid-19. As queixas, contudo, persistiram sobre crianças separadas de pais que não testaram positivo.

Concessão adicional

Em outra concessão na quarta-feira, uma autoridade de saúde de Xangai disse que tutores de crianças com necessidades especiais infectadas com Covid-19 agora podem se inscrever para acompanhá-las, mas precisariam cumprir certas regras e assinar uma carta dizendo que estavam cientes dos riscos.

Quando pressionado por mais informações, o governo de Xangai disse que havia emitido diretrizes para instituições médicas relevantes e que os pais que quisessem acompanhar seus filhos poderiam consultar essas instituições.

Os comentários trouxeram alívio público generalizado, especialmente entre os pais, embora alguns questionassem por que ainda havia a necessidade de se inscrever. Uma hashtag sobre o assunto na plataforma de mídia social chinesa Weibo atraiu mais de 40 milhões de visualizações na tarde de quarta-feira.

“Esta é a coisa certa a fazer, realizar a gestão de forma humana”, disse um comentário amplamente curtido no Weibo.

Xangai também disse nesta quarta-feira que realizará outra rodada de testes em toda a cidade, uma mistura de testes de antígeno e ácido nucleico. As restrições aos movimentos dos moradores continuarão até que eles possam avaliar os resultados dos testes, disseram autoridades.

Há sinais de que as medidas, inicialmente programadas para durar cerca de cinco dias para a maioria, estão desgastando os nervos dos moradores. Muitos estão começando a se preocupar com comida e água potável, pois os supermercados permanecem fechados e as entregas são restritas.

Alguns reclamaram em postagens nas mídias sociais de ter que acordar de madrugada para ter a chance de agendar uma entrega de supermercado e encontrá-los esgotados em segundos. Outros recorreram a grupos comunitários do WeChat para tentar comprar frutas e vegetais em grandes quantidades.

Dificuldade em comprar comida

Liu Min, vice-chefe da comissão de comércio de Xangai, disse a repórteres que as autoridades estão trabalhando para resolver os gargalos e atender às necessidades básicas da população.

Ela disse que esforços serão feitos para enviar alimentos e outras necessidades para Xangai de outras províncias e construir estações de suprimentos de emergência dentro e ao redor da cidade para garantir o fornecimento de vegetais, mas afirmou que o maior desafio era fazer as entregas nas casas.

As longas esperas para acessar o tratamento médico, mesmo depois de testar positivo para Covid-19, também levantaram preocupações. A agência de notícias “Reuters” testemunhou nesta terça-feira uma mulher idosa que esperou por duas horas em uma rua de Xangai enquanto procurava ajuda. Ela estava com febre e testou positivo.

A cidade estabeleceu 62 locais de quarentena temporária em hotéis, estádios e centros de exposições e está convertendo o Centro Nacional de Convenções e Exposições de 150 mil metros quadrados em uma instalação que pode acomodar 40 mil pessoas.

Pequim não mostrou sinais de que planeja abandonar sua abordagem de eliminação do Covid-19, tendo enviado militares e 38 mil trabalhadores médicos de outras províncias para Xangai para ajudar nos esforços de controle.

Nesta quarta-feira, Mi Feng, porta-voz da Comissão Nacional de Saúde, disse à imprensa que a China continuaria a aderir à política sem hesitação.

Wu Zunyou, epidemiologista chefe do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças, disse na mesma entrevista coletiva que a situação epidêmica melhoraria em breve se a China implementasse estritamente suas medidas contra Covid-19 existentes.

Fonte- O Globo via Globo.com