Internacionalmente, 12 de junho é o Dia do Combate ao Trabalho Infantil. Em março deste ano, a Fundação Abrinq divulgou uma pesquisa que fornece um panorama geral da infância e adolescência. Com ela, o dado mais do que alarmante: 2,6 milhões de crianças com idades entre cinco e 17 anos estão em situação de trabalho infantil no Brasil.

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O estudo, que reúne levantamentos mais recentes de diversos órgãos, como Ministério da Saúde, Ministério da Educação e IBGE, aponta que, dentre as crianças de cinco a nove anos, houve um aumento de mais de 8 mil entre os anos de 2014 e 2015. As regiões Nordeste e Sudeste concentram a maior parte delas.

Porém, a reflexão não para por aí. Quem são essas crianças? De acordo com a reportagem apurada pelo nosso parceiro Portal Aprendiz, por meio do projeto Chega de Trabalho Infantil, 62% das crianças brasileiras em situação de trabalho infantil são negras. Os dados são do estudo Trabalho Infantil e Trabalho Doméstico no Brasil, do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, realizado em 2013.

Tirar da criança o direito ao brincar é desumanizá-la e não enxergá-la como um sujeito de direitos.

De acordo com o projeto Jovem Negro Vivo, da Anistia Internacional, o Brasil é o país onde mais se mata no mundo. E mais da metade dos homicíos tem como alvo jovens entre 15 e 29 anos, dos quais 77% são negros.

Em entrevista ao Chega de Trabalho Infantil, o professor da USP Dennis de Oliveira, explica o perigo da tendência que a sociedade tem de naturalizar a ideia de que crianças negras trabalham, um resquício da lógica colocial. “A abolição da escravidão ocorreu de uma forma que chamamos de abolição inacabada”.

Para o especialista, essa naturalização tem a ver com o mito de que o trabalho edifica e honra o homem. Por isso, não raro ouvimos alguém dizer que “o trabalho educa” e “é melhor do que roubar”.

“A criança negra, neste contexto, passa a ser olhada como mão de obra e não como cidadã. Já a criança branca tem a imagem ligada ao brincar”, explica o professor.

E quais as consequências disso? Para o educador e ativista Douglas Belchior, essa discriminação tira da criança a possibilidade de ela se desenvolver como sujeito ativo na sociedade.

“A desumanização atinge a autoestima das crianças, gera introspecção e provoca uma autoimagem negativa de si”, defende.

“O racismo é algo extremamente perverso para a formação das crianças. Diferentemente do que se possa pensar, não fere apenas as crianças negras, vítimas da violência, mas também as crianças brancas. As negras, porque o racismo é a desumanização do outro, no limite do conceito. O racismo atinge a autoestima, bloqueia possibilidades de inter-relacionamentos, sociabilidades, gera introspecção, e provoca uma autoimagem negativa de si”, explica Belchior.

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