Durante a infância, pais e mães estão acostumados com a ideia de que os filhos precisam de consultas periódicas com o médico pediatra. Estando ou não a criança doente, é sabido que o check up na infância é feito com este profissional. Quando a menina chega à adolescência o encaminhamento é para o médico ginecologista, mas e os meninos? Uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), com números do Sistema de Informação Ambulatorial do Ministério da Saúde, revela que os atendimentos de adolescentes entre 12 a 18 anos ao urologista é 18 vezes menor do que os atendimentos de meninas ao ginecologista da mesma faixa etária.
Para incentivar a importância dos garotos procurarem o cuidado com a saúde genital e reprodutiva, além de incentivar a vacinação contra o HPV na luta contra os cânceres provocados pelo vírus, a SBU realiza a campanha #VemProUro. “Quando criança é interessante a avaliação do médico urologista se o pediatra observar qualquer alteração. Mas quando o menino inicia a puberdade,é muito importante a avaliação rotineira deste profissional, porque é quando há uma grande transformação no corpo. É importante para avaliar principalmente como está acontecendo o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários”, explica o médico urologista Danillo Maranhão.
Segundo o especialista, ao nascer, o pediatra faz uma avaliação geral para ver se não há nenhuma alteração no bebê, como a descida dos testículos ou alguma alteração genital, que são problemas que podem ser corrigidos na infância. Durante a adolescência a partir dos doze anos, a faixa etária em que o médico pediatra não faz mais este acompanhamento, é importante procurar um urologista, para acompanhar se está tudo ocorrendo de forma adequada e se não há nenhum retardo do desenvolvimento, já que este é o momento ideal de fazer o tratamento, caso necessário.
“A adolescência quando há o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários é o período de grandes mudanças e dúvidas para as crianças e adolescentes, mas um momento que também gera muita vergonha. Toda a mudança que acontece no corpo e acredito que por parte dos adolescentes há o receio do órgão genital, o desenvolvimento, tamanho, ela gera uma vergonha que evita que eles procurem avaliação médica”
O especialista afirma que a ideia de que o homem só procura o médico quando está doente pode ser prejudicial à saúde a longo prazo. “O homem por si só tem uma maior resistência quando procura um médico. Às vezes essa criança convive com um pai que não faz isso, então já cresce com essa ideia, essa resistência de avaliação médica. Dos meninos ainda há a questão da vergonha, a dúvida do desenvolvimento, se está tudo ocorrendo normal. E talvez tem um pouco de desconhecimento, porque pode ter alguma alteração que precise de avaliação. E se tiver esse é o momento ideal de fazer a correção, porque o desconhecimento interfere”, pontua.
Resistência
De acordo com a empresário Nubia Falcão, mãe de um casal de adolescentes, o filho homem tem mais resistência a procurar um médico. “Quando era menor ia com mais facilidade, pois não tinha muita escolha, porém na adolescência com um pouco mais de autonomia ele inventa as mais variadas desculpas para não ir ao médico, e muitas vezes consegue se esquivar de algumas consultas nesse processo”, conta.
Para além das consultas com urologistas, o filho, segundo Nubia chegou a ficar dois dias com o braço fraturado, sem contar que havia se machucado, para evitar ir ao hospital. “Percebi ele sem jeito com o braço e acabei investigando e levando para consulta mesmo a contragosto. Acho que essa resistência acontece pelo fato dos meninos não quererem mostrar fragilidade. No meu caso não é algo cultural, pois sou uma verdadeira ‘mãe coruja’ e sempre levei para todas consultas e check-up regulares, mas com a autonomia da idade isso tem se dificultando mais ainda, a desculpa é de que não se tem necessidade, não tem porque procurar nada se não está sentindo nada, o que é desesperador para nós mães, que queremos nos garantir de que está tudo bem, ficamos super preocupadas”, diz.
Números
Dados do Ministério da Saúde mostram que em 2021 foram registrados 189.943 atendimentos femininos por ginecologistas na faixa etária de 12 a 18 anos, contra 10.673 atendimentos masculinos por urologista nessa mesma faixa etária, o equivalente a cerca de 18 vezes a menos. Em 2020 foram 165.925 atendimentos femininos por ginecologistas e 7.358 atendimentos de meninos por urologistas.