Você decide trocar de celular e, antes de definir qual modelo vai levar para casa, resolve pesquisar as opções disponíveis. É natural que os primeiros quesitos avaliados sejam o preço e o visual do aparelho, mas, invariavelmente, as especificações técnicas entram em cena. E é aí que o bicho pega.

Processador de oito núcleos? Memória RAM? Megapixels? Esses termos são relativamente comuns, mas pouca gente sabe como eles, de fato, influenciam o desempenho de um aparelho. A tendência é pensar que quanto maiores os números desses quesitos, melhor o smartphone. Será que isso é verdade?

Especialistas explicam a função dos principais componentes dos smartphones. Confira!

Processador Snapdragon 845, da Qualcomm (Foto: Divulgação)

Processador, o manda-chuva

O processador é considerado o “cérebro” de computadores e celulares. Ele coordena todas as funções, tudo o que você faz no celular: tocar na tela, receber uma ligação, mandar uma mensagem, tirar fotos, etc.

Hoje é comum vermos aparelhos com processadores de quatro ou oito núcleos.

“Os processadores de múltiplos núcleos foram criados para melhorar o desempenho diante da dificuldade de aumentar a velocidade dos processadores individualmente”, explica Alessandro La Neve, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da FEI. “As tarefas são divididas entre os núcleos e executadas mais rapidamente.”

Nos smartphones, ter processadores de quatro ou oito núcleos impacta diretamente na eficiência energética. “Geralmente um processador de oito núcleos será mais flexível que um de quatro, porque os núcleos de menor desempenho podem ser usados para tarefas mais simples sem consumir tanta energia”, explica Renato Citrini, gerente sênior de produtos da área de dispositivos móveis da Samsung.

No Snapdragon 835, por exemplo, que aparece em tops de linha como Samsung S8, Google Pixel 2 e Sony Xperia XZ Premium, são oito núcleos –quatro deles funcionam em uma frequência de 2,35 GHz e outros quatro a 1,9 GHz.

Na hora de executar tarefas mais pesadas, os núcleos mais rápidos entram em ação. Já os núcleos mais lentos são os responsáveis por funções menos exigentes ou controlar o celular quando ele está sem uso.

É por isso que celulares com baterias maiores nem sempre “seguram a carga” por
mais tempo que celulares com baterias menores.

Também não é verdade que quanto mais núcleos, melhor será o processador. “Tudo
depende da tecnologia utilizada e da velocidade com que os núcleos operam”, aponta Citrini.

RAM é a sigla para “random access memory” (Foto: Divulgação)

RAM, a despensa de dados
A sigla RAM vem de “random access memory”, ou memória de acesso aleatório,
onde ficam os dados que agilizam o trabalho do processador – e, consequentemente, deixar o dispositivo mais rápido.

“O processador busca na memória RAM para executar suas tarefas. Ela é como se
fosse uma despensa de dados”, diz Citrini.

Você vai notar a memória RAM funcionando quando tentar executar diversas tarefas
ao mesmo tempo, como navegar usando o Waze, enquanto troca mensagens via
Whatsapp e acessa o Facebook.

Aqui, há uma relação direta entre “mais” e “melhor”. “Se há mais memória à
disposição, o processador tem um acesso mais fácil às informações. Assim, aplicativos mais exigentes funcionarão sem problemas e também será possível usar diversas funções do aparelho sem engasgos”, afirma La Neve.

A totalidade de memória RAM de um aparelho não é usada apenas para aplicativos.
Os próprios sistemas operacionais dos aparelhos já consomem uma parte dessa memória o tempo todo. No caso de aparelhos Android, o ideal é ir atrás de smartphones com pelo menos 3 GB de RAM. Os iPhones são vendidos com 2 GB de RAM (iPhone 8) e 3 GB de RAM (iPhone 8 Plus e iPhone X).

A resolução não é o mais importante para garantir uma boa selfie (Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

Megapixel
Na hora de escolher a câmera do celular, cuidado com uma “pegadinha”. As empresas adoram falar em megapixels, mas eles são apenas parte do processo para uma boa foto –e, às vezes, ficam em segundo plano.

“Uma imagem fotográfica digital é formada da soma de pixels que, na verdade, são
pequenos pontinhos que funcionam como se fosse um mosaico. Assim, um megapixel equivale a 1 milhão de pixels”, explica o fotógrafo Roniel Felipe.

Então, quanto mais megapixels, melhor? Não necessariamente. “Eles influenciam a
qualidade de imagem em caso de aproximação. Números elevados acabam sendo úteis apenas para quem pretende imprimir fotos em tamanho grande ou ampliar muito”, diz o fotógrafo Léo Franco.

Um dos principais fatores a se considerar é a lente. “A qualidade da construção da objetiva é o que define quão boa ou não é uma imagem”, diz Felipe.

Neste caso, vale ficar de olho em aparelhos com lentes “de grife” — como os Nokia, com lentes Carl Zeiss, ou os Huawei, com lentes Leica. Ainda assim, marcas como Apple, Sony, LG e Samsung costumam oferecer smartphones capazes de tirar ótimas fotos, mesmo sem usar o nome de fabricantes de lentes famosas.

Outro ponto é a abertura máxima do diafragma da câmera –o número que segue o “f/” que a vemos normalmente nas especificações da câmera. Aqui, quanto menor o número, mais o diafragma irá abrir e melhor ficará a foto.

“A abertura de uma lente é fator determinante em ambientes de pouca luz. Para ambientes com muita luz, tipo parques, praias, paisagens diurnas, a abertura da lente pouco influencia na foto”, explica Franco.

Hoje é possível encontrar celulares, como o Samsung S9, com câmeras de abertura
f/1.5.

Recursos adicionais, como a velocidade de captura das imagens, tipo de foco (prefira a laser), estabilização de imagem e HDR ajudam a conseguir boas fotos, então é importante pensar no conjunto.

A principal recomendação é deixar a preguiça de lado e ler cada detalhe de suas especificações técnicas.

Rodrigo Lara, Colaboração para o UOL, em São Paulo