A bióloga Raiany Cruz, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente (PPGCiamb), da Universidade Federal do Tocantins (UFT), resolveu transformar dois anos de estudos e pesquisas sobre serpentes do cerrado, em um guia. A obra, prevista para ser lançada no segundo semestre de 2017, é o primeiro guia de serpentes do Tocantins e trata-se de um conjunto de informações apresentadas de forma simples e clara, com o recurso das fotografias (ao todo foram 125 fotos) de 98 serpentes, acompanhadas de ícones que se relacionam a características da espécie, um conhecimento importante não só para especialistas, mas também para a população, com orientações sobre a ocorrência de animais que precisam ser preservados e sobre os quais ainda se sabe muito pouco.
Este trabalho pioneiro foi produzido com a orientação da professora da UFT Carla Simone Seibert, com co-orientação do professor Sávio Stefanini e colaboração do pesquisador Marco Antônio de Freitas. Os cientistas acreditam que, a partir deste guia, muitos outros trabalhos como este podem e devem surgir para o estado, pois o Tocantins faz parte da Amazônia Legal e também está inserido em um ponto estratégico para agropecuária, como destaca a bióloga Raiany. “Há necessidade de estudarmos e conhecer a nossa biodiversidade é algo latente e urgente, pois estamos inseridos num ponto estratégico para agropecuária, e isso faz com que haja perdas para a natureza de maneira acelerada e talvez quando acordarmos para retratar nossa riqueza algumas espécies sejam apenas in memorian“.
A bióloga explica ainda que o estudo sobre o guia é um apanhado de artigos que trazem listas de serpentes para os estados que fazem fronteira com o Tocantins e que apesar a referência de terceiros ser pouca e fragmentada, ainda assim serviram de ponto de apoio para este trabalho. “Foram usados registros fotográficos do corpo de bombeiros, relatórios de empreendimentos de grande porte consultados via Naturatins e IBAMA, órgão de controle/preservação ambiental, e também meus dados de campo que realizei no Tocantins, diga-se de passagem que este ano está completando 10 anos que vou para o campo”, narra ao destacar como foi construída a base de sua pesquisa.
Orientação à comunidade
A iniciativa não é estritamente científica: a intenção também é orientar pessoas que encontrem esses bichos na natureza, para que consigam identificá-los. “Há um desconhecimento muito grande e um preconceito quando se fala em serpentes, é um animal cercado de medos e superstições. Como a população não sabe diferenciar as venenosas das demais, as pessoas acabam matando qualquer animal que rasteje”, explica Carla Seibert, orientadora da pesquisa.
O guia também traz um mapa do estado onde pode ser observado os municípios que possuem o tratamento específico de soroterapia, assim a população pode chegar ao atendimento mais rápido do lugar que se encontra no momento do acidente com espécies peçonhentas, além disto também há informes sobre o que fazer e o que não fazer em caso de acidentes. “Ainda na introdução a população poderá entender como identificar uma serpente peçonhenta de uma não peçonhenta; isso é algo importante para quem está diretamente ligado ao campo, seja trabalhando ou em momento de lazer”, ressalta a bióloga.
O trabalho estará a venda no formato impresso a partir do segundo semestre de 2017.