O ministro da Educação, Abraham Weintraub, divulgou o tema da Redação do Enem 2019 em um vídeo no twitter: democratização do acesso ao cinema no Brasil. Os alunos deverão fazer a dissertação neste domingo (3), assim como 90 questões de Linguagens e Ciências Humanas.

“Vou dar um furo pra vocês que me pediram nesses últimos dias o tema da redação: democratização do acesso ao cinema no Brasil. Esse é o tema da redação”, disse o ministro no vídeo que gravou em Palmas (TO), em frente a um colégio da Polícia Militar.

“Tudo 100%. Zero de atraso, zero de problemas, tudo caminhando para ser o melhor Enem de todos os tempos”, disse.

Por ser o primeiro Enem da gestão Jair Bolsonaro, que tem criticado o conteúdo da prova nos últimos anos, há expectativa de cursinhos preparatórios, professores e candidatos sobre possíveis mudanças no estilo das questões. Já o governo promete um exame “neutro”.

Para o próximo domingo, dia 10, estão marcadas as provas de Exatas e Ciências da Natureza. A publicação dos gabaritos está prevista para o dia 13 e o MEC só deverá liberar as notas em janeiro.

Tema

Como o ministro divulgou apenas o tema da redação, ainda não é possível saber qual proposta de texto o aluno deve desenvolver. Para isso, ainda é preciso esperar a divulgação dos textos de apoio da prova.

Com a primeira informação divulgada, professores e coordenadores de cursinho consideraram simples o assunto abordado pela prova e próximo à realidade de parte dos candidatos. Para Maria Catarina Bozio, coordenadora de Redação do Poliedro, o tema não surpreende. “É um tema bastante específico, por restringir a questão da cultura apenas ao cinema. É um assunto que pode ser fácil para o aluno desenvolver, já que é próximo dos candidatos. Eles são os grandes usuários de serviços de streaming de vídeos e mesmo do cinema tradicional”.

Ela lembra, no entanto, que a “democratização” do cinema pode ser questionada, já que a maioria das cidades do País possui um acesso bastante restrito. “Pensando em quem está no interior, são muitas pessoas que moram em cidades com poucas opções ou sem nenhuma sala de cinema. O assunto pode ser bem explorado, pensando em capital cultural, por exemplo. O aluno pode abordar os conteúdos de Filosofia e Sociologia que aprendeu no ensino médio”.

Adriano Chan, professor de redação, também destacou que o número restrito de salas de exibição em municípios menos populosos e o preço médio do ingressos pode ser abordado pelos candidatos. “Para desenvolver os argumentos, é possível falar da indústria cultural, conceito de Adorno e de Horkheimer , que prega como até as obras de arte passam a ser feitas em série para atender a demanda de consumo numa lógica de mercado, excluindo os menos favorecidos.”

Para a professora Juliana Fernandes, do Sistema COC, o tema da redação deste ano reafirmou a tendência de anos anterior com abordagem de cunho social. Contudo, ela avalia que o tema desta edição pode ter surpreendido os alunos, ainda que não seja uma proposta complexa.

“Assim como há alguns anos, o Enem vem colocando temas pra gente ter um olhar diferente para a sociedade, pensando principalmente que querem que uma minoria seja olhada. Eu acredito que esse vai ser mais fácil. Quando teve a questão da surdez (2017), uma minoria tem acesso e contato com pessoas surdas. Não vive com essa realidade. Quando coloca a questão do algoritmo (2018), os jovens até usam o celular, mas não param pra pensar sobre isso. Mas o cinema é uma realidade comum desde criança”, avalia Juliana.

Polêmicas da áreas cultural

Os professores também destacam que o tema se aproxima de polêmicas recentes do governo federal, como as acusações de censura a determinados tipos de obras ou a ameaça de extinção da Agência Nacional do Cinema (Ancine). Juliana lembra que as críticas são pertinentes, desde que feitas de forma respeitosa, mas ela destaca o risco de “tangenciamento” ao tema.

“Não tem problema falar da questão política. Só tem que ter cuidado para não tangenciar e o modo como fala também. Existe uma questão que é como vai construir uma crítica”.

Serviço de Streaming

Os professores destacaram que outra forma de abordar o assunto de forma menos óbvia é argumentar sobre a possibilidade de o cinema se difundir mais com os serviços de streaming, como o Netflix. “Na minha opinião, há duas formas de abordar o tema: ampliação das mídias para se ter acesso à produção cinematográfica e não necessariamente às salas físicas. A Netflix, por exemplo, como muitas pessoas têm optado na hora de consumir esse tipo de conteúdo”, diz Maria Aparecida Custódio, do colégio e cursinho Objetivo.

“O tema podeser uma oportunidade para tratar da linguagem cinematográfica, cada vez mais mais rápida e global. Também pode ser abordado o quanto a linguagem audiovisual pode ser importante para conscientizar e educar a sociedade atualmente”, diz Carol Achutti, professora de redação do Descomplica.

Ministro

Weintraub publicou diversos em sua conta do Twitter neste domingo. De manhã, ainda em Brasília, o ministro gravou um vídeo, enquanto tomava café da manhã, desejando boa prova aos estudantes e dando as últimas orientações para o exame. Logo depois, ele publicou que estava no Centro de Operações do Ministério da Defesa, um dos órgãos que auxilia na segurança do Enem, e depois no Inep.

Pouco antes do início da prova, o ministro postou o primeiro vídeo em um aeroporto de Palmas. Nesse vídeo, ele diz que houve um problema de telefonia, o que levou o perfil oficial do MEC a confundir o horário de abertura dos portões do Enem, uma hora antes do previsto. “Aparentemente houve um problema na telefonia, local ou do mundo. A gente ainda não detectou, mas que antecipou alguns relógios e disparou algumas mensagens para algumas pessoas. Mas isso já está sanado, tudo resolvido e os horários estão mantidos”, disse o ministro.

Últimos temas da redação do Enem

2018 – “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”

2017 – “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”

2016 – “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil” e “Caminhos para combater o racismo no Brasil”

2015 – “A persistência da violência contra a mulher no Brasil”

2014- “Publicidade infantil em questão no Brasil

Fonte: Terra