Lucas Eurilio – Gazeta do Cerrado

Celebra-se nesta segunda-feira, 25, o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher. A data surgiu após uma convocação do movimento feminista latinoamericano, em 1981, depois que as irmãs Maribal foram assassinadas na República Dominicana.

De lá pra cá os avanços parecem vários, mas não é bem assim. A criação da Lei Maria da Penha, principal lei brasileira que protege e dá suporte às vítimas de violência doméstica ajudou em muitas conquistas, porém mulheres no mundo todo continuam sendo vítimas de agressões, violências física e psicológica, isso quando não são mortas por seus companheiros, filhos e até desconhecidos.

Com o passar dos anos, a violência de gênero tornou-se ainda mais severa e um problema estrutural que atinge todas as classes da sociedade.

No Tocantins não é diferente. As mortes das jovens, Diannes Maria Silva Marques, de 25 anos e Gabriela Rodrigues Lima, de 29 anos, no útlimo final de semana, chocou toda a população de Gurupi, na região sul do estado.

Diannes Maria foi morta na frente da filha de 4 anos e de familiares durante as comemorações do próprio aniversário, no sábado, 23. Segundo a polícia, o principal suspeito é o companheiro de Diannes, um homem identificado apenas como Maique.

Ele está foragido e equipes estão fazendo buscas para tentar encontrá-lo. O suspeito tem passagem pela polícia por roubo.

Diannes foi atingida por quatro golpes de faca, chegou a ser encaminhada para uma unidade hospitalar, passou por cirurgia, mas não resistiu.

Gabriela também foi morta a facadas. O corpo dela foi encontrado pelo filho de 10 anos, que ao chegar em casa com o pai, ex-marido da vítima, teve que pular o muro porque a mãe não atendia o portão.

O corpo da vítima estava no chão do quarto e foi atingido com golpes no pescoço e no peito. O principal suspeito era o atual namorando de Gabriela e foi identificado como Juliano Nunes Souza de Oliveira, de 36 anos.

O suspeito morreu horas após cometer o crime ao se envolver em uma acidente na BR-153, em Gurupi. Ainda não há confirmação, mas ao que tudo indica, ele teria tentado contra a própria vida.

Os crimes estão sendo investigados pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP)  de Gurupi.

Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP), apenas em 2018 cerca de 102 agressores foram presos em razão de praticar violência contra a mulher.

Relacionamento abusivo

Para a psicóloga de família, casal e coach de relacionamento, Samira Brito Nogueira, infelizmente muitas vezes as mulheres não conseguem sair de um relacionamento abusivo.

“Existe sim a possibilidade da mulher perceber que está dentro de um relacionamento abusivo. O que torna difícil é ela acreditar que ela está passando por isso. Porque o abusador sempre consegue convencer a vítima, ele usa de palavras e comportamentos pra mostrar pra pessoa que aquele abuso, aquela situação violenta, agressiva, que ele omitiu, foi somente alí, somente naquela hora. Então ele consegue convencer a mulher de que realmente no momento, de que passou e que ele vai mudar”.

Ela disse ainda que algumas mulheres conseguem exergar, mas “algumas vezes sim, mas ela não consegue acreditar nisso, então a mulher tem sempre aquela esperança, aquela expectativa de que vai mudar, vai melhorar ou muitas vezes, que é o que acontece é que as mulheres não conseguem sair daquela situação”, explicou.

Samira explicou que muitas vezes a mulher se vê dependente de um falso amor.

“Muitas vezes o “amor” é tão grande que ela não se vê sem aquela pessoa. Logo esse “amor” pelo outro é muito maior do que ao amor que ela tem por si mesma. Às vezes a mulher tem algum tipo de dependência desse homem. Ela pode ser dependente financeiramente, emocionalmente, ela depende dessas emoções positivas que ela tem por ele e que ele diz que tem por ela e a mulher acaba dependendo disso pra se sentir bem. Às vezes é uma dependência em relação aos filhos, ela não quer separar por conta disso. Quando na verdade, é aí que tem que separar porque os filhos aprendem a agir da mesma forma”.

Por fim a psicóloga explicou também que o agressor ou abusador dá açguns sinais

“O agressor dá sinais de que é violento, mas como eu disse, ela não quer acreditar ou não consegue sair da situação, ou alguns sinais que ela não percebe como por exemplo, a pessoa fala mais alto com ela na frente de outras pessoas ou dos filhos”.

“Porque como que funciona? A relação abusiva ela vai acontecendo aos poucos com comportamentos digamos que pequenos, começa a proibir a sair com amigas. Ela quer sair e não pode ou ela chega um pouco mais tarde do trabalho, tem briga, ele reclama, começa a ter uma certa desconfiança, ou seja a pessoa aos poucos, ele vai tentando e conseguindo controlar a vida da pessoa. Sempre atribuindo à mulher, à vítima, a culpa de tudo. Então a culpa é dela, brigaram porque ela chegou mais tarde do trabalho, brigaram porque ela quis sair com as amigas, brigaram porque ela não aceitou que ele falasse mais alto com ela nas frente das pessoas”.

Para a especialista, esses chamados comportamentos “pequenos” devem ser observados.

“Esses comportamentos pequenos que envolvem ciúmes, eles vão aumentando. Chegam ao ponto de desrespeito diante de famílias, diante dos amigos. Chega ao ponto das agressões físicas, sexuais, psicológicas, então a pessoa é humilhada, perde o direito de falar qualquer coisa, de se expressar, de apresentar as suas ideias, e até de conversar sobre o relacionamento, falar, não gostei disso, não gostei daquilo, a mulher vai perdendo completamente tudo isso, porque o abusador, ele consegue, ele tem esse poder de convencimento, de mostrar pra vítima que ela está “errada” , que ela é realmente culpada daquilo tudo”, concluiu.