O Coletivo de Mulheres Negras ‘Ajunta Preta’ divulgou uma carta de repúdio a Câmara de Palmas sobre medidas sugeridas na carta de reivindicações para atendimento às demandas das mulheres negras por meio de previsão em Lei municipal. Após um ano da apresentação das propostas, nenhuma foi atendida, e não houve resposta da Casa.

Em alusão ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, celebrado no dia 25 de julho, o Coletivo de Mulheres Negras ‘Ajunta Preta’, criado a partir da articulação de mulheres negras em Palmas-TO, realizará uma série de atividades que discutem e reivindicam pautas do feminismo negro no Tocantins.

O Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, foi criado em 1992 durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, na República Dominicana. Reconhecido pela ONU no mesmo ano, a data tornou-se marco internacional da luta e da resistência da mulher negra e parte do calendário de lutas do movimento negro nacional.

A mesma data é dedicada a nossa Guerreira Tereza de Benguela. Portanto, é dia de refletirmos e pautarmos a luta contra todo tipo de discriminação que atinge as mulheres negras.

Além da série de atividades, o Coletivo ‘Ajunta Preta’ divulga uma carta de repúdio a Câmara Municipal de Palmas na qual cobra retorno às demandas apresentadas há um ano em audiência pública na Casa de Leis. (em anexo)

Confira a programação completa:

25 de Julho

Cine Debate

Local: Cine Cultura

Horário: 19H

27 de Julho

Ajunta Fest

Local: Sindicato dos Cirurgiões Dentistas (602 sul, AV LO 15, Conjunto 02, Lote 02)

Horário: 21H

28 de Julho

Oficina de Maracatu com o ‘Baque Mulher’

Local: Ginásio Airton Senna/ Taquaralto

Horário: 16H

*Toda a programação do Julho das Pretas é aberta ao público e com entrada livre.

Realização: Coletivo ‘AJUNTA PRETA

Apoio: Coletivo BREJO-TO, BAQUE MULHER-TO, e Rede CANDACES-TO

 

Confira carta de repúdio na íntegra:

CARTA DE REPÚDIO DO COLETIVO FEMINISTA DE MULHERES NEGRAS ‘AJUNTA PRETA’
À CÂMARA MUNICIPAL DE PALMAS
“A realidade da mulher negra na cidade de Palmas”, a quem interessa?
Aos senhores gestores da cidade, do estado, do país? À igreja? À esquerda? À direita?
ao feminismo misto? unilateral?, à imprensa, às empresas?
Onde estão os interessados na vida da mulher negra? Por detrás, ou em cima do muro?
Não os vejo, não os ouço.
Sabemos quem está na linha de frente desse muro, levando rasteira, porrada, pedrada,
facada, tiro: pretas, mães, filhas, líderes comunitárias, quilombolas, rurais, urbanas,
periféricas, yalorixás, benzedeiras, rezadeiras, Marisa de Carvalho, Luana Barbosa,
Claudia, Mariele, Daleti.
Nós, mulheres negras, em resistência, somos as únicas em defesa da nossa própria
existência.
Há um ano, nesta mesma época, “A realidade da mulher negra na cidade de Palmas” era
tema de audiência pública na Câmara Municipal. No espaço,solicitado durante a edição
passada do Julho das Pretas, foi apresentada aos parlamentares e a comunidade
presente uma carta de reivindicações requerendo a inserção de um capítulo na Lei
Orgânica de Palmas concernente às demandas da mulher negra, com inclusão de
orçamento e implementação de políticas públicas que garantissem condições básicas de
dignidade, liberdade, segurança, educação, produção de renda e saúde.
Durante a audiência pública, apresentamos dados, pesquisas, em números, cor, gênero,
e grau, na tentativa de validar condições explicitas e chegar aos ouvidos das autoridades.
Falamos, expusemos dores, angustias, sequelas de um racismo histórico que até hoje
nos condiciona à subalternidade, invisibilidade social e institucional, violência
doméstica, policial, miséria, genocídio.
Na ocasião, dos poucos vereadores presentes, os que nos dirigiram a palavra se
utilizaram do habitual discurso politiqueiro, demagogo, conservador e oportunista. Os
demais sequer se empenharam em erguer os olhos do aparelho celular e nos olhar a
face, quem dirá nos ouvir.
A carta de reinvindicações foi entregue, assinada, protocolada, carimbada. O “sucesso”,
da audiência pública com as mulheres negras em Palmas foi noticiada pelas assessorias
nos canais de notícias dos vereadores e nos veículos de imprensa.
Apesar do descaso e da pouca receptividade diante das nossas demandas, considerando
a legitimidade da audiência pública e a legalidade da carta reivindicatória, voltamos à
casa de leis, mais de uma vez, durante o decorrer deste ano, cobrando retorno às
solicitações. Não tivemos direito sequer a uma resposta dos vereadores.
Das 12 medidas sugeridas na carta de reivindicações para atendimento às demandas das
mulheres negras por meio de previsão em Lei municipal, nenhuma foi acolhida pela casa
de leis. Após um ano, continuamos sem resposta.
Através da demonstração de total desrespeito às pautas das mulheres negras, na capital
de um estado onde mais de 70% da população é negra, tivemos a infeliz prova de que a
casa de leis municipal é mais uma estrutura de governo racista, machista, homofóbica e
intolerante.
Diante do exposto, o Coletivo Feminista de Mulheres Negras do Tocantins, Ajunta Preta,
repudia a Câmara Municipal de Palmas e os vereadores e vereadoras que a compõem,
e reitera que continuará cobrando resposta às reivindicações apresentadas, hoje,
amanhã, a cada ano, e por quanto tempo for preciso.
Nós, mulheres negras, exigimos sermos reconhecidas como pessoas de direitos. Nos
respeitem, respeitem a nossa cor, a nossa estória, e a nossa voz.
Continuaremos em luta contra o racismo e pelo bem viver, pautando as demandas do
nosso povo, até que sejamos atendidas em posição de igualdade. Se os senhores
vereadores de Palmas não nos escutam, o seu eleitorado certamente escutará.
O grito de dor antes colhido pela chibata hoje ecoa por direitos! Nossa voz é resistência
e nossos passos vem de longe!
Palmas, 23 de julho de 2018.