Representação artística da explosão AT2022tsd, um cadáver estelar
Robert L. Hurt/Caltech/IPAC
Representação artística da explosão AT2022tsd, um cadáver estelar Robert L. Hurt/Caltech/IPAC


O espaço está repleto de fenômenos extremos, mas o “diabo da Tasmânia” pode ser um dos eventos cósmicos mais estranhos e raros já observados.

Representação artística da explosão AT2022tsd, um cadáver estelar
Robert L. Hurt/Caltech/IPAC

Meses após os astrônomos testemunharem a explosão de uma estrela distante, eles avistaram algo que nunca viram antes: sinais energéticos de vida sendo liberados do cadáver estelar a cerca de 1 bilhão de anos-luz da Terra. Os flashes curtos e brilhantes eram tão poderosos quanto o evento original que causou a morte da estrela.

Os astrônomos apelidaram o objeto celeste de “diabo da Tasmânia” e o observaram explodindo repetidamente após sua detecção inicial em setembro de 2022. No entanto, a explosão estelar inicial que causou a morte da estrela não foi uma supernova típica, uma estrela que explode e ejeta a maior parte de sua massa antes de morrer. Em vez disso, foi um tipo raro de explosão chamado transiente óptico azul rápido e luminoso, ou LFBOT.

Os LFBOTs brilham intensamente na luz azul, atingindo o pico de brilho e desaparecendo em poucos dias, enquanto as supernovas podem levar semanas ou meses para se apagar. O primeiro LFBOT foi descoberto em 2018, e os astrônomos têm tentado determinar a causa desses eventos cataclísmicos raros desde então.

Mas o diabo da Tasmânia está revelando mais perguntas do que respostas com seu comportamento inesperado. Embora os LFBOTs sejam eventos incomuns, o diabo da Tasmânia é ainda mais estranho, levando os astrônomos a questionar os processos por trás das explosões repetitivas.

“Incrivelmente, em vez de desaparecer gradualmente como seria de se esperar, a fonte brilhou novamente brevemente — e de novo, e de novo”, disse a autora principal do estudo, Anna Y.Q. Ho, professora assistente de astronomia na Faculdade de Artes e Ciências da Universidade Cornell, em comunicado. “Os LFBOTs já são um tipo de evento estranho e exótico, então isso foi ainda mais estranho.”

As descobertas sobre a mais recente descoberta do LFBOT do diabo da Tasmânia, oficialmente rotulado como AT2022tsd e observado com 15 telescópios ao redor do mundo, foram publicadas na quarta-feira (15) na revista Nature.

“(LFBOTs) emitem mais energia do que uma galáxia inteira com centenas de bilhões de estrelas como o Sol. O mecanismo por trás dessa quantidade massiva de energia é desconhecido”, disse o coautor do estudo, Jeff Cooke, professor da Universidade de Tecnologia de Swinburne, na Austrália, e do Centro de Excelência para Descoberta de Ondas Gravitacionais ARC, em comunicado. “Mas, neste caso, depois do burst inicial e do fade, as explosões extremas continuaram acontecendo, ocorrendo muito rapidamente — em minutos, em vez de semanas a meses, como é o caso das supernovas.”

Rastreando o diabo da Tasmânia

Um software desenvolvido por Ho inicialmente detectou o evento. O software examina meio milhão de transientes detectados diariamente pela Zwicky Transient Facility na Califórnia, que faz varreduras no céu noturno. Ho e seus colaboradores em diferentes instituições continuaram a monitorar a explosão à medida que ela se desvanecia e revisaram as observações alguns meses depois. As imagens mostraram picos intensos de luz que logo desapareceram.

“Ninguém realmente sabia o que dizer”, disse Ho. “Nunca tínhamos visto nada assim antes — algo tão rápido e brilhante quanto a explosão original meses depois — em qualquer supernova ou FBOT (transiente óptico azul rápido). Nunca tínhamos visto isso, ponto, na astronomia.”

Brener Nunes

Repórter

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins