Prefeito de Colinas é acusado de perseguir presidente de Conselho de Saúde

A cidade de Colinas do Tocantins enfrenta um dos momentos mais delicados de sua política recente. Denúncias de perseguição e retaliação contra a assistente social Alcira Alves da Silva Nogueira, servidora efetiva desde 2011 e presidente do Conselho Municipal de Saúde, colocaram o prefeito Josemar Carlos Casarin (Kasarin/UB) no centro de uma grave crise institucional.

Alcira afirma ter sido removida arbitrariamente de suas funções no Hospital Municipal de Colinas (HMC) por ordem direta do prefeito, logo após denunciar descaso, assédio moral e falta de transparência na gestão da saúde. O ato, formalizado pelo Ofício nº 255/2025, é apontado por entidades como uma tentativa de inviabilizar sua permanência no comando do Conselho, já que a presidência deve ser exercida por representantes do segmento dos trabalhadores do SUS.

A medida gera ainda mais questionamentos porque o hospital enfrenta déficit de assistentes sociais e tem recorrido ao pagamento de plantões extras para suprir a demanda.

“A ideia era um xeque-mate: me tirando da Saúde, automaticamente me tiram da presidência do Conselho. Mas eu não serei silenciada nem injustiçada. Confio no Ministério Público, na Justiça, nas entidades sociais e sei que não estou sozinha nesse enfrentamento”, declarou Alcira.

Denúncias na Câmara Municipal

Na última terça-feira, 2, Alcira utilizou a tribuna livre da Câmara para denunciar a precariedade estrutural do Conselho, a ausência do prefeito e do secretário de Saúde em audiências públicas e a falta de prestação de contas quadrimestral obrigatória.

“Um conselho sem estrutura, sem informação e sem apoio institucional é um conselho fragilizado. E quando o controle social é enfraquecido, quem perde é a população”, afirmou.

Apoio e reações

A reação foi imediata. Entidades como o Centro de Direitos Humanos Dom Heriberto Hermes, o Fórum Tocantinense de ONGs/Aids (TOCA), a Pastoral da Aids, a ASPMET e o próprio Conselho Municipal de Saúdedivulgaram notas de apoio irrestrito à servidora e de repúdio à gestão municipal.

A vereadora Naiara Miranda também se posicionou:

“Quando uma presidente de Conselho é punida por falar a verdade, não é apenas a Alcira que sofre perseguição — é toda a população que perde. Defender a saúde pública não pode ser motivo de punição.”

O presidente da ASPMET, Ronaldo Sérgio, reforçou que a remoção foi arbitrária:

“A servidora não cometeu nenhum crime. A única coisa que fez foi contrariar a gestão por exercer suas funções com ética e responsabilidade. Nós vamos às últimas instâncias para que essa perseguição acabe.”

Já o Centro de Direitos Humanos Dom Heriberto Hermes, sediado em Cristalândia, classificou a medida como um “retrocesso democrático”.

“É inadmissível que uma servidora pública, exercendo regularmente seu papel constitucional de fiscalização e defesa dos direitos da população, seja alvo de medidas arbitrárias que afrontam os princípios da administração pública.”

O Conselho Municipal de Saúde denunciou um cenário de “democracia da mordaça” em Colinas. Trabalhadores relatam medo até de registrar fotos com Alcira, receosos de sofrer represálias. Um caso emblemático foi a demissão de uma servidora contratada após tirar uma selfie ao lado da presidente do Conselho.

Segundo a nota do órgão, a Prefeitura estaria tentando reduzir o Conselho a um “puxadinho político”, ignorando a legislação que garante sua autonomia.

Contexto político

As denúncias surgem em meio a uma crise entre Executivo e Legislativo em Colinas, marcada pelo rompimento da maioria dos vereadores com o prefeito. O clima de instabilidade amplia a tensão entre conselheiros, profissionais de saúde e servidores municipais, que falam em perseguições e retaliações sistemáticas.

Para Alcira, a luta ultrapassa sua situação individual:

“O que pedimos não é favor — é o cumprimento da lei. Saúde é direito do povo e dever do Estado.”

O que diz Kasarin

A Gazeta tentou contato com o prefeito Kasarin, mas não obteve retorno até a publicação da matéria.

Brener Nunes

Repórter

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins