
Por Carlos Humberto Lima
No coração do Brasil, onde o cerrado encontra a bravura empreendedora do agronegócio, o Tocantins dá mais um passo rumo ao futuro. Hoje, 31 de outubro de 2025, Gurupi recebe o Terminal de Grãos do grupo Fazendão — uma obra que é mais do que infraestrutura: é um gesto de estratégia, confiança e visão de longo prazo da iniciativa privada, contribuindo para que o Estado consolide um novo eixo de competitividade para a produção tocantinense e para todo o MATOPIBA.
O contexto não poderia ser mais eloquente. A safra 2024/25 levou o Tocantins a um novo recorde histórico, com 9,17 milhões de toneladas de grãos estimadas, segundo o 12° levantamento da Conab. Trata-se de um salto de 28,2% em relação à safra anterior – performance que pede, por natureza, logística à altura para preservar margens e ampliar mercados.
É nesse tabuleiro que o Terminal de Gurupi se torna peça-chave. A localização, no sul do Estado, aproxima a colheita das rotas que conectam fazendas, armazéns e destinos portuários.
Mais que encurtar distâncias, o terminal reduz incertezas aquele custo invisível que nasce na dependência exclusiva do caminhão, na sazonalidade do frete e nas filas de pico. Quando a ferrovia entra em cena, o produtor ganha previsibilidade de janela logística, o tradder otimiza contratos e o Estado captura eficiência sistêmica. Estudos e dados setoriais apontam, de forma consistente, que o modal ferroviário emite muito menos gases de efeito estufa por tonelada-quilômetro do que o rodoviário, contribuindo para a competitividade climática do agro brasileiro.
A inauguração em Gurupi dialoga diretamente com a espinha dorsal logística do país: a Ferrovia Norte-Sul. Pelo tramo sul da ferrovia, a produção da área de influência do terminal alcançará o Porto de Santos, dotado de conexões ferroviárias eficientes e berços especializados. Os terminais do tramo norte TIPN e TIPA, localizados em Porto Nacional e Palmeirante, respectivamente, já demonstram na prática como a ferrovia transforma produtividade em competitividade — e o novo terminal se soma a esse ecossistema, ampliando capilaridade e fluidez.
O efeito multiplicador é amplo. Primeiro, sobre o custo
logístico: a intermodalidade rodovia-ferrovia tende a reduzir despesas por tonelada, sobretudo em percursos médios e longos, além de diminuir a variabilidade de prazos — um diferencial decisivo em ciclos de preços mais pressionados.
Segundo, sobre a sustentabilidade: a migração incremental de cargas para os trilhos é vetor de descarbonização, agenda cada vez mais sensível para financiadores, tradings
compradores
internacionais. Terceiro, sobre a industrialização: mais logística induz investimento em armazenagem, esmagamento, farelos e biocombustíveis, agregando valor em nosso território e espalhando empregos de melhor qualidade pela região.
Gurupi, vale lembrar, é cidade-pivô. Cruza a BR-153 – eixo que passa por intervenções e duplicações em trechos do Tocantins — e se posiciona a poucas horas de importantes polos agrícolas e industriais do Estado. A sinergia entre o corredor rodoviário e a janela ferroviária cria um “efeito funil ao contrário”: em vez de gargalo, um leque de opções para escoar soja, milho e insumos, com reflexo direto na fluidez da safra e na redução de perdas logísticas.
Do ponto de vista de política pública, o Terminal de Grãos do grupo Fazendão materializa a estratégia defendida pelo Governador Laurez Moreira: transformar vantagem geográfica em vantagem competitiva. Ao se somar a outros investimentos logísticos recentes no Estado, o novo ativo consolida o Tocantins na rota do Arco Norte e amplia a relevância do MATOPIBA no comércio exterior, com ganhos que reverberam em toda a economia local — do posto de combustível ao serviço de manutenção, do pequeno fornecedor de peças às transportadoras regionais. As estatísticas oficiais mostram um agro mais volumoso e diversificado, e a logística é a ponte que converte volume em valor.
Do produtor ao exportador, todos ganham quando a logística deixa de ser um obstáculo e vira ativo estratégico. Para o cidadão, a mensagem é simples e potente: mais infraestrutura significa mais emprego, mais arrecadação, mais serviços
públicos e mais oportunidades. E para o próprio Estado, colhe-se o que se semeia — planejamento, confiança no investidor privado, ambiente regulatório estável e uma visão que combina competitividade e sustentabilidade.
Hoje, quando o primeiro comboio simbolizar a entrada em operação do Terminal de Grãos do Grupo Fazendão, em Gurupi, o Tocantins escreverá mais um capítulo de sua vocação logística. É a economia real encontrando os trilhos, é a safra ganhando o mundo, é o futuro chegando antes. No cerrado que floresce, cada saca que parte leva também uma ideia: desenvolvimento é o caminho, e, no Tocantins esse caminho tem rota, tem rumo e tem trilhos.
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Carlos Humberto Lima – Beto Lima é Secretário de Estado da Indústria, Comércio e Serviços do Tocantins. Engenheiro civil (PUC Goiás) com MBA em Gestão Empresarial, é empresário radicado no Tocantins desde 1993. Acumula ampla experiência em liderança e representação: foi presidente da ACIPA (2005-2006), vice-presidente do Sinduscon-TO (1998) e presidiu o Sincodiv-TO (2019-2021).