Um ano depois: a queda da Ponte JK, a dor que permanece e a memória que o Tocantins não pode apagar

Há exatamente um ano, o Tocantins e o Maranhão amanheciam em choque. A queda da Ponte JK, que ligava os municípios de Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA), interrompeu mais do que um trajeto essencial sobre o Rio Tocantins. Interrompeu vidas, sonhos e rotinas. A tragédia deixou mortos, famílias destroçadas e uma ferida coletiva que segue aberta.

A nova estrutura da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que liga os municípios de Aguiarnópolis, no Tocantins, e Estreito, no Maranhão, será inaugurada nesta segunda-feira (22). A data também marca o um ano da tragédia do desabamento, que deixou 18 vítimas, entre mortos, desaparecidos e um ferido.

O acidente aconteceu exatamente no dia 22 de dezembro de 2024, pouco antes das 15h. No momento em que vão central colapsou e derrubou grande parte da estrutura, veículos de diferentes portes em que faziam a travessia foram parar no fundo do Rio Tocantins, levando a vítimas. Somente um homem sobreviveu à tragédia.

O que antes era símbolo de integração regional tornou-se, naquele dia, cenário de desespero. Pessoas comuns, trabalhadores, pais e mães que apenas atravessavam a ponte para cumprir mais uma jornada, passaram a fazer parte de uma estatística que nunca deveria existir. O impacto humano foi imediato e profundo: famílias mergulhadas no luto, comunidades inteiras em silêncio, e um sentimento de incredulidade que ainda ecoa.

Ao longo deste ano, a dor das famílias não diminuiu. O tempo não apaga ausências, apenas ensina a conviver com elas. Muitos seguem cobrando respostas, responsabilizações e, sobretudo, respeito à memória das vítimas. A tragédia da Ponte JK também abriu um capítulo duro de cobrança política e institucional. Vieram questionamentos sobre manutenção, fiscalização, responsabilidades e sobre como uma estrutura vital chegou ao ponto do colapso.

A queda da ponte escancarou fragilidades históricas da infraestrutura e colocou em evidência uma realidade incômoda: quando o poder público falha, o custo é pago com vidas. Por isso, para além das obras, o episódio tornou-se um marco de cobrança social — por segurança, prevenção e compromisso real com a vida.

Na próxima segunda-feira, dia 22, a nova ponte será entregue. A estrutura representa um avanço necessário, devolve a ligação entre os dois estados e retoma o fluxo econômico e social da região. É um passo importante, aguardado por todos. Mas é impossível ignorar que a inauguração acontece sob o peso da memória.

A nova ponte não apaga o que aconteceu. Não devolve as vidas perdidas, não recompõe famílias, não elimina o trauma. Ela nasce carregando um compromisso: o de ser lembrada não apenas como obra concluída, mas como símbolo de que aquela tragédia jamais pode se repetir.

Um ano depois, o que fica é a obrigação coletiva de lembrar. Lembrar das vítimas, da dor das famílias, do silêncio que tomou conta da região naquele dia. Lembrar para que a memória não seja soterrada pelo concreto novo. Porque pontes ligam margens, mas a responsabilidade pública precisa ligar decisões à proteção da vida.

Hoje, mais do que marcar uma data, o Tocantins e o Maranhão marcam um luto permanente. E reafirmam que a história da Ponte JK não pode — e não deve — ser esquecida.