Um teste desenvolvido por cientistas do Reino Unido e dos Estados Unidos pode, num futuro próximo, apontar quais homens têm mais propensão a ter câncer de próstata. Um novo estudo publicado nessa segunda-feira (11), na Nature Genetics, sugere que o teste pode detectar homens que são geneticamente mais vulneráveis a desenvolver câncer de próstata.
A equipe de pesquisa internacional usou uma técnica de análise de DNA que compara genes de mais de 70 mil pessoas envolvidas em estudos anteriores. Desses, 45 mil já desenvolveram câncer de próstata, enquanto o restante nunca teve. Então, os pesquisadores compararam os dois grupos, destacando quaisquer características herdadas que podem contribuir para o risco de câncer. Segundo os autores, eles conseguiram encontrar 63 novas variantes que nunca antes tinham sido associadas ao câncer de próstata.
Esses resultados foram então integrados em uma centena de variantes genéticas conectadas com câncer de próstata que foram previamente encontradas nas 60 mil pessoas. A ideia com isso foi criar uma espécie de “nota de risco genético”. E, finalmente, os pesquisadores criaram um teste que usa apenas a saliva de uma pessoa, coletada com um cotonete, para detectar essas mais de 150 variantes.
“Quando você combina essa pontuação, é possível ver que o top 1% tem uma probabilidade 6 a 7 vezes maior de desenvolver câncer de próstata”, disse Fredrick Schumacher, professor associado no Departamento de População e Ciência da Saúde da Case Western Reserve University, ao Gizmodo. “Então, isso pode nos ajudar a criar regras melhores de triagem.”
Nos Estados Unidos, pessoas com mais de 50 anos geralmente fazem um exame para verificar se tem exame de próstata por meio de um exame de sangue PSA (Prostate-Specific Antigen). Quem tem alto nível de PSA deve fazer o exame anualmente, embora todos sejam aconselhados a fazer a cada dois anos. No entanto, um teste de saliva poderia ajudar a revelar pessoas de alto risco que precisam de exames anuais, independente do nível de PSA, excluindo pessoas de baixo risco que não precisariam fazer checagem anual baseada no baixo nível genético e do PSA. Essas pessoas precisariam apenas fazer exames a cada dois, cinco ou até 10 anos, segundo Schumacher.
Juntas, as variantes representam quase 30% do risco potencial herdado do câncer de próstata. Metade desses homens com alto risco que estão entre o top 1% deve desenvolver câncer de próstata, comparado com 1 a cada 11 homens com um risco de nível genético médio. Os top 10% têm um risco 2,7 vezes maior, significando que um a cada quatro homens poderia um dia desenvolver câncer de próstata.
Por ora, esses números são apenas especulativos. Mas alguns pesquisadores já estão planejando a validação desse teste no mundo real.
“Se conseguimos dizer a probabilidade de um homem desenvolver exame de próstata baseado em um exame de DNA, o próximo passo é ver se conseguimos usar essa informação para prevenir a doença”, disse Ros Eeles, um dos autores do estudo e professor de onconética do Instituto de Pesquisa do Câncer do Reino Unido, em um comunicado. “Agora esperamos começar um pequeno estudo em práticas de cuidados primários para estabelecer se usar um teste genético com a saliva poderia selecionar homens de alto risco que podem se beneficiar de intervenções para identificar o quanto antes a doença ou mesmo reduzir o risco deles.”
Pelo fato de homens nos Estados Unidos já serem examinados regularmente por câncer de próstata, a logística de fazer um teste de saliva fica mais difícil, segundo Schumacher. Os testes norte-americanos também deveriam levar em conta se o risco genético do homem poderia levar a melhores resultados na detecção ou na prevenção do câncer de próstata combinado com o nível de PSA.
Como o estudo publicado incluía apenas homens de descendência europeia, eles também precisam saber a utilidade dessa “pontuação de risco” em outros grupos étnicos, como homens afro-americanos, que são mais vulneráveis a desenvolver câncer de próstata.
“Nós não queremos começar um teste que é apenas para homens brancos. Queremos fazer algo mais abrangente nos Estados Unidos.”
Além de apontar os homens com maior risco, a nova lista de variantes genéticas poderia ser usadas para prevenir a formação do câncer.
“Quanto melhor compreendermos a biologia por trás dessas pontuações de risco, mais nós podemos desenvolver tratamentos preventivos”, disse Schumacher. As drogas usadas por homens poderiam ser parecidas com aquelas usadas em mulheres com risco de câncer de mama.