(US COAST GUARD)

Uma volumosa tartaruga foi resgatada em 19 de novembro pela Guarda Costeira dos Estados Unidos, segundo informou na segunda-feira o serviço marítimo. Encontrava-se em uma situação surpreendente: enredada nas cordas de um contrabando de 26 fardos de cocaína, num total de 800 quilos.

O barco Cutter Thetis regressou domingo a sua base de Cayo Hueso (Flórida) depois de cumprir uma missão de patrulhamento de 68 dias pelo litoral do Pacífico da América Central, onde foi achada, em águas internacionais, a tartaruga presa entre pacotes de droga. O valor da remessa de cocaína no comércio ilegal era de 53 milhões de dólares (168 milhões de reais). A Guarda Costeira acredita que o contrabando foi lançado de uma lancha rápida ao mar por narcotraficantes durante uma perseguição policial.

Um avião militar divisou o contrabando flutuando e a Guarda Costeira dos EUA enviou uma lancha de reconhecimento. Os oficiais se depararam com a rara cena e puseram mãos à obra para cortar com cuidado as cordas e não machucar as nadadeiras nem o pescoço da tartaruga. Pelas marcas que tinha no pescoço, o animal, um macho, estava pelo menos havia dois dias preso.

A missão em que o barco norte-americano estava trabalhando é a Operação Martillo, um programa internacional entre EUA, países europeus e latino-americanos destinado a combater as redes de tráfico de drogas no litoral do Pacífico centro-americano, uma das principais rotas de contrabando entre a América do Sul, origem da cocaína, e os EUA, os maiores consumidores dessa droga. Durante esta última fase operacional, da qual participou durante mais de dois meses o Cutter Thetis, a Operação Martillo apreendeu 6,7 toneladas de cocaína, avaliadas em 135 milhões de dólares (425 milhões de reais).

Há cerca de 90% de probabilidade de que o angustiante momento vivido pela tartaruga na imensidão do oceano Pacífico tenha tido sua origem, tempos atrás, em algum cultivo clandestino nas montanhas andinas da Colômbia. Ali, segundo dados da DEA, a agência antinarcóticos dos EUA, foi plantada e produzida em laboratórios 92% da coca que chegou em 2016 ao seu território.

O consumo de cocaína está crescendo de novo nos EUA, e na Colômbia está aumentando o cultivo e a fabricação da droga. De acordo com um documento da Casa Branca, o cultivo na Colômbia subiu 18% em 2016, chegando a 188.000 hectares, máximo registro desde 1994, um ano depois de ser abatido em Medellín pela polícia colombiana o maior chefão da coca, Pablo Escobar. O acordo de paz alcançado em novembro de 2016 entre o Governo da Colômbia e a guerrilha das FARC poderia contribuir para a redução do cultivo de coca, pois a organização armada desempenhava um papel de peso na cadeia do narcotráfico, mas, segundo a DEA, a previsão pelo menos durante 2018 é que os EUA recebam uma quantidade ainda maior de cocaína enviada da Colômbia. Em setembro, Donald Trump afirmou que estava “avaliando seriamente” deixar de considerar a Colômbia um parceiro na luta antidrogas por causa do “crescimento extraordinário” da indústria da coca em seu território.

Embora a droga que mais mate nos EUA seja a heroína – sozinha ou mesclada com opiáceos ilegais de laboratório –, o consumo de cocaína está em alta. Em 2015, de acordo com um levantamento oficial, 1,9 milhão de estadunidenses maiores de 12 anos eram consumidores desta droga. Em 2007 eram, segundo dados da DEA, 906.000 – menos da metade.

Em meio a toda essa complexíssima rede de problemas humanos, econômicos, políticos e policiais ficou paralisada, até sua libertação, a inocente tartaruga do Pacífico.

Por Pablo Dellano

Fonte: El País