Uma sensação de mal estar físico e psíquico diante de algo cujo futuro é incerto. Essa é uma das definições de ansiedade, sentimento que aflige a maioria das pessoas diante de atividades diversas, como fazer um discurso, submeter-se a um exame médico ou uma prova, fazer uma palestra ou participar de uma entrevista com um possível empregador.
O problema é que o nervosismo pode ser contraproducente, afetando o desempenho da pessoa e impedindo que ela alcance seus objetivos.
Após fazerem um estudo, pesquisadores da Harvard Business School, em Boston, nos Estados Unidos, têm um conselho para ajudar pessoas ansiosas a terem bom desempenho em situações estressantes. Com base em uma série de experimentos, a equipe concluiu que cumprir algum tipo de ritual antes da atividade em questão pode ser a chave do sucesso.
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Em artigo na revista online Harvard Business Review, uma das autoras do estudo, Alison Wood Brooks, descreve um ritual desse tipo, realizado por um famoso jogador de beisebol do time Boston Red Sox – David “Big Papi” Ortiz – que se aposentou em 2016.
Cada vez que se aproximava da caixa do batedor, o jogador apoiava o bastão contra as pernas, cuspia na mão direita e batia palma.
Esses rituais, disse a pesquisadora, não são praticados apenas por ricos e famosos. Segundo ela, mais de 45% das pessoas entrevistadas pela equipe disse realizar algum tipo de ritual antes de enfrentar uma tarefa difícil.
Poder do Ritual
As conclusões do estudo parecem indicar que um ritual prévio pode nos dar uma sensação de controle sobre a situação e, como consequência, melhorar nosso desempenho.
Como parte do estudo, a equipe de psicólogos criou um experimento no qual participantes eram convidados a cantar, em público, ao microfone, uma canção difícil. Um algoritmo media objetivamente o desempenho dos cantores.
A equipe queria que os participantes ficassem nervosos para poder, depois, testar estratégias de combate à ansiedade. Uma delas foi, simplesmente, dizer a alguns dos voluntários, antes de subirem ao palco, que se acalmassem.
“Muita gente diz a si mesma, literalmente, ‘se acalme, não há motivo para tanto nervosismo, você é capaz de fazer isso”, disse à BBC o professor Michael Norton, líder do estudo, publicado na revista científica Organizational Behaviour and Human Decission Processes.
Outro grupo foi orientado a fazer um ritual simples. Os participantes deveriam tentar expressar, por meio de um desenho, o que estavam sentindo. Depois, deveriam rasgar o papel e jogar os pedaços no lixo. “Descobrimos que dizer a você próprio que se acalme não funciona”, disse Norton.
“É como quando você diz a alguém que está zangado, gritando, que pare de gritar. Não funciona. Mas fazer pequenos rituais como o que foi descrito, isso sim ajuda bastante a pessoa a lidar melhor com sua ansiedade e, depois, a ter um melhor rendimento”, disse o psicólogo.
Um dos fatores que geram ansiedade antes de situações estressantes é justamente a falta de controle que o indivíduo sente sobre o que vai ocorrer. Um exemplo claro disso é a expectativa diante de uma prova onde outras pessoas vão avaliá-lo.
“Os rituais são como uma forma de comportamento controlado, nos levam a sentir mais controle e isso está relacionado ao nível de ansiedade que sentimos”, explicou.
Além disso, os investigadores dizem acreditar que o simbolismo por trás de um ritual pode ajudar muito, mesmo que não seja imprescindível. Para Norton, o mero fato de chamarmos a sequência de ações de “ritual” pode ter um efeito positivo.
Hábito ou Ritual?
A jornalista da BBC Claudia Hammond, apresentadora do programa Health Check, da BBC, sempre faz um chá antes de entrar no estúdio para a transmissão do programa, que acontece ao vivo. Ela se pergunta se o preparo do chá seria um ritual ou um hábito.
Segundo Norton, um hábito é uma ação em si, que você realiza porque quer. No exemplo citado, porque a jornalista tem vontade de tomar um chá. No entanto, o simbolismo por trás de um chá pode ajudar muito, dizem os psicólogos. “Um ritual tem mais a ver com a forma como você faz o chá. Por exemplo, se segue sempre os mesmos passos”, explicou Norton.
Outra forma de avaliarmos se uma ação é, ou não, um ritual, seria perguntarmos a nós mesmos o que aconteceria se não realizássemos o ritual. “Se não puder tomar o chá, quanto isso vai te incomodar?”, perguntou.
“Quando não fazê-lo (tomar o chá) te perturba e te afeta, então (o ato) se aproxima mais do ritual e se distancia do hábito.”
Norton ressaltou, no entanto, que rituais, quando levados ao extremo, também podem ser se tornar um problema. É o caso, por exemplo, das pessoas que têm transtornos obssessivos compulsivos. “Nesses casos, o ritual acaba interferindo na vida cotidiana”, disse.
Para ansiosos moderados, ao concluir seu artigo na Harvard Business Review, a colega de Norton, Alison Wood Brooks, dá o seguinte conselho: “Nossas conclusões indicam que fazer um ritual antes de vivenciarmos uma situação estressante pode reduzir sentimentos de ansiedade e melhorar o desempenho. Aconselhamos os leitores a adotarem rituais prévios antes de situações estressantes em suas vidas.”
“Recomendamos que cada indivíduo prepare um ritual pequeno mas carregado de simbolismo, algo calculado e rápido, que possa ser feito com facilidade antes da situação estressante.”
A equipe disse ter baseado suas conclusões em relatos dos participantes e em um algoritmo que mediu seu desempenho durante os testes.
Fonte: BBC News Brasil