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Relatório do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) divulgado nesta quarta-feira (30) em São Paulo apresenta um compilado de 381 novas espécies de plantas e de animais vertebrados da floresta Amazônica. Os dados foram coletados entre os anos de 2014 e 2015 em bases de dados de revistas científicas.

Foram catalogadas: 216 novas espécies de plantas; 93 de peixes; 32 de anfíbios; 19 de répteis; uma ave; 18 mamíferos; e dois mamíferos fósseis. Os números indicam que por volta de uma nova espécie de ser vivo foi descoberta na Amazônia a cada dois dias.

“A Amazônia tem muitas lacunas de conhecimento. É uma área de difícil acesso em que muitas pessoas não conseguem chegar. Existem muitas espécies para serem descobertas “, diz Fernanda Paim, pesquisadora do Instituto Mamirauá, que fez o estudo em parceria com a WWF.

Inia araguaiaensis, um novo mamífero aquático de grande porte e coloração distinta (Foto: Gabriel Melo Santos/WWF)

Inia araguaiaensis, um novo mamífero aquático de grande porte e coloração distinta (Foto: Gabriel Melo Santos/WWF)

Como metodologia, a WWF fez uma revisão de bibliografia científica para inclusão apenas das novas espécies de vertebrados e plantas descritas em periódicos científicos e submetidas à revisão dos pares. Muitas das descobertas também são feitas com a colaboração da população local. Os “cientistas cidadãos”, como chamou a ONG, contribuíram muito para a coleta de informações.

Segundo estudo de 2005 citado pela WWF, atualmente há entre 1,7 e 1,8 milhão de espécies no mundo — dentre essas, 80% ainda não teria sido mapeada. Ainda, os cientistas precisam correr contra o tempo: 0,1% das espécies do planeta desaparecem todos os anos.

As descobertas reforçam a importância da preservação da biodiversidade local. A floresta já representa a maior biodiversidade em uma floresta tropical do planeta.

Hypocnemis rondoni, o cantador da floresta. Nome foi dado em homenagem ao Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, antropólogo e explorador brasileiro. (Foto: Fabio Schunck/WWF)

Hypocnemis rondoni, o cantador da floresta. Nome foi dado em homenagem ao Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, antropólogo e explorador brasileiro. (Foto: Fabio Schunck/WWF)

Amazônia e exploração mineral

Para Ricardo Mello, coordenador do Programa Amazônia do WWF-Brasil, o estudo embasa como é importante pensar no desenvolvimento sustentável da Amazônia — principalmente no momento em que está em jogo uma grande discussão sobre a liberação de parte da área para a mineração.

“Não somos contra um desenvolvimento sustentável, mas isso precisa ser debatido com a sociedade e a comunidade científica”, avalia Mello.

Os pesquisadores citam que quatro espécies de peixe descobertas no período do estudo estão em áreas na Amazônia que podem ser liberadas para a mineração.

Segundo a ONG, apesar do relatório indicar um crescimento na taxa de descoberta de novas espécies, não dá para dizer que os problemas ambientais na região estão resolvidos.

Estudos da WWF também apontam que há uma queda do número de unidades de preservação na região — com uma tendência de crescimento da perda de status nos últimos anos.

“Hoje, estão sendo apresentadas ameaças muito fortes a áreas protegidas com uma visão de que, da noite para o dia, uma área que era protegida pode simplesmente não ser mais” , relata Mariana Napolitano, coordenadora do Programa de Ciências da WWF-Brasil.

A floresta amazônica não precisa ser desmatada para a expansão da produçao de alimentos, diz WWF (Foto: Mileniusz Spanowicz/WCS)

A floresta amazônica não precisa ser desmatada para a expansão da produçao de alimentos, diz WWF (Foto: Mileniusz Spanowicz/WCS)

‘Não precisa desmatar’

Um outro ponto discutido pela ONG é o avanço do desmatamento da região, que vem na esteira de iniciativas de exploração agropecuária. Dados apresentados pela organização, no entanto, explicam que, com planejamento, é possível expandir a produção de alimentos sem perdas florestais.

“Antes de pensar em expandir o desmatamento sobre a vegetação natural, há muitas áreas que poderiam expandir sua produção”, avalia Edegar Rosa, coordenador do Programa de Agricultura e Alimentos do WWF-Brasil.

Segundo a WWF, o Brasil aproveita apenas 32% das áreas de pastagem.

A ONG cita também que, dos 50 milhões de hectares já abertos para exploração agrícola na Amazônia, há a possibilidade de que 15 milhões sejam usados para a produção de soja sem desmatamento. Com isso, a produção de soja, que ocupa 4 milhões de hectares, hoje poderia ser expandida

“O Brasil tem uma oportunidade de mostrar para o mundo que consegue expandir sua produção de alimentos sem aumentar o desmatamento”, avalia Rosa.

Pássaro Poiaeiro-de-Chico Mendes foi registrado pela primeira vez em 2009, no sul do Amazonas (Foto: WWF/Divulgação)

Pássaro Poiaeiro-de-Chico Mendes foi registrado pela primeira vez em 2009, no sul do Amazonas (Foto: WWF/Divulgação)

Mudanças climáticas e Amazônia

A emissão de gases de efeito estufa que contribui para o aquecimento global também afeta a região Amazônica e sua biodiversidade, relata a WWF. Uma das questões silenciosas também relacionadas ao efeito estufa é, por exemplo, a capacidade da lantas de realizar fotossíntese.

“Isso não é muito comentado, mas a fotossíntese fica mais difícil a uma temperatura acima de 38 ºC”, explica André Nahur, coordenador do Programa do Clima e Energia da WWF-Brasil.

Também dados apresentados pela WWF mostram que o aquecimento global no sudeste da Amazônia vai aumentar em 80% a chance de intensificação da seca na região em 2100. Ainda, até esse mesmo ano, o leste da Amazônia pode sofrer uma redução de 20% na vazão dos rios.

Veja algumas das espécies encontradas:

Plantas

lanta Guatteria amapaenses – descoberta no Amapá na rodovia ‘Perimetral Norte’. Sem coordenadas.

Planta Heteropsis reticulata – descoberta no Acre, no município de Cruzeiro do Sul.

Solanum arenicola – É uma das quatro novas espécies da família Solanaceae descritas para a América do Sul. A espécie está relacionada ao grupo do tomate e batata.

Pássaros

Tolmomyias sucunduri – Pequenina ave que vive em pares, seu nome é originário do grego e significa “papa-moscas ousado do Sucunduri”. Sucunduri, no município de Apuí, Amazonas, Brasil, é a região onde foi encontrado.

Hypocnemis rondoni – Pequena ave com cores bem distintas, o nome do cantador-de-rondon foidado em homenagem ao antropólogo, explorador e indigenista brasileiro, Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.

O Tolmomyias sucunduri, nova espécie de pássaro (Foto: Fábio Schunck/WWF)

O Tolmomyias sucunduri, nova espécie de pássaro (Foto: Fábio Schunck/WWF)

Peixes

Laimosemion ubim – Foi encontrado na Amazônia Central na margem de um igarapé raso de terra firme e de água preta. Quando adulto, este peixe alcança cerca de 1,8 cm e exibe várias características reduzidas. Os machos apresentam um padrão único de coloração, com pontos vermelhos e azuis pálidos dispostos irregularmente no meio do flanco.

Potamotrygon limai – Arraia de água doce, a limai foi encontrada no estado brasileiro de Rondônia, no rio Jamari, bacia do alto rio Madeira, até então era confundida com outra do mesmo gênero.

Maratecoara gesmonei – Este peixe foi encontrado em uma poça temporária com cerca de 50 cm de profundidade em uma ilha fluvial no médio rio Xingu, estado do Pará, Brasil.

A nova espécie de peixe Potamotrygon limai (Foto: WWF)

A nova espécie de peixe Potamotrygon limai (Foto: WWF)

Mamíferos

Inia araguaiaensis – Essa nova espécie de boto só foi descrita recentemente, em 2014, graças à análise de carcaças encontradas em um lago da bacia do rio Araguaia.

Macaco zogue-zogue-rabo-de-fogo – Plecturocebus miltoni – Descoberto em dezembro de 2010, no noroeste do Mato Grosso, a publicação do artigo científico foi concluída em 2014. O nome “rabo de fogo” é inspirado na sua longa cauda avermelhada. Já a alcunha científica foi dada em homenagem ao cientista Milton Thiago de Mello, em reconhecimento a sua contribuição à primatologia.

Anfíbios

Pristimantis jamescameroni – Perereca de cor laranja, foi encontrada na venezuela.

Pristimantis imthurni – “Reluzente como ouro esse sapo foi descoberto em 2014 na região dos tepuis venezuelanos.

Tepuihyla obscura – Descrito em 2015 para a região do Pantepui, nos tepuis venezuelanos. Esta rã é de hábito noturno. Durante o dia é fácil encontrá-la nas bromélias.

Microcaecilia marvaleewakeae – é uma nova espécie de cobra-cega descrita em 2013 no Brasil. Esta espécie foi nomeada em homenagem ao professor Marvalee H. Wake, do Departamento de Biologia Integrativa da Universidade da Califórnia, Berkeley.

Scinax villasboasi – A espécie de perereca foi descrita em 2014 na Serra do Cachimbo, extremo leste da Floresta Amazônica, estado brasileiro do Pará, em um fragmento de área aberta em meio à floresta

Répteis

Epictia vanwallachi – Nova espécie endêmica das florestas secas do Peru, descrita em 2015, na região de “La libertad”.

Plica kathleenae – Lagarto corredor de tronco de árvores. Seu nome foi uma homenagem a Kathleen Kelly, pesquisadora da Divisão de Anfíbios e Répteis do Field Museum of Natural History por seu interesse e esforço em nome da herpetologia.

Anolis peruensis – No Peru, a um pouco mais de 2 km de distância do município de Esperanza, na província do Amazonas, foi localizada essa nova espécie de lagarto, descrita só em 2015.

Stenocercus albolineatus – Esse lagarto, descoberto em 2015, foi localizado no estado brasileiro do Mato Grosso e ocorre numa área que tem um grande planalto de arenito.

Rondonops xanthomystax – Espécie descoberta em 2015 na região do rio Abacaxis, no estado do Amazonas. Sua ocorrência se estende até o rio Tapajós, sudoeste do Pará, ambos no Brasil.

Epictia antoniogarciai – Cobra descoberta em 2015 na província de Jaén, no Peru. Da família de cobras cegas Leptotyphlopidae, esses animais possuem olhos rudimentares e passam a maior parte do tempo enterradas no solo ou embaixo de pedras.

Fonte: G1